A chantagem do presidente da Câmara, Eduardo Cunha — que acatou um pedido de impeachment contra a presidenta Dilma como “vingança” pela perspectiva de perder o mandato por quebra de decoro parlamentar — foi criticada por representantes dos diversos setores do espectro político, inclusive por integrantes de seu próprio partido, como o líder da bancada do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), o deputado Jarbas Vasconcelos (PE) e o senador Roberto Requião (PR).
“Acho pessoalmente que ele se equivocou em aceitar o impeachment. Não vejo motivo jurídico para isso”, afirmou Picciani ao jornal Valor Econômico. Embora evitasse relacionar o acatamento do impeachment com a situação de Cunha no Conselho de Ética da Câmara, Picciani afirmou que “misturar esse tema com o conflito político é um equívoco enorme”.
“Chefe de quadrilha”
Pelo twitter, o senador Roberto Requião minimizou os riscos de ruptura da ordem democrática: “A oposição porra louca fez 99 votos na Câmara na meta. Portanto não há que se preocupar com impeachment”, afirmou, referindo-se aos votos alcançados pelos adversários da revisão da meta fiscal, realizada na tarde de ontem, em sessão do Congresso.
Também pelo twitter, o ex-ministro Ciro Gomes, apontado como candidato do PDT à presidência em 2018, foi fiel a seu estilo sem floreios: “Não aceitaremos que um chefe de quadrilha processado na justiça por corrupção leve o País à ruptura democrática. Não aceitaremos o golpe”.
“Chantagista cínico”
Já o deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), acerbo crítico do governo Dilma, reagiu chamando Cunha de “chantagista cínico”. Citado pelo site de notícias Brasil 247, Jarbas afirmou que “ele [Cunha] tentou chantagear a oposição, não conseguiu e partiu forte para cima do Governo e do PT querendo a mesma coisa e fracassou, portanto, o processo em voga é fruto do fracasso generalizado. Ele é um chantagista cínico. Não tem a menor condição de comandar um processo como esse. Ele está moralmente impossibilitado de continuar à frente do cargo porque, além de tudo as provas são muito robustas contra ele”.
“Muita gente morreu para conquistar a democracia”
No campo da esquerda, as manifestações mais contundentes vieram de parlamentares como Alice Portugal (PCdoB-Ba), Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Jean Wyllys (PSOL-RJ). Em vídeo divulgado nas redes sociais logo após o anúncio do acatamento do pedido de impeachment, Alice convocou os brasileiros a resistirem ao golpe, a reagirem contra a quebra do Estado Democrático de Direito. Para ela, a chantagem de Cunha é “um risco para a democracia que foi conquistada a duras penas. Muita gente morreu, muita gente ficou pelo caminho para construir essa nossa jovem e imperfeita democracia”, alertou.
Também por meio de um vídeo, Jandira Feghali apontou a incongruência de se ter “um corrupto comandando um processo de impeachment de uma presidenta honesta”. A deputada questionou “qual é a credibilidade desse cidadão para comandar um processo de impeachment e a qual a credibilidade de alguns da oposição que se aliam ao deputado Eduardo Cunha, vários deles denunciados ao STF por corrupção — na operação Lava Jato e em outros casos”.
Ela firmou a disposição e a firmeza do PCdoB para “enfrentar essa tentativa ridícula de tentar interromper o mandato da presidenta Dilma” que, ela avalia, não vaio prosperar por falta de fundamento e de apoio: “Cunha conta com alguns fascistas e com uma oposição desmoralizada. Nós vamos impedir que qualquer golpe, qualquer puxada de tapete, qualquer tentativa antidemocrática prevaleça na sociedade brasileira”, garantiu.
Jean Wyllys – Não contem comigo e nem com o PSOL para essa farsa“Não contem com o PSOL”
Em um longo texto no Facebook, o deputado Jean Wyllys foi ainda mais duro: “O senhor Eduardo Cosentino da Cunha acaba de entrar para a história política brasileira como uma das personalidades mais carecedoras de respeito que já pisaram o nosso parlamento”, afirmou. Wyllys, que estava no Panamá, em viagem oficial, fez questão de manifestar sua indignação com os rumos da chantagem armada por Cunha. “Estou extremamente indignado, como todo brasileiro e toda brasileira deveriam estar nesse momento, independentemente de sua opinião sobre o governo da presidenta Dilma Rousseff”.
Lembrando fazer parte da oposição de esquerda ao governo Dilma—que considera “ruim e cada vez mais afastado das expectativas e necessidades do povo que o elegeu” — Wyllys destacou que a presidenta “não está sendo acusada de qualquer crime e não há motivos constitucionais para sua remoção, gostemos ou não dela ou do seu governo. E aqueles que, como eu, não gostamos teremos a chance de oferecer ao país uma alternativa nas eleições de 2018. É assim que a democracia funciona”.
Para ele, o que Eduardo Cunha fez “chama-se chantagem” e garantiu: “Não contem comigo e nem com o PSOL para essa farsa!”.
A ex-deputada Luciana Genro, candidata do PSOL à presidência na última eleição, foi na mesma linha: “Esse pedido de impeachment, pra nós, é desprezível”, resumiu ela, em entrevista ao Brasil 247. “Nós não nos alinhamos com a oposição de direita. Nós queremos que o povo vá às ruas para lutar por mais direitos.”
Cyntia Campos