Humberto cobra de Collor demora na votação do sigilo

Líder do PT interpela Fernando Collor para evitar que o presidente da Comissão de Relações Exteriores atrase ainda mais a aprovação da nova Lei de Acesso à Informação. Apesar de a matéria estar sob regime de urgência no plenário, Collor apresentou substitutivo na CRE.

Humberto cobra de Collor demora na votação do sigilo

Collor pretende debater PLC 41 na CRE, apesar do regime de urgência no plenário

anibal_com_suplicy_creO senador Humberto Costa (PT-PE) questionou nesta quinta-feira (15/09), o presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE), Fernando Collor (PTB-AL), sobre a tramitação do PLC 41/10, que trata do acesso público a documentos oficiais.

“Questiono qual será o encaminhamento. Existem especulações de que esse projeto não será mais votado esse ano por conta de um pedido de informações. Ficamos completamente “desbaratinados”, porque não há uma concordância com o que o Regimento Interno prescreve. Um projeto que está em regime de urgência e há um pedido de informação. Isso barra a tramitação mínima para essa discussão. Vim para obter uma informação sobre o que a Comissão pretende fazer”, disse o senador Humberto ao lembrar que o PLC 41 se encontra no Plenário da Casa, com regime de urgência (recurso que visa dar maior celeridade na aprovação da matéria, colocando-a para ser analisada em plenário) aprovado.

A reação de Humberto foi provocada pela informação, divulgada na noite desta quarta-feira (15/09), de que o senador Fernando Collor enviou, no início de setembro, requerimento ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, pedindo dados sobre documentos sigilosos relativos à pasta.

A manobra, com base no artigo 216 parágrafo 4, atrasa mais uma vez a aprovação da matéria, pois, de acordo com o Regimento Interno do Senado, a matéria só poderá seguir sua tramitação na Casa após a CRE obter as respostas do General José Elito Carvalho de Siqueira, ministro-chefe do GSI. Além disso, Collor pretende realizar na CRE debates sobre o atual texto do projeto que se encontra no plenário.

Quebra do regimento
Em três outras oportunidades, Collor conseguiu adiar a votação do PLC 41, quebrando as regras previstas no Regimento da Casa. Ele optou por apresentar um substituivo ao PLC 41 na própria CRE, enquanto a matéria já estava com regime de urgência no Plenário desde o dia 03/05. A segunda transgressão seu deu no rito do pedido de vistas. Em regra, quando um parlamentar solicita vistas a um projeto a fim de melhor estudá-lo, automaticamente ele deve constar na pauta de votações da semana seguinte. E, até o momento, não colocou o texto em pauta de votação. Collor também descumpriu o prazo de tramitação do projeto, que entrou na CRE no dia 25/04 e deveria ter sido analisado em 15 dias. 

Durante a reunião da CRE, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) informou que a bancada do partido pretende apresentar voto em separado para a questão do PLC 41 e lembrou que em toda sua carreira política, atuou em defesa da transparência.

Transparência
Humberto Costa também rebateu declaração de Collor sobre a participação da presidenta Dilma Rousseff na reunião das Organizações das Nações Unidas (ONU) no final do mês.

Ao contrário do que disse o senador alagoano, o governo brasileiro participará do fórum “Parceria por um Governo Transparente”, promovida pelo Brasil e os Estados Unidos. Em 20 de setembro, essa Parceria será lançada formalmente em Nova Iorque. Uma das recomendações dessa Parceria diz respeito ao acesso facilitado para o cidadão comum das informações públicas. Embora a nossa Constituição Federal assegure tal direito aos cidadãos brasileiros, o Brasil ainda carece de uma regulamentação moderna e ampla desse dispositivo constitucional. Dilma pretendia levar a aprovação da nova Lei de Acesso às Informações porque, além abrir o sigilo dos documentos oficiais do País – como os da época da ditadura -, ela dará mais transparência à gestão pública e ditará regras precisas e abrangentes sobre a obrigação do Estado de disponibilizar aos cidadãos, de forma descomplicada e ágil, as informações sobre a administração pública.

“A presidenta Dilma não gostaria de levar essa questão resolvida para a reunião da ONU, mas para o lançamento oficial de um fórum que é uma articulação internacional à qual vários países já aderiram. Obviamente, que não é apenas por essa razão que queremos a aprovação desse projeto.

O líder petista cobrou ainda a votação imediata do PLC 41 e, para que isto ocorra, Fernando Collor deve colocar em votação do seu substitutivo na comissão ou remetê-lo para apreciação no plenário da Casa conforme ofício já protocolado. “A CRE teve a oportunidade de apresentar um relatório, receber as emendas. O que nós estamos querendo, é que a Comissão vote e seu parecer possa ser objeto de apreciação do Plenário. Ou, que a Comissão se decida a remeter a Mesa Diretora, que colocou esse projeto em regime de urgência, possa votá-lo”, argumentou Humberto.

Debate
Durante a audiência desta quinta, Fernando Collor leu o seu pedido de informações e reclamou da falta de debate no Senado sobre o projeto, que sofreu alterações na Câmara dos Deputados. Porém, Humberto Costa alegou que, durante o período em que o PLC esteve no Senado, teve sim o debate devido em diversas comissões.

“Esse projeto já havia sido objeto de um amplo debate na Câmara e que envolveu a sociedade civil. Aqui no Senado também pudemos discutir na CCT, na CDH, ouvimos opiniões das mais diversas, de dentro e de fora do Governo. Foi possível se construir um posicionamento sobre essa questão. Esse é um tema que extrapola limites partidários, de governo e oposição. E, é um clamor da sociedade brasileira, um clamor de todos que defendem a transparência, a liberdade de expressão, o acesso aos documentos, para que a gente conheça não só a nossa história, mas, para que possamos em algum caso reescrevê-la”, avaliou o senador Humberto.

Rafael Noronha

Veja a argumentação do senador Humberto Costa

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