Foto: Ricardo Stuckert/PR
O novo governo Lula acaba de entrar no seu terceiro mês, mas a certeza da chegada de dias melhores por aqui parece ser um consenso na comunidade internacional. Aos poucos, a imagem arranhada e aquela posição de total isolamento que a gestão anterior colocou o nosso país, felizmente, estão ficando para trás. A vitória de Lula criou as condições necessárias para que nossas relações bilaterais sejam refundadas e para que grandes áreas de cooperação se descortinem.
Na verdade, esse sentimento de retorno do Brasil havia começado a se desenhar mesmo antes do início oficial desta caminhada. Em novembro passado, logo após o resultado das urnas, Lula aceitou o convite para participar da COP-27, a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, no Egito. Naquela ocasião, disse ao mundo em alto e bom som: “O Brasil voltou”. E fez questão de pontuar que o país estava pronto para se juntar novamente aos esforços para “a construção de um planeta mais saudável, de um mundo mais justo, capaz de acolher com dignidade a totalidade de seus habitantes, e não apenas uma minoria privilegiada”.
No mesmo sentido, em recente viagem aos EUA, ocasião em que tive a honra de acompanhá-lo, Lula aproveitou a agenda com Joe Biden para reafirmarem que o fortalecimento da democracia, o combate à desinformação, a promoção dos direitos humanos e o enfrentamento da crise climática figuram no centro da agenda das duas nações.
O encontro marcou também a entrada dos EUA no rol de financiadores do Fundo Amazônia, que após ficar congelado na gestão anterior, está plenamente reativado para receber investimentos com o objetivo de preservarmos a maior floresta tropical do mundo.
Com o propósito de definir novos rumos para nossa política externa, Lula deve cumprir pelo menos uma agenda internacional por mês. Seu próximo destino será a China, a nossa principal parceira comercial. Em abril, ele deve ir a Portugal, na sua primeira visita ao continente europeu depois de eleito. E no segundo semestre, em setembro, Lula estará de volta à Assembleia Geral da ONU para fazer o discurso de abertura do evento, prerrogativa dada ao Brasil desde 1947.
Lula deve ainda participar da próxima reunião do G7, que acontecerá na cidade de Hiroshima, no Japão, durante o mês de maio. O convite deve ser formalizado em breve e ele será o convidado de honra numa mesa de negociações composta pelos países mais industrializados do mundo: Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido.
Além disso, a partir de 1º de dezembro deste ano, o Brasil assume a presidência rotativa do G20, o principal grupo da governança econômica internacional e que reúne as maiores economias desenvolvidas e emergentes. Sem dúvida, uma oportunidade valiosa para que o Brasil consiga consolidar definitivamente seu protagonismo global.
Lula não tem deixado dúvidas de que a questão ambiental será tratada com máxima prioridade e que não medirá esforços para preparar o Brasil para ingressar na chamada 4ª Revolução Industrial, que estará totalmente baseada numa economia verde e numa indústria ecologicamente responsável. Desse modo, o novo governo não quer apenas conservar, mas desenvolver bases sustentáveis, com investimentos produtivos e inovadores. Para isso, é fundamental que o Brasil lidere a construção de um pacto ecológico que assente o desenvolvimento do país em novas formas de produção e consumo, capazes de gerar emprego, renda e bem-estar coletivo.
Essa liderança positiva do Brasil não se resume, porém, à agenda ambiental. No campo estratégico da integração regional, vital para a projeção dos interesses brasileiros no exterior, Lula reconstruiu as relações bilaterais com a Argentina, bastante enfraquecidas no governo anterior. Isso permitiu resgatar o protagonismo brasileiro no Mercosul, bloco que fora muito debilitado pelo descaso da administração passada. Ao mesmo tempo, o Brasil retomou instâncias estratégicas da integração regional soberana, como a Celac, a Unasul e a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA). Esta última é, por sinal, fundamental para articular os países amazônicos na defesa da floresta.
É notório que, mesmo em tão pouco tempo, já recuperamos o prestígio internacional que havíamos perdido nos últimos anos, mas queremos ir além. Queremos fazer com que a experiência do Brasil inspire outros países e contribua para a solução dos principais problemas mundiais. Hoje, além de ventos favoráveis, temos também a melhor liderança e a certeza de que estamos no caminho certo. A hora, portanto, é de caminhar.
Artigo originalmente publicado na revista Carta Capital
