Enquanto o mundo assiste o meio ambiente brasileiro sofrer um dos maiores ataques da história nas mãos do governo Bolsonaro, coube à Comissão de Meio Ambiente do Senado resistir, denunciar o desmonte do setor e apontar caminhos para o futuro. O senador Jaques Wagner (PT-BA) reconhece as dificuldades do grupo de trabalho no Congresso, especialmente no período mais agudo da pandemia de Covid-19, mas também os acertos da comissão em um ano que considera “produtivo”. Em entrevista ao programa Panorama das Comissões, que vai ao ar em janeiro na TV Senado, o senador fez um balanço de sua atuação frente à comissão e falou sobre a atuação criminosa de Bolsonaro contra o meio ambiente.
“O governo é parte do desmatamento”, confirmou Wagner. “Na verdade, é deplorável a postura, seja do presidente da República, seja do ex-ministro do Meio Ambiente, aquele que falou vamos passar a boiada enquanto o pessoal se preocupa com a Covid”, lamentou.
O governo federal é responsável, apontou o senador, pelo aumento do desmatamento na Amazônia em 13.235 km2, o que corresponde a um aumento de 22%. São 477 milhões de árvores cortadas, representando 565 árvores por hectare na bacia amazônica. Como bem sabem os participantes da COP 26, ocorrida recentemente na Escócia, o preço a pagar é alto: os desmandos provocaram redução do volume de água, o que contribui para agravar a crise hídrica e aumentar o efeito estufa.
“É muito triste o que está acontecendo na Amazônia com esse volume de desmatamento”, declarou Wagner. “O pior é que esse volume de desmatamento já era conhecido antes da COP 26 e foi escondido para só ser revelado depois [do encontro]”, apontou.
“Fomos para a reunião do clima em Glasgow, na Escócia. Eu estava lá com o presidente do Senado, e o número só saiu cinco a sete dias depois. Ou seja, o Brasil ficou com a credibilidade totalmente arranhada”, criticou o senador.
Fuga de investidores
Wagner comentou o efeito manada provocado pelo governo Bolsonaro, que trabalha para afugentar investimentos estrangeiros ao país na área de meio ambiente. “É muito triste, como brasileiro e presidente da Comissão de Meio Ambiente, chegar na COP e sentir a dificuldade que tive em conversar com grandes fundos de investimento para atrair ao Brasil para a geração de emprego, e as pessoas dizendo, acho muito difícil que os acionistas autorizem novos investimentos no Brasil enquanto perdurar essa política”, relatou o senador.
“O que aconteceu na COP não foi por acaso. Isso, infelizmente, foi provocado por uma postura do governo federal de quase dizer “liberou geral”, incentivando essa barbárie do aumento de 22% do desmatamento”, frisou.
Redução do orçamento
Além do desmatamento, o senador petista avaliou como grave a redução do orçamento do Ministério do Meio Ambiente. “O orçamento voltou a valores de 11 anos atrás, de 2010”, revelou. “Mesmo se ele dobrasse o valor ainda seria 50% do valor do último ano. Isso foi uma trama urdida com o governo federal como participante, que acabou desmontando a capacidade de fiscalização dos órgãos como o IBAMA, e o Instituto Chico Mendes”.
“Se o nº 1 do país dá uma palavra “dizendo vamos gerar emprego desmatando”, a imagem do Brasil está no chão”, concluiu Wagner.
Com assessoria do senador Jaques Wagner