O mundo paralelo frequentado por Bolsonaro e sua claque festeja que o Brasil tenha saído de 9° para 6° país mais visado por investimentos externos em 2021. Mas, longe desse alardeio, o fato é que o país sequer conseguiu recuperar, no ano passado, os níveis de investimento externo registrados antes desse governo. Que dirá os verificados 10 anos atrás. Os dados, ano a ano, são compilados e apresentados pela Conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad).
Os números mostram que, sim, é verdade que alguns investimentos têm chegado, mas no caminho cruzaram com muitos outros, que se foram. Os que aportaram foram puxados pelas commodities, agrícolas e de minérios, que estão em alta mundo afora. Mas mesmo essa injeção externa, de US$ 50 bilhões em 2021, não foi capaz de recuperar o tanto que o Brasil perdeu a partir de 2019, quando Bolsonaro tomou posse. Muito menos o grau de investimento externo registrado em 2012. Na época, sob Dilma Rousseff, o país foi o 4° destino em investimentos no mundo, somando US$ 65 bilhões.
Fuga do líder mundial
Para piorar, sob Bolsonaro o país sofreu drástica redução de investimentos do maior fundo soberano do planeta. Fundo soberano é o que é movimentado por um país. No caso, o Fundo de Pensão do Governo da Noruega, resultante dos ganhos da indústria petrolífera do país, que investe em ativos de 69 países para garantir rendimentos que são a poupança das novas gerações norueguesas.
Pois no Brasil esses investimentos caíram US$ 3,69 bilhões – quase R$ 19 bilhões – entre 2019 e 2021, informou o jornalista Jamil Chade em coluna no UOL. E, antes que a propaganda bolsonarista alegue o de sempre, que o mundo todo sofreu com essas reduções, no caso norueguês aconteceu o contrário: o fundo ampliou seus investimentos internacionais, passando de US$ 1,1 trilhão em 2019 para US$ 1,4 trilhão ao final de 2021.
Problemas ambientais estão entre os principais motivos dessa baixa. Os administradores do fundo nórdico avaliaram, por exemplo, que a Vale foi responsável por “danos ambientais graves”, e excluíram a empresa de seus ativos. O mesmo aconteceu com a Eletrobrás, em razão de prejuízo causado a populações em áreas de usinas, no entender dos gestores. No balanço do atual governo, o investimento escandinavo, que somava 0,9% desse fundo gigantesco em 2019, caiu para 0,6% no ano seguinte e, em 2021, passou para 0,4%.
A deterioração da imagem brasileira no exterior está no centro dessas decisões, avalia o senador Jean Paul Prates (PT-RN), para quem esse revés já era esperado.
“Esses sinais já estavam sendo emitidos há alguns anos pelos investidores. É muito difícil para eles explicar aos seus acionistas e controladores os motivos pelos quais colocam dinheiro em um país que não dá nenhuma importância para a preservação do meio ambiente. Bolsonaro, deliberadamente, desarticulou as políticas e órgãos responsáveis por combater crimes ambientais ao fazer passar boiadas de decretos, MPs e projetos de lei que tornaram letra morta todas as conquistas que o Brasil teve neste setor desde a Eco-92!”, criticou o líder da Minoria no Senado.
Mais prejuízos bilaterais
Os maus tratos ao meio ambiente no Brasil também comprometem a assinatura de acordo de livre comércio entre União Europeia e Mercosul. Espera-se nova rodada de negociações até o final do ano, mas o comissariado europeu para o Meio Ambiente condiciona a assinatura do acordo à aprovação de carta compromisso para salvaguardar a floresta amazônica. Um dos pontos de discórdia é o projeto governista que permite mineração em terras indígenas no Brasil. Ou seja, pode-se dizer que o acordo também depende da eleição de outubro.
Em vez de negociar, o atual governo costuma criticar o possível parceiro. Nesse caso, auxiliares de Bolsonaro afirmaram que as condições impostas não passam de desculpa para o protecionismo comercial europeu. A postura agressiva no campo internacional, até autoritária, é outro motivo listado por Jean Paul Prates para o afastamento, do Brasil, de fundos de investimento comprometidos com a sustentabilidade.
“Bolsonaro é visto como um governante com tendências ditatoriais, já que vive pregando golpes e negando o sistema eleitoral, que é a base da democracia. O capital não gosta mais de ditadores! Ele hoje gosta de democracia e de um ambiente jurídico em que possa confiar no que vai acontecer no futuro e fazer valer contratos celebrados. Infelizmente para os brasileiros, Bolsonaro não inspira confiança nem aqui, nem lá fora, e isso está afastando investimentos que poderiam nos ajudar a sair mais rápido da crise. Tenho a certeza de que a eleição de Lula pode mudar esse panorama”, projetou o senador.