Depois de desaparecer por duas semanas do Senado e dos holofotes, isolado em algum ponto desconhecido, o candidato derrotado voltou à mídia em uma entrevista a um programa da GloboNews, neste domingo (30/12). Para o entrevistado, o eloquente derrotado afirmou que perdeu as eleições para uma organização criminosa, sem dizer qual. Faltou-lhe coragem, sobrou-lhe marquetagem para sustentar a afirmação.
Em discurso na tarde desta segunda-feira (1º), o líder do PT Humberto Costa (PT-PE) observou que esta não foi a primeira demonstração de contrariedade de Aécio Neves com o resultado das urnas. Aliás, desde o dia seguinte ao resultado ele se encontra inconformado com a realidade da derrota. Na tevê, perdeu o limite.
“Venho aqui nesta tribuna externar meu mais veemente repúdio a declarações infelizes que o senador Aécio Neves deu a um programa de televisão. É lamentável que o candidato derrotado nas eleições passadas não ter entendido que perdeu. Por não aceitar a derrota, continua perdendo e reduzindo sua estatura política a cada declaração desastrada que dá. É um fato inusitado que a derrota, o fracasso subiu à cabeça”, disse o líder.
Na semana passada, só para ilustrar o apego de Aécio às frases de efeito, o candidato derrotado depois de duas semanas de ausência compareceu à sessão do Congresso Nacional para votação dos vetos presidenciais. Não ficou mais de vinte minutos e, ao sair, foi instado a falar sobre a escolha de Dilma pelo nome de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. Mas o que disse Aécio para imprensa: disse que “Levy na Fazenda é como um quadro da CIA na KGB”.
Para Humberto Costa, é por essa e outras que o senador Aécio tem se sentido cada vez mais à vontade na sofrível interpretação do papel de vítima do processo eleitoral. Agora, quer reinventar a história ao negar que tenha perdido a disputa para Dilma e para a coligação de partidos políticos que apoiaram sua candidatura. “É uma infame ópera-bufa essa protagonizada pelo que chamo de candidato derrotado em exercício, onde sobejam atuações de péssimo gosto e para as quais há cada vez menos holofotes”, disse.
O líder observou em seu discurso que Aécio deveria honrar os votos de tantos brasileiros e não desperdiçar esse patrimônio político com uma cantilena estéril que a nada serve, a não ser à disseminação de um comportamento mimado incompatível com o espírito democrático. “A postura de um opositor é buscar o contraditório ideológico, é fazer o contraponto, é ser a antítese para que desse embate de ideias nasça algo construtivo. Não é ficar eternamente lamentando a derrota que sofreu. Chega, já estamos em dezembro”, afirmou.
Enquanto o candidato Aécio se aferra à suas frases de efeito, demonstrando que não aceita derrotas, a atitude que ele insiste em manter vai perdendo eco inclusive entre aliados e dentro de seu próprio partido.
Não faz nem um mês que o governador reeleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, em Nova York, nos Estados Unidos, esvaziou o discurso de Aécio repetido em prosa e verso de que a economia brasileira está beira do abismo. Alckmin disse que não. Não é isso que está acontecendo, pelo contrário.
O líder acredita que a oposição responsável pode contribuir decisivamente. “Nós do PT já fomos oposição e não há quem duvide de que participamos ativamente do amadurecimento da democracia brasileira com o que colaboramos quando estávamos do outro lado. Hoje no governo, nós estamos com os que agora estão na oposição para também trabalhar em favor do Brasil, travando um confronto político de alto nível, em torno de ideias e propostas, e não de veleidades e frivolidades que não enriquecem o debate e, antes de tudo, se prestam a diminuir o interesse nacional e a estrutura daqueles que com elas se envolvem”, salientou.
Em aparte, o senador Lindberg Farias (PT-RJ) disse que Aécio passou dos limites e anunciou que a Direção Nacional do PT vai fazer uma interpelação judicial pela declaração infeliz do candidato derrotado. “O PSDB já foi ao TSE questionar o resultado e essa movimentação por eles, de falar em impeachment de Dilma me faz recordar Carlos Lacerda contra Getúlio Vargas numa reedição da UD. Parece que eles e a oposição voltaram para a década de 50”, disse Lindberg.