Preso há quase 89 dias, o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do DF, Anderson Torres, está completamente envolto em escândalos cada vez mais difíceis de explicar. Parlamentares de extrema-direita, mesmo assim, insistem na libertação do bolsonarista. Mas, para o senador Humberto Costa (PT-PE), os colegas deveriam estar preocupados com outra coisa.
Em discurso ao plenário nesta quinta-feira (13), o parlamentar classificou os atos do dia 8 de janeiro como uma ação orquestrada para um golpe de Estado. Algo que o ex-ministro de Bolsonaro está envolvido e enrolado até o pescoço.
“Os que estão preocupados com o senhor Anderson Torres porque está preso por uma decisão judicial, deveriam pensar quantas pessoas estariam presas se aquele golpe tivesse dado certo. Quantas pessoas teriam sido torturadas no país se aquele golpe tivesse dado certo? Quantas pessoas teriam morrido se aquele golpe tivesse dado certo? É isso que o Brasil quer saber”, exclamou.
O senador petista listou uma série de ações de Torres que o colocam sob suspeita de atuação conivente com os atos terroristas.
“O homem que aparelhou a Polícia Federal para defender o presidente e pessoas da sua proximidade pessoal e política. Que saiu do governo para assumir a Secretaria de Segurança Pública do DF. E que a sua primeira ação foi pedir férias, indo para os Estados Unidos e encontrou-se lá com o ex-presidente da República. E tinha ele todas as informações do que estava se prevendo acontecer naquela data”, disse o parlamentar.
“Foi ele que afrouxou as ações da Polícia Militar em relação ao que aconteceu aqui. Não estamos falando de uma pessoa que não tem nada a ver com nada, mas alguém que é responsável direto pelo que aconteceu pela sua omissão. E que está respondendo dentro do processo legal devido, diferente do que outros praticaram nesse país em tempos recentemente passados”, acrescentou.
Além das suspeitas relatadas por Humberto, uma operação de busca e apreensão da PF encontrou uma minuta golpista na casa de Torres. O documento encontrado, em resumo, dava poderes a Bolsonaro para interferir na atuação do Tribunal Superior Eleitoral e impedir a posse de Lula, algo absolutamente inconstitucional.
Outra investigação enrolou mais ainda o fiel escudeiro do ex-presidente: o uso da máquina estatal para atrapalhar a votação dos eleitores de Lula no segundo turno. A apuração mostra que Torres esteve pessoalmente na superintendência da PF da Bahia que atuasse em conjunto com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) dias antes do segundo turno. A pauta seria interromper o fluxo de eleitores na região a fim de prejudicar o atual presidente.
Cultura do ódio
Humberto Costa ainda enquadrou senadores que criticaram a violência no país. Segundo o petista, eles deveriam questionar quem incentivou o aumento da barbárie no país.
“Exatamente o governo que antecedeu a gestão do presidente Lula. Por que aconteceu? Porque, ao longo desses quatro anos, aquele governo e seus apoiadores difundiram no Brasil a cultura do ódio, o discurso do enfrentamento contra os adversários”, explicou.
“O governo que não só pregou, como praticou o armamento da população. Criou centenas de clubes de tiro, dos chamados CACs. Permitiu que houvesse a venda acelerada de armas. E, acima de tudo, a pregação o tempo inteiro do ódio no nosso país”, acrescentou.
O parlamentar ainda disse não ter visto comentários sobre o papel das redes sociais sobre o tema, transformando “em heróis os assassinos sanguinários” que estão entrando nas escolas para matar crianças e professores.
É o caso do Twitter. Em reunião que contou com a presença do atual ministro da Justiça, Flávio Dino, representantes da empresa afirmaram que a existência de perfis ligados a ameaças e ataques em escolas não contraria os “termos de uso” da plataforma.
“Mas o governo do presidente Lula está dando respostas concretas. Primeiro, cobrando que esse tipo de incentivo ao ódio, à violência, seja retirado das postagens, assim como aconteceu nas eleições, em duas horas. Uma decisão firme, forte, que implicará, em caso de não retirada, em multa e até mesmo a suspensão das atividades dessas redes sociais”, explicou o parlamentar.