Imagem de probo de Demóstenes Torres se desfaz a cada dia

 

A cada dia novas reportagens trazem à luz que a ligação estreita entre o senador e o contraventor Carlinhos Cachoeira, preso pela Operação Monte Carlo da Polícia Federal.

 

Imagem de probo de Demóstenes Torres se desfaz a cada dia

 

A principal voz da oposição está muda. A cada dia novas reportagens trazem à luz que a ligação estreita entre o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e o contraventor Carlinhos Cachoeira, preso pela Operação Monte Carlo da Polícia Federal, era bem maior do que a sociedade poderia esperar de um procurador integrante da carreira do Ministério Público e ex-secretário da Segurança Pública de Goiás. Gravação divulgada pela TV Record na noite de ontem apresenta o áudio de uma conversa na qual o senador dá sua orientação sobre a melhor forma de encaminhar um projeto de lei que pudesse regularizar os jogos ilegais explorados pelo bicheiro. E, ontem, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a quebra do sigilo bancário do senador dos dois últimos anos e ainda mandou levantar todas as emendas ao Orçamento oferecidas pelo senador.

Na edição de ontem do Jornal Nacional, da TV Globo, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), afirmou que “as denúncias são graves e o que nós temos aqui é que colocar em andamento as representações que forem feitas”, enquanto matéria do jornal Correio Braziliense traz a notícia de que o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado irá eleger um novo presidente até o dia 10 – o senador Jaime Campos (DEM-MT), presidente interino do colegiado, disse que não se sentirá confortável para julgar o colega de partido.

O Professor e o Doutor

Quando ocupou a tribuna do Senado, dia 6 de março passado, logo após a primeira denúncia veiculada pela mídia, Demóstenes Torres afirmou que não tinha qualquer relacionamento além de uma trivial amizade com o bicheiro. “O contato pessoal, ainda que frequente, não significa participação em seus afazeres ocultos, muito menos aprová-los quando eles vierem à luz”, afirmou. “Nesta casa, sempre me opus ao jogo, votando contra todas as iniciativas de legalizá-lo. Portanto, atuei às claras no combate às causas costumeiramente tratadas nos subterrâneos. Apesar do relacionamento de amizade, nunca tive negócios com Carlos Cachoeira”, afirmou naquela tarde antes de ser aparteado por mais de 40 senadores.

Não é bem assim. As reportagens do O Globo desta sexta-feira, do repórter Jailton Carvalho, e da TV Record, da repórter Cristina Lemos, trazem acusações ainda mais graves sobre a ação do parlamentar. As revelações em nada se parecem com a imagem de probo e impoluto que o senador construiu para se tornar – com o apoio da maior parte da mídia dominante – “o parlamentar que mais combate a corrupção no Brasil”, como afirma seu site no endereço http://www.demostenestorres.blogspot.com.br/. Este mesmo parlamentar, segundo as reportagens de hoje, ao mesmo tempo em que cobrava honestidade do governo, negociava com o bicheiro mudanças na legislação sobre jogos de azar (projeto de Lei 7.228/2002). Nas gravações exibidas, o “doutor” (Demóstenes Torres); garante ao “professor” (o bicheiro Carlinhos Cachoeira), que vai ajudá-lo para que o plenário da Câmara vote a proposta. “Vou levantar agora e depois te ligo”, diz Demóstenes. Em outro telefonema, coloca dúvidas sobre a estratégia do bicheiro para legalizar seus jogos eletrônicos de azar. “Eu peguei o texto ontem da lei para analisar. É aquela que transforma contravenção em crime. Que importância tem a aprovação disso?”, pergunta, e, em seguida, explica: “o projeto não regulamenta qualquer jogo que não tenha autorização. Inclusive te pega”, garante.

Em outra matéria, do repórter Vladimir Neto, no Jornal Nacional da TV Globo, Carlinhos Cachoeira trata com o administrador da organização criminosa o acerto de um pagamento pendente a Demóstenes no valor de R$ 1 milhão, de um total de R$ 2,3 milhões.

Para completar o conjunto de matérias, o Correio Braziliense afirma que amigos e seu advogado, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, têm recomendado a Demóstenes optar pela renúncia do mandato, caminho que retiraria de cena “o parlamentar que mais combate a corrupção no Brasil”. Ainda segundo a reportagem, o senador poderá voltar à tribuna da Casa nesta terça-feira (03/04) para novas explicações.

Marcello Antunes

 Foto de André Corrêa

 

 

Confira matéria do Jornal Nacional

Confira matéria da TV Record – R7


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