O nome do coronel Jean Lawand Júnior se tornou nacionalmente conhecido após pedir um golpe de Estado em mensagens trocadas com Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. Os diálogos, revelados pela revista Veja, serão alvo da oitiva de Lawand na sessão desta terça-feira (27/6) da CPMI do Golpe, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga os atos terroristas de 8 de janeiro.
Flagrado no epicentro da tentativa de golpe em mensagens identificadas pela Polícia Federal no celular de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o coronel Jean Lawand Júnior é importante peça no plano montado por pessoas muito próximas ao ex-presidente para impedir Lula de tomar posse.
Condecorado por Bolsonaro em março de 2021, Lawand é um militar da ativa e do alto escalão das Forças Armadas que estava prestes a ser premiado pelo Exército Brasileiro com um cargo de representante nos Estados Unidos. Antes que isso acontecesse, porém, sua verdadeira face – a de um golpista e inimigo da democracia – acabou revelada.
“Cid, pelo amor de Deus, o homem tem que dar a ordem! Se a cúpula do Exército não está com ele, de divisão pra baixo está. Assessore e dê-lhe coragem. Pelo amor de Deus”, exasperou o coronel em mensagem de whatsapp enviada em 10 de dezembro. “Muita coisa acontecendo… passo a passo…”, respondeu Mauro Cid, confirmando que planos golpistas estavam mesmo em curso. Ao que Lawand reagiu: “Excelente”.
Oriundo da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), a mesma que Bolsonaro frequentou antes de ingressar na política, Lawand é ex-subchefe do Estado-Maior do Exército, onde ocupa o cargo de supervisor no Escritório de Projetos Estratégicos.
Muito mais que amenidades
A declaração dada à revista Veja de que Mauro Cid era um amigo e que conversavam sobre “amenidades’ se choca com o teor bombástico das mensagens trocadas entre eles no whatsapp desde a derrota de Bolsonaro até a posse de Lula, contidas no relatório da Polícia Federal.
“Cadê a ordem Cid? Pelo amor de Deus. Convença o 01 a salvar esse país. Abraço”, disse Lawand em mensagem de 7 de dezembro. Cid respondeu: “Estamos na luta”. Antes, em 1º de dezembro, Lawand registrou em longa mensagem diversos temores, entre eles uma possível prisão do ex-presidente.
“Cidão, pelo amor de Deus, cara. Ele dê a ordem, que o povo está com ele, cara. Se os caras não cumprirem, o problema é deles. Acaba o Exército Brasileiro se esses cara não cumprirem a ordem do… do comandante supremo. Como é que eu vou aceitar uma ordem de um general, que não recebeu, que não aceitou a ordem do comandante. Pelo amor de Deus, Cidão. Pelo amor de Deus, faz alguma coisa, cara. Convence ele a fazer. Ele não pode recuar agora. Ele não tem nada a perder. Ele vai ser preso. O Presidente vai ser preso. E pior, na Papuda, cara. Na Papuda, porque até isso aquele filho da puta quer tirar dos caras. O direito de ser preso é.. prisão especial com curso superior. Vai tirar, Cid. Temos que pensar, cara. Não podemos ser agora racional, não. E… emotivo. Tem que ser racional, cara, pelo amor de Deus”.
Mauro Cid revela dificuldades em executar o plano proposto por Lawand, não porque fosse antidemocrático, mas por Bolsonaro não confiar que o Alto Comando do Exército o apoiaria: “O PR (presidente da República) não pode dar uma ordem se ele não confia no ACE (Alto-Comando do Exército)”.