Humberto: o futebol pentacampeão não pode |
Ao registrar, do plenário do Senado, o trágico evento ocorrido em Pernambuco no final de semana, quando um torcedor lançou para fora do estádio do Arruda, em Recife, um vaso sanitário que acabou matando uma pessoa que passava pela calçada, o senador Humberto Costa (PE), líder do PT, fez um apelo pela paz nos estados do Brasil – mas cobrou uma resposta do Parlamento para uma resposta efetiva que também puna os torcedores violentos com a mesma severidade que afeta os clubes. O senador tomou como exemplo o caso dos torcedores do Corinthians, acusados de lançar um foguete que matou um adolescente na Bolívia. O clube foi castigado com uma partida de portões fechados e em competições da Confederação sul-americana de futebol, mas os torcedores, depois de libertados no país vizinho, voltaram a se envolver em novas arruaças e explosões de violência coletiva no Brasil. Para Humberto, a morte de Paulo Ricardo Gomes da Silva, assassinado no Recife por Everton Felipe Santiago de Santana, que admitiu o crime, durante a partida entre Santa Cruz e Paraná Clube, deve ser tomada como ponto de partida para a elaboração de leis mais severas contra a violência em eventos esportivos.
O perfil inicial traçado pela polícia sobre o acusado Everton Felipe Santiago de Santana, que se desculpa dizendo que não agiu sozinho, é comum aos brutamontes que invadem as arquibancadas dos estados brasileiros com o propósito de brigar e provocar a explosão da violência coletiva. Como outros implicados em confusões de outros estados brasileiros, Everton faz parte de uma torcida organizada já tinha passagem pela polícia por envolvimento em outros episódios de violência nos estádios.
Psiquiatra por formação, Humberto tenta entender as razões que levam um torcedor a abandonar o espírito de competição e partir para o ataque físico aos adversários. O senador diz que o ato de barbárie ocorrido em Pernambuco, que chocou os brasileiros, chamou a atenção “pela demonstração de intolerância, de negação do contraditório, de ódio ao oposto, de desrespeito ao diferente, com a qual nós brasileiros não podemos mais ser condescendentes”.
Ele apelou pela construção de um esforço conjunto dos brasileiros para que o País consiga mostrar que é um pais capaz de assumir responsabilidades. “Mais que isso: um país que é, também, mundialmente reconhecido pelo seu futebol, o único pentacampeão, não pode legar às suas gerações futuras, às suas crianças e aos seus jovens, uma herança de ódio, de intolerância e de violência nos estádios”, pediu.
Em aparte ao pronunciamento de Humberto, o senador Eduardo Suplicy (PT-PE), ressaltou a importância do esporte para a construção de um clima de confraternização entre pessoas, torcidas e povos. Ele lembrou o quanto esse esforço foi importante para unir um país que enfrentava sequelas do apartheid – a África do Sul e acabou unido, em parte, pelo esforço do então presidente Nelson Mandela para construir um clima de camaradagem no campeonato mundial de rugby (futebol americano) que o país sediou, em 1995.
Prejuízo para os clubes
Lembrando que o clima de confronto entre torcidas adversárias prejudica, além da própria sociedade, também os clubes de futebol, que são duramente atingidos pelas sanções aplicadas aos times, que são responsabilizados pela violência de seus torcedores fanáticos. Ele enumerou diversos casos de violência promovida por torcidas organizadas e até convênios firmados entre torcidas. “Na verdade, isso são quadrilhas que se unem e, enquanto isso não for enfrentado e essas pessoas punidas, não exterminaremos de fato a violência nos estádios”, disse.
”Uso aqui o exemplo do Santa Cruz, que por conta do ato insano, ocorrido na sexta-feira, já perdeu dois mandos de campo, terá que jogar com os portões fechados, pode perder mais 10 mandos de campo e ainda pagar uma multa de 100 mil reais”, relatou o líder, afirmando que, em algum momento, o Congresso terá que dar atenção ao tema.
Precisamos encontrar um meio termo entre responsabilizar severamente os envolvidos e evitar que a punição torne-se uma revanche e uma humilhação, que inviabilizem os clubes”, defendeu.
Giselle Chassot