Os últimos dias, especialmente domingo (25/8), foram marcados por centenas de incêndios simultâneos em diversas partes do Brasil, principalmente no estado de São Paulo. Há indícios de que as queimadas façam parte de uma ação criminosa coordenada, similar ao infame “Dia do Fogo”, em 10 de agosto de 2019, quando 470 propriedades rurais arderam ao mesmo tempo, no Pará. “Há uma forte suspeita de que está acontecendo de novo. Mas isso as investigações vão dizer”, afirmou a ministra do meio ambiente, Marina Silva.
O fato de as chamas terem se intensificado rápida e simultaneamente em dezenas de localidades, com mais de 3.600 focos registrados, levou Marina a suspeitar das causas. “Em São Paulo, não é natural que em poucos dias você tenha tantas frentes de incêndio envolvendo concomitantemente tantos municípios”, afirmou, em coletiva de imprensa.
A Polícia Federal já abriu 31 inquéritos para apurar o ocorrido, 29 deles na Amazônia e no Pantanal e 2 em São Paulo. Dois suspeitos foram presos. Segundo a ministra, a orientação do presidente Lula é trabalhar em conjunto com governadores e prefeitos para combater as chamas e identificar os responsáveis por esses crimes ambientais.
Marina lembrou que o governo federal criou há dois meses uma sala de situação, de onde acompanha em tempo real a estiagem e os incêndios em todo o país, em cooperação com órgãos como Ibama, ICMBio, Polícia Rodoviária Federal (PRF), Ministério da Defesa, Marinha e os Corpos de Bombeiros dos estados. “Nesse momento é uma verdadeira guerra contra o fogo e a criminalidade”, reforçou.
“Vai pegar fogo”
Em 15 de agosto, o pastor Silas Malafaia, um dos maiores militantes bolsonaristas, publicou um vídeo nas redes sociais onde dizia que o Brasil “vai pegar fogo”. Em 21 do mesmo mês, postou outro, afirmando que “vai ser quente demais”. No dia seguinte, os focos de incêndio começaram a aparecer pelo país, culminando na ação deste domingo.
Longe de parecerem coincidência, a sequência dos fatos leva a crer que há uma organização por trás das queimadas, que podem pretender o enfraquecimento do governo Lula e o fortalecimento de seu antecessor, Jair Bolsonaro, cujo ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, aproveitou da comoção pela pandemia de Covid para flexibilizar as leis ambientais e “passar a boiada”. A fala ainda ecoa como um prenúncio do desmonte ambiental promovido a partir daquele período, e tudo leva a crer que a atual onda de incêndios seja um reflexo dessas políticas.
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Grande prejuízo
O prejuízo para os produtores é imenso. Estima-se que os danos financeiros causados pelos incêndios só nas plantações de cana-de-açúcar de São Paulo possam chegar a R$ 350 milhões, com uma quebra de produtividade de até 60%. Mais de 59 mil hectares foram destruídos pelo fogo, comprometendo a capacidade de colheita e a qualidade da cana.
O presidente Lula já se pronunciou sobre o caso, afirmando que a PF investigará os incêndios e o governo federal trabalhará em conjunto com os estados para combatê-los. Nas redes sociais, foi enfático ao dizer que nenhum foco ocorreu por causas naturais.
“Em reunião no Ibama na tarde de hoje, ao lado da ministra Marina Silva, o presidente da entidade afirmou que não há, até agora, nenhum incêndio detectado por causas naturais. Significa que tem gente colocando fogo de maneira ilegal, uma vez que todos os estados do país ja estão avisados e proibiram uso de fogo de manejo. Já são cerca de 3 mil brigadistas em todo o Brasil trabalhando para combater os focos de fogo. A Polícia Federal vai investigar e o governo vai trabalhar com os estados no combate aos incêndios”, disse Lula, pela rede social X.
O presidente também anunciou que pretende participar da reunião semanal na Casa Civil, com a presença de mais de 20 ministros, para discutir a situação e articular medidas emergenciais.
A continuidade do trabalho coordenado entre as esferas federal e estadual será decisiva para reverter os danos causados e prevenir novos desastres. As investigações em curso precisam ser aprofundadas, e os culpados, punidos com rigor, para que o Brasil possa seguir adiante com um compromisso renovado pela preservação ambiental e pelo desenvolvimento sustentável. Nosso planeta é um só, cuidar dele não é opção, é obrigação.
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