Desde as 21 horas da última quinta-feira (21), a fronteira do Brasil com a Venezuela está bloqueada por tempo indeterminado. Esse é mais um degrau na escalada de tensão entre dois países que, até recentemente mantinham relações pautadas na diplomacia.
O ex-ministro da Defesa e hoje senador Jaques Wagner (PT-BA) vem acompanhando com atenção a tensão na fronteira e manifesta preocupação com os possíveis desdobramentos da crise. “Espero que as autoridades brasileiras atuem com serenidade”, recomenda ele.
Estabilidade regional é compromisso
Wagner, que atualmente é membro da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, lembra aos atuais governantes os postulados da Estratégia Nacional de Defesa, aprovada pelo Congresso Nacional, que estabelece como princípio “contribuir para a estabilidade regional e para a manutenção da paz e da segurança internacionais”.
O senador ressalta a tradição da política externa brasileira, que sempre se pautou pela defesa da paz e da não-intervenção. “Esses princípios regem o nosso País nas relações internacionais desde o início da nossa República”.
Missões de paz, não de guerra
Exemplos não faltam. “Sempre atuamos em missões de paz e não de guerra”, recorda o senador petista. Foi assim no Haiti, no Líbano e no Iraque”, cita o senador.
Wagner lembrou o diplomata Sérgio Vieira de Mello, que ocupou o posto de Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, e “representava no mundo o espírito dos brasileiros de diálogo, busca de entendimentos e convivência harmoniosa entre diferentes”.
Mello, morto no Iraque em 2002, ainda hoje é uma referência como líder de missões de paz, como a empreendida no Timor Leste.
A crise na fronteira
Desde a posse de Bolsonaro na Presidência, o Brasil vem se inclinando perigosamente às pressões do governo norte-americano, que já manifestou a intenção de comandar uma intervenção militar na Venezuela, contando com a apoio do Brasil e da Colômbia.
Após secundar os EUA no apoio ao autoproclamado “presidente interino da Venezuela” Juan Guaidó — desconhecendo a eleição legítima do presidente Nicolás Maduro — o governo Bolsonaro embarcou na operação que supostamente levaria “ajuda humanitária” ao país vizinho, violando seu território.
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Brasil subordinado
O Brasil curvou-se e submeteu-se aos interesses do governo Trump, ao aceitar participar do falso confronto da “ajuda humanitária” com a Venezuela, avalia a ex-presidenta da República Dilma Rousseff, para quem a ação tem por objetivo principal o envio de tropas para as fronteiras venezuelanas.
“É uma ação deliberada e panejada, desde a indicação de um general de nossas Forças Armadas para integrar o Comando Sul do exército americano, órgão responsável por inúmeras intervenções militares”, alerta Dilma. “Estamos vivendo e iremos viver, nos próximos dias e até sábado [data limite imposta pelos EUA para a entrada da “ajuda humanitária”], um perigoso agravamento da crise”.
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Para a ex-presidenta, é inaceitável que o Brasil abaixa a cabeça e se submeta “ao interesse do governo americano em usufruir do petróleo venezuelano”, aceitando trazer um conflito armado para a América do Sul, uma região pacífica.
“Esta posição do governo Bolsanaro traz gravíssimas consequências, em caso de guerra. Em especial, a tragédia da perda de vidas humanas de cidadãos brasileiros, latino-americanos e americanos”, lamentou Dilma.
É o petróleo…
A presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), também alerta para os prejuízos que essa submissão aos interesses dos EUA trarão ao Brasil. Ela lembra o desastre das intervenções norte-americanas na Líbia, Síria e Iraque, hoje países devastados—sempre sob o pretexto humanitário, mas sempre em nome do petróleo.
A Venezuela é dona da maior reserva de petróleo do planeta. São mais de 300 bilhões de barris de petróleo, um estoque suficiente para suprir as necessidades dos EUA por 27 anos.
Cobrando explicações de Bolsonaro
A intenção do governo de Bolsonaro de aderir à aventura militar dos EUA contra a Venezuela precisa ser explicada ao Congresso Nacional, que já aprovou e reiterou uma Estratégia Nacional de Defesa baseada na preservação da paz e da segurança internacionais.
Para assegurar essas explicações, o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS) querem a presença dos ministros da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, e das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, em uma audiência na Câmara dos Deputados.
Na última quinta-feira eles protocolaram um requerimento com esse teor. Os ministros devem ser ouvidos em uma Comissão Geral, no plenário daquela Casa.
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