O setor naval, que chegou a empregar mais de 40 mil pessoas na década de 1980, passa por um dos momentos mais difíceis da sua história durante a gestão Michel Temer. Um exemplo do descaso é a decisão da Agência Nacional do Petróleo (ANP), nesta semana, de liberar a Petrobras e sócios no projeto de Libra, do pré-sal, para usar um número menor de componentes brasileiros em seu primeiro projeto na área.
O anúncio prejudicou a indústria naval brasileira, perfeitamente capaz de construir aqui tais peças – como casco de navio e queimadores, de acordo com o vice-presidente do Sindicato da Indústria de Construção e Reparo Naval (Sinaval). Tal decisão garantirá investimentos, mas para empresas no exterior.
Reduzir o compromisso de compras no País para a primeira grande plataforma em Libra – maior campo brasileiro de petróleo – se soma a um quadro crítico. Também nesta semana, o governo reduziu drasticamente os índices de produção nacional de componentes de médias de 55% e 65% para irrisórios 40% e 18%. O Sinval criticou a decisão e ameaça ir à Justiça, já que o compromisso com compras no País motivou investimentos em ampliação da capacidade produtiva.
Esses são apenas alguns dos retrocessos que garantiram demissões de milhares de trabalhadores do setor e dezenas de estaleiros completamente parados, no Brasil. O momento desalentador lembra o do período dos tucanos à frente da presidência da República (1995-2002), quando o setor naval do País quase foi extinto.
O cenário era bem diferente da euforia de até pouco tempo, iniciado desde a descoberta do pré-sal, na gestão Lula. Desde então, o governo financiava até 90% de projetos que aceitasse o maior percentual de conteúdo local nas embarcações. Isso garantiu à indústria naval brasileira ter acesso à boa parte de R$ 45 bilhões em investimentos liberados por bancos públicos.