O ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, avalia que o presidente Jair Bolsonaro cometeu uma série de crimes, tanto contra a democracia quanto contra a saúde pública. Para ele, tais crimes são suficientes para a abertura de um processo de impeachment pelo Congresso Nacional, que levaria ao afastamento definitivo do líder da extrema-direita. Ele avalia, contudo, que o país precisa ser convencido de que Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade.
“Nós só entramos com pedido de impeachment depois que o Bolsonaro cometeu um crime de responsabilidade previsto na Constituição, que não dá margem a duas interpretações”, lembrou, em entrevista à BBC Brasil. “Afrontar os poderes da República, afrontar a liberdade de expressão e de organização, são crimes de responsabilidade. Portanto, a partir dali, e faz bastante tempo, nós passamos a considerar o pedido de impeachment”.
Haddad saúda que outros líderes políticos estejam atentos e acordaram ao fato de o presidente atentar contra a Constituição. “Se as forças que elegeram Bolsonaro hoje estão arrependidas pelo que ele está fazendo com o país, isso só reforça o nosso diagnóstico original de que o Bolsonaro nunca teve condições, jamais teria condições de presidir a República”, afirma.
“O PSDB apoiou Bolsonaro, o PDT apoiou o Bolsonaro”, lembra Haddad. “Os três candidatos a governador que foram para o segundo turno do PSDB apoiaram o Bolsonaro no segundo turno”. Ele cita que outros três candidatos a governador que foram ao segundo turno pelo PDT do Ciro também apoiaram o candidato do PSL. “Se essas pessoas agora estão fazendo uma reflexão de que o caráter autoritário do governo impede a sua permanência, eu acho que nós temos que compreender e somar nesse momento”, aponta o ex-prefeito.
Ele condenou a maneira como Bolsonaro vem lidando com a crise sanitária, menosprezando recomendações de médicos e sanitaristas, estimulando aglomerações e violando o princípio do isolamento e distanciamentos sociais. “É um escândalo internacional que está afetando inclusive todo acompanhamento da pandemia, não só pela Organização Mundial da Saúde, mas por várias instituições de ensino e pesquisa que estão oferecendo o que têm de melhor em termos de conhecimento aos Estados nacionais”, disse.
O PT protocolou no dia 21 de maio um pedido de impedimento de Bolsonaro, um dos mais de 30 que aguardam análise do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.