O senador Jean Paul Prates (PT-RN) criticou nesta sexta (13) o que considera uma desinformação da mídia em geral nas reportagens sobre o aumento dos combustíveis. Segundo ele, elas não explicam por que os valores são atrelados ao dólar se o Brasil é um país auto-suficiente em petróleo.
“As reportagens seguem sempre o mesmo script: anunciam o aumento, botam um consumidor sofrendo, um consultor dizendo que foi por causa da alta do petróleo [no mercado internacional] e finalizam sem explicar por que o Brasil auto-suficiente pratica preços em dólar”, reagiu Jean.
Para o senador, o consumidor brasileiro está pagando o preço de Rotterdam (Holanda) ou do Texas (Estados Unidos), acrescidos do frete e das despesas para colocar o produto à venda no mercado interno, “sendo que a vasta maioria do nosso consumo é abastecido por refinarias e campos nacionais”.
Segundo ele, enquanto importadores avançam cada vez mais sobre o mercado brasileiro, “o governo Bolsonaro ordena a Petrobras a deixar refinarias a ‘meia-bomba’, e as coloca à venda na xêpa da ressaca da pandemia, a preços subestimados, para ‘aumentar a competição e reduzir os preços’”.
Pressão inflacionária
O aumento de combustíveis e gás de cozinha é um dos principais responsáveis pelo assustador resultado da inflação em julho: aumento de 0,96%, o maior já registrado no mês desde 2002. Nos últimos 12 meses, a inflação beira os dois dígitos, com 8,99%, a maior alta em cinco anos.
Os dados, divulgados na terça (10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que o gás de cozinha subiu 4,17% no mês, após a Petrobrás aumentar pela 6ª vez este ano o preço do produto.
Levantamento do Dieese/FUP mostra que o preço do botijão acumula altas de 20,89% em 2021 e de 29,29% nos últimos 12 meses. O diesel, por sua vez, subiu 25,78% em 2021 e 36,35% desde julho do ano passado.
A gasolina foi o combustível que mais aumentou: 27,51% em 2021 e 39,65% nos últimos 12 meses. Já o preço da energia elétrica subiu 9,41% desde janeiro deste ano e 20,09% nos últimos 12 meses. É o preço que a população paga pelo desmonte de empresas públicas estratégicas como os Sistema Eletrobras e Petrobras.
Dolarização é política do golpe
A dolarização dos preços dos combustíveis foi adotada logo após o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, em 2016, com a política de preços paritários de importação (PPI), combatida desde então pelo PT, pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) e várias outras entidades.
A medida do então presidente da Petrobras Pedro Parente fez a estatal abrir mão de controlar diretamente os preços dos combustíveis, evitando pressões inflacionárias, para determiná-lo conforme as cotações do petróleo e do dólar no mercado internacional.
Atrelados ao dólar e ao mercado externo, os preços dos combustíveis flutuam para cima em sintonia com as altas internacionais, mas raramente são reduzidos quando ocorre baixa. Uma estimativa da American Automobile Association (AAA) aponta que a gasolina nos Estados Unidos pode alcançar um valor recorde nos próximos anos.
A Agência Internacional de Energia (IEA na sigla em inglês), também prevê que a demanda mundial por petróleo vai superar o nível pré-pandemia no fim de 2022, puxando os preços para cima, até porque a oferta de petróleo está reduzida.
No Brasil, a adição de outros combustíveis à mistura da gasolina e do diesel também eleva os preços. Acrescenta-se à gasolina, que sai pura da refinaria, o álcool anidro, na proporção de 27% para a gasolina comum e aditivada e 25% para a gasolina premium. Já o diesel sofre a adição de 12% de biodiesel.
Os custos são incorporados ao preço dos combustíveis que vai para as revendedoras, onde o valor final é definido com o custo de manutenção dos postos de gasolina e as margens de lucro das revendedoras.
O preço dos combustíveis é liberado na bomba — ou na revenda, no caso do gás de cozinha. Mas grande parte do que o consumidor desembolsa reflete o preço cobrado pela Petrobras na refinaria. Como num efeito bola de neve, alterações nos preços da Petrobras refletem-se nos demais componentes do preço até chegar ao custo final.
Segundo o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e de Lubrificantes do Distrito Federal (Sindicombustíveis-DF), desde novembro de 2020 a Petrobras promoveu 12 reajustes de preços nas refinarias, somando 65% de aumento. Além desses reajustes, no mesmo período o etanol anidro também sofreu elevação de 36%, devido à quebra de safra.
(Com informações da Agência PT de Notícias e da FUP)