A falta ou o alto custo de matéria prima foi o principal problema citado por 46,7% dos empresários entrevistados para o estudo ‘Desempenho Econômico da Indústria da Construção – primeiro trimestre de 2022’. O levantamento, divulgado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) nessa segunda-feira (25) revela, que ao alto custo dos insumos, que há sete trimestres consecutivos é o principal problema do setor, soma-se agora a preocupação com a taxa básica de juros (Selic) arbitrada pelo Banco Central (BC).
“A gente já convivia com problemas crônicos como a alta carga tributária e o aumento dos insumos, mas agora a elevação da taxa de juros também entrou no radar como um problema grande para o setor”, afirmou o presidente da CBIC, José Carlos Martins, na entrevista coletiva de apresentação dos resultados.
Os altos juros foram destacados por 26,7% dos entrevistados. A economista da entidade, Ieda Vasconcelos, disse que esse foi o maior patamar desde o segundo trimestre de 2017, quando chegou a 27,9%. “Em relação a março de 2021, que era 11,6 pontos, a alta foi de 15,10 pontos. Este foi o problema que apresentou o maior incremento, na comparação do primeiro trimestre de 2022 em relação a igual período do ano anterior.”
O indicador de preço médio dos insumos voltou a apresentar aumento no primeiro trimestre. O índice de evolução do preço médio dos insumos e matérias primas passou de 70 pontos, no quarto trimestre de 2021, para 75 pontos de janeiro a março de 2022. A alta é corroborada pelo Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) – Materiais e Equipamentos, que acumulou incremento de 51,21% de janeiro de 2020 a março de 2022. O INCC total registrou aumento de 26,31% no mesmo período.
A CBIC aumentou a expectativa de crescimento do PIB da construção de 2% para 2,5% em 2022. Isso, no entanto, não indica recuperação da atividade econômica. “Mesmo crescendo pelo segundo ano consecutivo, a marca segue distante do pico alcançado em 2013. Caso continue crescendo 2,5% ao ano, o setor recuperará as perdas dos anos anteriores somente em 2033”, ressaltou a economista da CBIC.
Apesar do crescimento de 9,7% em 2021, a construção civil perdeu participação no Produto Interno Bruto (PIB) nacional, chegando a 2,6%. “Crescemos tanto e a participação reduziu. Isso significa que o aumento dos insumos superou o aumento da produção”, lamentou Martins. “Isso prova os malefícios desses aumentos para a economia e para o mercado de trabalho, que poderiam ter gerado muito mais vagas não fossem essas altas. O aumento de insumos tirou a rentabilidade das empresas.”
Para o presidente da CBIC, a participação do PIB da construção está abaixo do seu potencial. “O espaço é grande e é preciso dobrar o PIB da construção para alavancar mais a economia. A construção civil continua sendo uma grande ferramenta de inclusão social, pois não existe programa social melhor no mundo que carteira assinada e emprego regularizado”, defendeu o dirigente patronal.
Governos do PT impulsionaram o setor e reduziram déficit habitacional
José Carlos Martins criticou ainda a falta de recursos para o programa Casa Verde e Amarela, criado por Jair Bolsonaro para destruir o bem-sucedido Programa Minha Casa, Minha Vida, dos governos do PT. “As famílias estão perdendo a capacidade de compra de imóveis por conta dos aumentos. Nos estados onde não houve resultado positivo foi por esta razão. O Casa Verde Amarela já chegou a representar 75% das vendas e agora em alguns estados está limitado a 40%”, destacou.
Durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, linhas de ação como construção de moradias, urbanização de favelas e emissão de títulos de propriedade reduziram o déficit habitacional e geraram milhões de empregos nas obras de novos empreendimentos. O aumento do crédito garantiu para todas as faixas de renda a aquisição da casa própria com os recursos do FGTS, no caso das famílias de menor renda, e do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo, no caso da classe média.