O senador Humberto Costa (PT-PE), relator do processo administrativo contra Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), no Conselho de Ética, disse, nesta terça-feira (15/05), que a presença de Demóstenes ao longo das investigações se deve ao que a polícia chama de “encontros fortuitos”, resultados das interceptações telefônicas. A afirmação foi feita após alegação da defesa do senador goiana de que teria sido investigado ilegalmente pela Polícia Federal.
O relator chegou a essa conclusão depois de ouvir por quase três horas, em sessão secreta, os delegados federais responsáveis pelas operações Vegas e Monte Carlo, Raul Alexandre Marques Souza e Matheus Mella Rodrigues. Essas operações investigaram o esquema de jogo ilegal em Goiás e revelaram o envolvimento do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com agentes públicos e privados. “Esta tentativa da defesa não vai ter sucesso. Não me parece claro que tenha havido intenção da Polícia Federal em investigar especificamente o senador. Pelo contrário, no momento em que fica evidente a participação de alguém com foro privilegiado, a investigação foi encaminhada ao Supremo”, afirmou Humberto Costa.
Humberto disse ainda que “pela colocação dos delegados”, ficou clara ação do senador na defesa de interesses de Cachoeira. Os depoimentos confirmam que o vínculo do contraventor com Demóstenes Torres “era muito mais que os de uma relação pessoal”, afirmou Humberto Costa.
“Os delegados reiteraram o que já haviam informado à CPMI: os contatos telefônicos tratavam muito mais da defesa de interesses e de negócios”. Humberto avalia que os depoimentos dos delegados “são desfavoráveis a Demóstenes”, mas prefere aguardar as demais oitivas—dos procuradores, de Cachoeira e do senador investigado— e analisar os documentos à disposição do Conselho, antes de construir um julgamento.
Para Humberto, Demóstenes Torres não utilizará o mesmo artifício de reivindicar acesso aos autos do processo, que corre em segredo de justiça, usado pelo contraventor Cachoeira, para adiar seu depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga a rede criminosa articulada por ele. Num recurso ao Supremo Tribunal Federal, a defesa conseguiu que o depoimento de Cachoeira ficasse condicionado ao acesso prévio a essas informações, o que levou à suspensão da oitiva, prevista para a manhã desta segunda-feira. O depoimento de Demóstenes está previsto para o final deste mês no Conselho de Ética.
O relator também não acredita que as investigações do Conselho possam ser prejudicadas, caso Cachoeira recuse-se a depor, com base nos mesmos argumentos já utilizados para não falar à CPI. “O silêncio dele não atrapalha em nada, já que aqui no Conselho ele é testemunha de defesa de Demóstenes”.
Ouça a íntegra da entrevista do senador Humberto Costa
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Cyntia Campos e Giselle Chassot
Foto externa Agência Senado
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