Há 30 anos, com Chico Mendes, nascia o extrativismo responsável da Amazônia

Há 30 anos, com Chico Mendes, nascia o extrativismo responsável da Amazônia

Chico Mendes: encontro em Brasília deu origem ao Conselho Nacional dos SeringueirosO ex-senador Aníbal Diniz escreve nesta semana sobre Chico Mendes, um dos maiores heróis da história de seu estado, o Acre. Morto a tiros numa emboscada há 27 anos, Chico Mendes hoje é reverenciado em todas as partes do mundo como maior defensor do manejo responsável de grandes parcelas da floresta amazônica.

Sua concepção das reservas extrativistas a serem exploradas por famílias de seringueiros, entretanto, era um obstáculo para grandes pecuaristas, especuladores imobiliários e grileiros. Em 22 de dezembro, aos 44 anos, foi morto a tiros. Foi-se o homem, ficou o mito. Ainda hoje, Chico Mendes inspira as novas gerações a seguir sua maior lição: não há ninguém melhor para defender a floresta do que as pessoas que vivem e trabalham nela.  

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Foi há 30 anos, na UnB! – Aníbal Diniz

No próximo dia 15 de outubro, o Núcleo de Estudos Amazônicos – NEAz da Universidade de Brasília – UnB realizará uma programação especial em comemoração aos 30 anos  do primeiro encontro nacional dos seringueiros , protagonizado pelo líder sindical e ambientalista Chico Mendes, entre os dias 11 e 17 de outubro de 1985 nas dependências da própria UNB.  Esses 30 anos de lutas e conquistas serão comemorados com muita troca de experiências, numa programação que terá início às 8 da manhã, com recepção e café, e segue com uma exposição das populações tradicionais e um vídeo sobre o primeiro encontro, ato solene e almoço. À tarde, uma roda de conversas sobre uma agenda de ensino, pesquisa e extensão para a Amazônia, com vários convidados que têm muito a contribuir nessa área.

O coordenador do NEAz, professor  Manoel Pereira de Andrade, que há décadas acompanha e contribui diretamente com o fortalecimento dos movimentos socioambientais no Acre e na Amazônia, tem feito um trabalho hercúleo para garantir a presença de pessoas que estavam na UnB 30 anos atrás e que continuam firmes na luta por justiça social, como Raimundo Mendes de Barros, Ângela Mendes, Júlio Barbosa, Gumercindo Rodrigues, Júlia Feitosa,  Marina Silva, Osmarino Amâncio, Toinho Alves, Binho Marques, Jorge Viana e tantas outras personalidades cujas presenças dariam enorme significado ao evento.

 É sempre bom lembrar que uma das principais decisões desse encontro foi a criação do Conselho Nacional dos Seringueiros, que passou a defender a bandeira das reservas extrativistas como algo viável para a Amazônia, diferentemente do modelo único de reforma agrária concebido e executado pelo INCRA até então, baseado em assentamentos em módulos que se transformaram em verdadeiros campos de concentração para milhares de famílias nos Projetos de Assentamento Dirigidos – PADs, espalhados por todos os estados da Amazônia, da mesma forma que acontecia em outras regiões.

Com a bandeira das reservas extrativistas, milhares de famílias puderam permanecer em suas colocações e se manterem em atividades tradicionais como a coleta da castanha, o corte da seringa, agricultura de subsistência e posteriormente o manejo florestal, sem causar dano ao meio ambiente. Aliás, foi Chico Mendes quem formulou a tese de que a melhor maneira de defender a floresta era defender a permanência do homem e da mulher da floresta em suas atividades tradicionais. Ninguém melhor que as pessoas que vivem e trabalham na floresta para defendê-la.  E ele estava certo! A história está aí a testemunhar!

Um dos mais importantes legados da luta dos povos da floresta, índios, seringueiros, ribeirinhos, cujo marco inicial foi o primeiro encontro nacional dos seringueiros na UnB, foi a conquista da demarcação de milhões de hectares em reservas extrativistas e áreas de proteção. Só para ter uma ideia do que isso significa, a Reserva Chico Mendes, administrada pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade – ICMBIO é formada pela junção de 46 seringais e tem a extensão de 930 mil hectares envolvendo territórios dos municípios de Rio Branco, Xapuri, Capixaba, Epitaciolândia, Brasiléia, Assis Brasil e Sena Madureira. Nessa reserva  vivem e trabalham cerca de 10 mil pessoas. Isso jamais teria sido cogitado no Brasil dos anos 80, se não tivesse havido os empates no Acre e os seringueiros liderados por Chico Mendes não tivessem levantado a voz e mostrado a força de sua organização em defesa da floresta. E o surgimento das reservas extrativistas possibilitou que políticas públicas para o extrativismo e para as pessoas que vivem de atividades florestais fossem criadas.

Exatamente por ter sido e continuar sendo uma luta vitoriosa, com efeitos benéficos para milhares de famílias e, principalmente, para as futuras gerações, o movimento dos povos da floresta que resultou no primeiro encontro nacional dos seringueiros e na criação do Conselho Nacional dos Seringueiros, hoje Conselho Nacional das Populações Extrativistas, merece toda honra, visibilidade e reconhecimento.

Sei que falta pouco tempo, mas seria de bom tamanho que o senador Jorge Viana, engenheiro florestal formado pela UnB que acompanhou os passos iniciais desse movimento  ainda como estudante, apresentasse um requerimento para uma sessão solene no plenário do Senado Federal em homenagem à luta, ao sacrifício e às conquistas, sociais e políticas, que tiveram como ponto de partida o primeiro encontro nacional dos seringueiros, 30 anos atrás!

Terei o maior prazer em acompanhar de perto as atividades que marcarão na UNB os 30 anos do primeiro encontro nacional dos seringueiros. Todos são convidados!

Aníbal Diniz, 52, jornalista, graduado em História pela UFAC, foi diretor de jornalismo da TV Gazeta (1990 – 1992) assessor da Prefeitura de Rio Branco na gestão Jorge Viana (1993 – 1996), assessor e secretário de comunicação do Governo do Acre nas administrações Jorge Viana e Binho Marques (1999 – 2010) e senador pelo PT- Acre (Dez/2010 – Jan/2015), atual assessor da Liderança do Governo no Congresso Nacional.

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