A Grande Assembleia dos Povos Kaiowá e Guarani (Aty Guasu, em Guarani), divulgou uma mensagem de agradecimento aos milhares de internautas que se mobilizaram em solidariedade aos integrantes da etnia, uma das mais ameaçadas por conflitos fundiários do país. “Guarani e Kaiowá sozinho pode ser exterminado sim, porém, temos certeza que com a solidariedade humana verdadeira e apoio valioso de todos senhores (as) podem nos salvar das diversas violências anunciadas contra nossas vidas e sobretudo evitar a extinção étnica”, postou a Aty Guasu em sua página no Facebook.
Desde o início da semana, a divulgação de uma “carta testamento” denunciando o cerco dos fazendeiros a 170 indígenas acampados na Terra Indígena Arroio Korá e afirmando a disposição do grupo de resistir no local gerou uma corrente de solidariedade na internet, mobilizando blogs e usuários das redes sociais. Muitos deles alteraram seus sobrenomes para Guarani-Kaiowá e adotaram fotos de indígenas nos seus perfis.
“Através desses gestos de amor a nossa vida, praticadas por vocês, nos trazem um pouquinhos de paz e esperança e espíritos de justiça verdadeira. Não sabemos com qual palavra a agradecer a todos (as), apenas te falar, JAVY’A PORÃ, paz em coração de vocês, muito obrigado.”, afirma a mensagem da Aty Guasu.
Demarcação travada no STF
A terra indígena de Arroio Korá, onde 170 pessoas da etnia Guarani Kaiowá resistem a uma ordem de despejo, no Mato Grosso do Sul, já teve a sua demarcação homologada desde dezembro de 2009, por decreto do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A área, porém, permanece como objeto de litígio em função de uma decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, que, na condição de presidente da Corte, suspendeu a eficácia do decreto presidencial, de demarcação de áreas indígenas, em favor de quatro fazendas, em janeiro de 2010.
Cansados da morosidade do STF, a comunidade decidiu ocupar a terra. Os fazendeiros, porém, obtiveram da Justiça Federal de Naviraí (MS) uma ordem de reintegração de posse. O despacho judicial ordenou a expulsão dos Guarani Kaiowá da área.
O Mato Grosso do Sul registra os mais altos índices de assassinatos de indígenas do país. Segundo o Cimi, nos últimos oito anos foram 250 índios foram mortos no estado, além de 190 tentativas de assassinato, 176 suicídios e 49 atropelamentos contra a etnia. Acossados por pistoleiros e fazendeiros, vivendo em reservas cada vez menores e sem perspectivas, os Guarani-Kaiowá também registram elevados índices de suicídios. Segundo o jornalista Bob Fernandes, foram 863, desde 1986, geralmente por enforcamento ou veneno. Os suicidas, em sua maioria, eram jovens entre 12 e 24 anos.
Grande Assembleia
A Aty Guasu (Grande Assembléia dos Povos Kaiowá e Guarani) é o mais importante evento social e político dos povos Guarani e Kaiowá. Acontece há mais de 30 anos, em Mato Grosso do Sul, e tem como objetivo colocar em pauta os problemas que atingem as comunidades indígenas da região. A partir da Aty Guasu as comunidades se organizam apoiadas nas diretrizes estabelecidas pelo Conselho, composto hoje por 20 pessoas, dentre elas, lideranças, professores e rezadores.
“A Aty Guasu é uma luta para conseguir o que a gente quer através da nossa organização. Faz parte da nossa história e da nossa vida. Representa o sangue e a alma dos índios. É nosso passado, nosso presente e será nosso futuro”, explica o representante da aldeia Potrero Guassu, Elpídio Pires. O último encontro da Aty Guasu, realizado no final de julho, reuniu representantes de 50 comunidades da etnia.
“Queremos sobreviver”
Na ocasião, eles aprovaram uma carta às autoridades na qual já denunciavam a “ameaça de morte coletiva indígena” na área do Arroio Korá, no município de Paranhos (MS). “Esses grupos de fazendeiros temidos são oriundos de um grupo de praticantes históricos de genocídio/etnocídios na região. Assim, de modo natural ou normal, eles pregam o extermínio dos povos indígenas e anunciam a morte coletiva guarani-kaiowá”, alertaram.
“Não temos armas de fogos (sic) e, sobretudo, nãos sabemos utilizar tais armas de fogos. Queremos repetir e evidenciar que a nossa luta pelos nossos territórios antigos é somente para garantir a vida humana, fauna e flora do Planeta Terra, nosso objetivo não é para assassinar a vida de ninguém. A nossa linha de luta pelos nossos territórios antigos é para buscar de bom viver possível e paz à vida dos seres humanos no Planeta Terra”, afirmava o documento. “Queremos sobreviver”.
Veja a íntegra da mensagem postada no Facebook:
“Nós Guarani e Kaiowá sobreviventes, que queremos muito sobreviver, vimos por meio desta simples mensagem prestar o nosso imenso agradecimento público para todos (as) cidadãos (as) do Brasil por ter inserido no seu nome e sobrenome Guarani e Kaiowá. Como é sabido, que Guarani e Kaiowá sozinho pode ser exterminado sim, porém, temos certeza que com a solidariedade humana verdadeira e apoio valioso de todos senhores (as) podem nos salvar das diversas violências anunciadas contra nossas vidas e sobretudo evitar a extinção étnica. Através desses gestos de amor a nossa vida, praticadas por vocês, nos trazem um pouquinhos de paz e esperança e espiritos de justiça verdadeira. Por fim, passamos a entender que existem neste Brasil cidadãos (as) movidos pelo amor verdadeiro ao próximo e tem sede de exigir e fazer justiça. Não sabemos com qual palavra a agradecer a todos (as), apenas te falar, JAVY’A PORÃ, paz em coração de vocês, muito obrigado”.