A Bancada do PT vai requerer a convocação do ministro-chefe da Casa Civil do governo Temer, Eliseu Padilha, para explicar ao Senado a exoneração de Fábio Medina Osório do cargo de advogado-geral da União. O ex-AGU caiu, na semana passada, após ter se “interessado demais” pelas investigações da Operação Lava Jato e teve a demissão anunciada por Padilha. O PT também quer a convocação da sucessora de Medina, Grace Mendonça, acusada de “fazer corpo mole” e não ter apresentado o dossiê referentes aos inquéritos que tramitavam no Supremo Tribunal Federal e que a AGU precisava ter em cópia.
Segundo Medina, Grace Mendonça usou a justificativa de que não conseguia encontrar um HD externo para copiar os arquivos. “Agora, ela foi agraciada com a chefia da Pasta. É um escárnio, é um menoscabo com a inteligência alheia, é uma história calhorda que precisa ser explicada, detalhadamente, neste Senado pelos agentes envolvidos”, afirmou o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), que anunciou ainda a intenção da Bancada de convidar Medina para falar à Comissão de Meio Ambiente, Fiscalização e Controle (CMA).
“Queremos que o ex-advogado-Geral da União venha reiterar aqui o que disse à imprensa: que Michel Temer quer abafar a Lava Jato porque tem medo dela”, registrou Humberto. A iniciativa do PT deverá ser em conjunto com outras bancadas.
Investigação e punição
Humberto considera essencial que Eliseu Padilha, “que está na cozinha de Temer” e é “uma espécie de alter ego” do presidente ilegítimo e precisa explicar por que exonerou um colega que, segundo o próprio demitido, estava fazendo a coisa certa. Já a nova ministra, da AGU, “a mesma que não conseguiu achar um HD externo no mercado, vai ter que dizer se foi presenteada com um cargo novo para deletar da pauta do governo qualquer investigação referente à Lava Jato”.
Em pronunciamento ao plenário nesta segunda-feira (12), o senador foi enfático: “Esses fatos precisam ser imediatamente explicados, e todos os envolvidos com prevaricação e obstrução à Justiça, punidos. São fatos extremamente graves”. O líder petista espera que o Ministério Público e a Polícia Federal abram os procedimentos cabíveis para apuração essa denúncia, já que o episódio “escancara o compromisso deste governo golpista com o encobrimento de malfeitos e com o empastelamento de operações anticorrupção, que é o caso da Lava Jato”.
Além das convocações de Padilha e Grace Mendonça e do convite a Medina, a Bancada do PT vai entrar com uma representação junto ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para que ele apure o comportamento do Chefe da Casa Civil e da nova chefe da Advocacia-Geral da União. “Tenho certeza de que ele [Janot] abrir a investigação”, afirmou Humberto Costa. “Afinal, ele mandou investigar se Lula, Dilma e José Eduardo Cardozo [ex-ministro da Justiça] com base na delação premiada de um criminoso confesso, que responde a várias acusações sobre corrupção. “Certamente o PGR não vai ignorar a denúncia de uma pessoa ilibada como p ex-chefe da AGU”.
Mexeu em casa de marimbondo
O advogado-geral da União Fábio Medina Osório foi exonerado por ordem do chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, na última sexta-feira (9). Segundo o demitido, sua queda se deve à intenção de investigar atos de corrupção — como é papel da AGU — com o objetivo de avaliar a reparação dos danos provocados ao erário público pelas irregularidades apuradas pela Operação Lava Jato. “Padilha, que é o grão-vizir de Michel Temer, tomou como um acinte e uma ameaça esse gesto do seu colega de ministério”, lembrou Humberto.
Medina Osório caiu atirando, e revelou que o governo Temer quer abafar a Lava Jato porque tem medo de ser engolido, engolfado pela operação. “Não sou eu que estou dizendo. Nem é um criminoso delator que está afirmando. É o ex-advogado-geral da União, ministro de primeira linha do Governo Temer, que disse com todas as letras: o Governo quer abafar a Lava Jato porque teme a operação”.
Reincidência
O líder petista lembrou que essa não é a primeira vez que integrantes e ex-integrantes do governo escancaram a intenção de Temer de empastelar a Lava Jato. Há alguns meses, um grampo flagrou um dos colaboradores mais próximos do presidente golpista, o ex-ministro Romero Jucá (PMDB-RR), dizendo que era necessário “estancar a sangria” das investigações. O “sincericídio” custou a Jucá o cargo de ministro do Planejamento.
“Agora, vem o advogado-geral da União é demitido sumariamente porque contrariou os interesses do Palácio do Planalto, que não pensa em outra coisa senão meter uma amarra na Polícia Federal, no Ministério Público e no Judiciário para proteger todos os aliados envolvidos, entre eles o próprio presidente da República, que todos sabemos estar sendo delatado nas colaborações premiadas em curso na operação. Então, cadê as panelas? Cadê a luta contra a corrupção que muitos diziam travar, marchando atrás de um pato amarelo, por um Brasil melhor?”, cobrou Humberto Costa.
Cyntia Campos
