Durante a última semana, o senador Demóstenes Torres (ex-DEM, sem partido) ocupou a tribuna do Senado com um único argumento: defender-se. A missão – impossível, diante da enxurrada de provas e indícios de suas relações com o contraventor Carlos Cachoeira – só oferecia uma alternativa: acusar os senadores Humberto Costa (PT-PE) e Pedro Taques (PDT-MT), respectivamente, relatores do processo contra ele no Conselho de Ética e na Comissão de Constituição e Justiça. Na primeira, foi proferido o parecer pela cassação de seu mandato; na segunda, foi avaliada a constitucionalidade e a juridiscidade do relatório de Humberto Costa – ambas aprovadas pelos senadores por unanimidade.
Sem saída, Demóstenes Torres não tinha outra saída, senão a de atacar os senadores relatores, principalmente Humberto Costa – a quem coube reunir as denúncias e escrever a sentença de cassação – e o fez com novas inverdades. Acusou Humberto Costa de parcialidade partidária, invocou cerceamento de defesa, inventou que a Polícia Federal inventou as degravações que todo o país conheceu pelos meios de comunicação, entre outras falácias.
Tráfico de influência, abuso de prerrogativas, recebimento de vantagens indevidas, mentiras ao Plenário. Ponto por ponto, o senador Humberto Costa (PT-PE) reafirmou as acusações contra Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) que já figuravam em seu relatório sobre o caso ao Conselho de Ética do Senado. “Os parlamentares julgam, mas quem condena é o passado de Vossa Excelência”, afirmou Humberto, dirigindo-se a Demóstenes.
Como relator de mérito do processo de cassação, coube a Humberto abrir os pronunciamentos na sessão da Casa que, nesta quarta-feira (11/07), está decidindo o futuro político do parlamentar goiano. “Não pretendo ser palmatória. Ao final desta sessão, não haverá aplausos nem vivas, mas a sensação do dever cumprido”, afirmou Humberto.
“A legislação brasileira não prevê o recall” – instrumento que permite ao eleitor cancelar um mandato que não esteja de acordo com a plataforma que elegeu o parlamentar—mas se os eleitores de Goiás soubessem das relações de Demóstenes com o contraventor Cachoeira, será que o teriam mandado para essa casa?”. Para Humberto, cabe ao Senado para além do “corporativismo e da comiseração”, representar a sociedade e cassar o mandato de Demóstenes.
Ao longo de dez dias, Humberto foi alvo freqüente de ataques de Demóstenes Torres, que ocupou a tribuna diariamente para tentar se defender das acusações que poderão lhe custar o mandato. Chamado de “ficcionista” pelo goiano, Humberto reagiu nesta quarta-feira: os fatos, as provas, os telefonemas gravados, tudo corrobora a ligação de Demóstenes com os negócios de Cachoeira, cujos interesses o senador tentou representar.
Humberto lembrou da pior das acusações: agindo em defesa de Cachoeira, Demóstenes pôs em risco a vida de policiais e procuradores, ao vazar para o contraventor a realização de uma operação da Polícia Federal contra o jogo do bicho. Lembrou a traficância do senador na Caixa Econômica Federal, Receita Federal, DNIT, ANVISA e mais uma infinidade de órgãos públicos, em favor do contraventor.
Humberto também destacou a incongruência das alegações de Demóstenes de que não teria conhecimento das atividades ilícitas do bicheiro, apesar de ter sido progurador em Goiás, secretário de segurança Pública e integrante da CPI do Bingos, que indiciou Cachoeira por seis crimes. “E que amigo é esse que sequer tem a curiosidade de perguntar qa razão desses indiciamentos?”.