Reconstrução do Brasil

Haddad: “Sou otimista. A dor é grande, mas temos um grande país a reconstruir”

À tvPT, Fernando Haddad diz que governo Bolsonaro chegará ao fim e que o Brasil retomará projeto de construção nacional
Haddad: “Sou otimista. A dor é grande, mas temos um grande país a reconstruir”

Ricardo Stuckert

“Estou muito mais otimista hoje. Acho que vamos encontrar um caminho. Sei que a dor ainda é muito grande, mas a gente tem de olhar para frente também. Olhar para os escombros deste governo é importante, o luto é importante — o luto de quem perdemos, o luto da ciência, da cultura, da Amazônia. Mas, além do luto, há as futuras gerações, para as quais temos de olhar também. Não podemos perder de vista que temos um grande país a reconstruir, e nossa gente é brava.” Foi com essas palavras de esperança e chamamento à luta que Fernando Haddad terminou a entrevista que concedeu ao jornalista Paulo Moreira Leite na tvPT, na última sexta-feira (16).

O otimismo de Haddad é impulsionado tanto pela retomada dos direitos políticos de Lula quanto pelas manifestações de rua contra Jair Bolsonaro que varrem o país e voltam a tomar as ruas no próximo dia 24. “Temos de colocar toda a força do mundo para conseguirmos arrancar do (presidente da Câmara) Arthur Lira, no mínimo, a votação do impeachment”, defendeu o ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo.

Para ele, mesmo que o impeachment não passe no Plenário da Câmara, uma votação será, no mínimo, pedagógica, porque mostrará à população como pensam os deputados. “Quem vai se omitir, quem vai votar a favor do Bolsonaro, quem vai votar contra. Na melhor das hipóteses, ele sai, mas na pior das hipóteses, muitos deputados bolsonaristas vão perder a eleição no ano que vem. E isso também será importante para o próximo governo”, disse.

Quanto ao cenário que se constrói hoje, com Lula candidato em 2022, Haddad enxerga como a possibilidade de o país contar, para sua reconstrução, com a pessoa mais gabaritada para conduzi-la. “Quando você está na situação em que o Brasil está, você escala o seu melhor craque. O Lula é a pessoa mais gabaritada. Ninguém tem a experiência dele para lidar com este momento. Hoje, o Brasil está precisando de uma pessoa com uma senhoridade a mais elevada possível. Essa pessoa é o Lula. Em outra situação, talvez ele nem se apresentasse. Ele está oferecendo a possibilidade de escalarmos a pessoa mais gabaritada que temos.”

Projeto nacional

Haddad lamentou que a elite nacional continue apoiando o governo destrutivo de Jair Bolsonaro. “O Bolsonaro ser hoje o presidente da República dá a dimensão da irresponsabilidade das classes dominantes deste país em relação ao seu futuro. (…) E deu no que deu: quatro vezes mais mortes por Covid-19 no Brasil do que na média mundial, proporcionalmente à população. Essas vidas perdidas são o tamanho da irresponsabilidade da classe dominante brasileira. É o retrato do que pensa a classe dominante em relação ao Brasil”, avaliou.

O ex-prefeito, contudo, frisou que, em nenhum momento da história, a consciência de uma nação se construiu a partir das classes dominantes e que, nos governos de Lula e Dilma, a base para essa construção foi formada, o que pode ser retomado. “Se você ler os bons livros de história e se perguntar quando a consciência nacional surge num país, você verá que nunca surgiu na elite econômica. A consciência nacional surge quando o pobre chega à universidade, quando o filho do mais humilde dos trabalhadores tem acesso aos níveis mais elevados da educação nacional. E você cria um ambiente em que o conceito de nação, o conceito de projeto, ele emerge pela força da diversidade. Este país nunca teve uma ideia de nação porque isso só aconteceu agora. Hoje, temos mais de 50% de negros dentre os estudantes de universidade federal. Isso vai fazer um projeto nacional acontecer. Hoje, 68% dos alunos nas universidades públicas são egressos da escola pública. Aí, você pode começar a pensar num projeto nacional.”

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