Epidemia com resultado de morte, infração a medidas sanitárias preventivas, emprego irregular de verba pública, incitação ao crime, falsificação de documentos particulares, charlatanismo, prevaricação, crime contra a humanidade e crime de responsabilidade.
Essa é a coleção de crimes reunida por Jair Bolsonaro, de acordo com o relatório da CPI da Covid, que deverá ser votado na próxima terça-feira.
Já é uma vasta folha corrida, mas convém lembrar que ela se refere apenas ao comportamento do homem que deveria estar governando o país em relação à pandemia – rachadinhas, motociatas com dinheiro público e farta divulgação de “fake news” à guisa de “propaganda oficial, por exemplo, não entram neste cômputo.
Bolsonaro não é o único responsabilizado pela tragédia que vem devastando o Brasil – o relatório pede o indiciamento de 65 pessoas, entre elas três filhos do presidente – mas é inegável que é ele o principal agente das ações e omissões que mataram 600 mil brasileiros e brasileiras.
Mais do que “impeachment”, Bolsonaro merece cadeia. A correlação de forças no Congresso e as operações abafa promovidas pelas elites podem até impedir que essas providências se concretizem. Mas não vão evitar que esse personagem macabro e tosco se arraste até o final do mandato – e é mandato, apenas, porque não se pode chamar isso de governo – como um morto-vivo em franca decomposição. E isso não será bom para o Brasil.
Mas as lições ficam e precisam ser aprendidas. Muitos dos iludidos que cantaram o mantra do “se não for bom, a gente tira” já devem ter entendido que certas experiências, na política, podem resultar tão nefastas quanto as que foram conduzidas pelos aprendizes de Mengele com seus “kits Covid”.
Não existe caminho fácil para se construir e fortalecer uma nação. É uma trajetória feita de erros e acertos. É difícil apontar em nossa história um erro maior do que entregar o país a Bolsonaro e sua coleção de crimes. Mas isso vai passar.
Enquanto isso, é preciso comemorar as vitórias possíveis, cada passo adiante, cada conquista suada. Chegaremos ao outro lado do túnel com o compromisso de jamais esquecer o luto de agora e suas causas.
Que nunca mais este país sucumba ao ódio e à mentira.
Artigo originalmente publicado no Jornal do Brasil