O Brasil caminha para fechar o ano com a maior participação já registrada no fluxo mundial de investimento estrangeiro direto (IED), em torno de 5,4%, e com cifras mensais que surpreenderam boa parte dos analistas e o próprio Banco Central. Apesar do desaquecimento global, mais de US$ 60 bilhões devem aportar no Brasil em 2011 sob essa forma de investimento, já descontadas as aplicações no exterior, garantindo o financiamento do déficit em transações correntes, previsto pelo BC em US$ 54 bilhões
Atrair investimento direto é desafio do Brasil em 2012
O Brasil enfrenta importante teste a partir de 2012. Enquanto as economias centrais patinam, será essencial convencer os investidores da capacidade doméstica de crescer para continuar atraindo níveis importantes de investimento estrangeiro direto (IED).
O país caminha para fechar este ano com a maior participação já registrada no fluxo global de IED, em torno de 5,4%, e com cifras mensais que surpreenderam boa parte dos analistas e o próprio Banco Central.
A despeito do desaquecimento global, mais de US$ 60 bilhões devem aportar no Brasil em 2011 sob essa forma de investimento, já descontadas as aplicações no exterior, garantindo o financiamento do déficit em transações correntes (previsto pelo BC em US$ 54 bilhões) com uma fonte de recursos de longo prazo e, portanto, menos volátil.
Além disso, a participação desses ingressos de IED no Brasil na formação bruta de capital fixo no segundo trimestre deste ano – último dado disponível- atingiu 16,1%, o maior patamar desde 2005, confirmando o destino produtivo desses recursos, segundo a Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet). O salto no volume de investimentos diretos levantou dúvidas quanto ao real destino dos recursos, já que o aumento coincidiu com a taxação sobre ingressos de curto prazo.
Dados da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) indicam que essa relação, considerando o fluxo de ingresso de IED, foi de 13% no ano passado e de 9,9% em 2009.
“A crise não afetou os investimentos que já estavam anunciados, mas os novos anúncios estão diminuindo. Neste ano, a situação é bem confortável, com uma “sobra” de IED na comparação com o déficit em conta corrente, mas essa diferença vai se fechar”, avalia Luís Afonso Lima, presidente da Sobeet e economista-chefe do grupo Telefônica no Brasil.
“Os anúncios de IED não devem voltar para o pico visto em abril deste ano”, acrescenta o especialista, lembrando que a defasagem entre os anúncios e a concretização dos investimentos é de pelo menos 12 meses. A Sobeet projeta US$ 50 bilhões em IED para o Brasil em 2012, considerando um crescimento de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) que pode não se concretizar. Para o déficit em conta corrente, a estimativa da entidade é de US$ 65 bilhões.
Mais otimista, Carlos Kawall, economista-chefe do Banco J.Safra e ex-secretário do Tesouro Nacional, acredita que 2012 será “desafiador”, mas não um problema para as contas externas do país. “O quadro para os países desenvolvidos será de três a cinco anos de crescimento bastante lento. Então, mesmo o Brasil crescendo apenas cerca de 3%, ainda será atrativo. Além disso, tem nossa agenda de jogos [Copa do Mundo e Olimpíada] no radar dos investidores”, argumenta.
Sua projeção é de investimentos estrangeiros diretos no país de robustos US$ 73 bilhões no ano que vem, quase empatando com um déficit em conta corrente de US$ 73,7 bilhões.
Kawall lembra que, pelo lado do mercado de capitais, a situação do balanço de pagamentos não será fácil, a exemplo do que já é visto neste ano. “Os IPOs [ofertas iniciais de ações, na sigla em inglês] praticamente pararam e as emissões de dívida, que normalmente retornam com força a partir de setembro, foram poucas. As linhas de comércio também estão mais difíceis – embora não haja um problema de disponibilidade, mas de custo”, cita. “O IED, por outro lado, continua vindo com números muito fortes e surpreendentes. Se a gente não tiver um cenário de ruptura, à la Lehman Brothers, isso deve continuar positivo.”
Também para o Itaú Unibanco a perspectiva de crescimento do Brasil, em confronto com a “década perdida” que os países desenvolvidos podem sofrer, será crucial para sustentar o fluxo de IED. “As decisões de investimento têm horizonte longo e, quem analisa o mundo numa perspectiva de longo prazo, avalia que as economias em desenvolvimento, principalmente as com situação político-econômica relativamente estável, vão continuar crescendo a taxas superiores que as economias centrais”, afirma Darwin Dib, economista do banco. “Ao mesmo tempo, investimentos que iriam para as economias centrais acabam vindo para países em desenvolvimento, já que não faz sentido ampliar investimentos em economias que estão com capacidade ociosa, e isso é visto não só para Brasil.”
Pesquisa da Unctad mostra que, pela primeira vez as quatro principais economias emergentes estão entre as cinco mais citadas como destinos atrativos de investimento estrangeiro direto no período de 2010 a 2012. O Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking, atrás apenas de China e Índia.
“O capital deve voltar a procurar os emergentes, se a crise não tomar as proporções de 2008/2009”, resume Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco WestLB no Brasil.
Com o avanço mais acentuado dos ingressos de IED no Brasil do que no resto do mundo, o país saltou da 15ª posição entre os principais destinos de IED em 2009 para a 5ª posição no ano passado. Segundo dados da Unctad compilados pela Sobeet, estavam à frente do Brasil apenas Estados Unidos, China, Hong Kong (tratada separadamente nas estatísticas) e Bélgica.
Os fluxos de IED para economias em desenvolvimento aumentaram 19,9% no ano passado, ante 6,4% de crescimento nas economias desenvolvidas.
Outro dado que mostra a importância crescente dos emergentes no fluxo global de IED é a desconcentração também na origem desses investimentos. Segundo a Sobeet, mantido o ritmo atual, em 2017 os países em desenvolvimento deverão ultrapassar as economias desenvolvidas como fontes de investimento estrangeiro direto.
Fonte: Valor Econômico