Jorge Viana: imprensa quer assumir papel da oposição que fracassou

O senador Jorge Viana (PT-AC) deixou claro – e de antemão, para que não pairasse dúvidas – que uma verdadeira democracia não pode prescindir da imprensa livre. Mas, alertou é preciso saber separar a verdadeira atividade da imprensa com a de veículos poderosos que representam o capital e as elites mais abastadas para impor candidatos no período eleitoral. E também chamou a atenção para o fato de que, nas últimas eleições, desde que o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, conquistou a Presidência da República, o mesmo calendário se repete. “Desde 2002, sempre na reta final das campanhas eleitorais, a revista Veja tem se repetido”, registrou, no plenário do Senado, nesta terça-feira, referindo-se à não-entrevista de Marcos Valério da edição desta semana, que faz pesadas acusações contra Lula com base em supostas declarações de pessoas não identificadas”. “A verdadeira imprensa, que merece todo o respeito, jamais pode se descolar da veracidade das informações que publica”.

Para o senador petista, reportagens como a da edição da revista desta semana tem de ser vista como uma manobra eleitoreira:

“Neste final de semana, vimos uma reportagem que tenta trazer a figura do Presidente Lula para o debate das eleições municipais de 2012. Estou frisando, porque não tem nenhum sentido desprezarmos essa preliminar. Tem eleição e tem uma ação deliberada da elite brasileira contra o PT. Essa intolerância da elite brasileira com o PT está institucionalizada, é real. Eles jamais engoliram o fato de que Lula se elegeu presidente, reelegeu-se, apesar da intensa campanha midiática, e, ainda por cima, fez um segundo mandato melhor do que o primeiro”.

O senador lembrou que, embora Lula não seja mais presidente, é sumariamente atacado por parte da mídia como se ainda fosse chefe do Executivo. Ele recordou que a cada véspera de eleição, Lula volta ao centro do debate. “E agora o candidato Serra, afundando em sua candidatura, sendo o campeão de rejeição no Brasil e com queda nas pesquisas, recorre ao Presidente Fernando Henrique Cardoso para fazer um papel nada nobre na campanha eleitoral. Sua intenção de questionar a presidenta Dilma, que, prontamente respondeu – com uma nota firme, dura – e colocou claramente para o País que é inquestionável a lealdade dela ao projeto que está em curso no Brasil – que começou com o presidente Lula e do qual ela fez parte. Ela foi firme, e surpreendeu aqueles que contavam com algum vacilo dela para cumprir a sua missão de, mesmo depois, no poder, tentar desconstituir a imagem, a história do presidente Lula”

Para Jorge Viana, a “velha elite brasileira”, que não aceita os bons resultados dos governos populares agora insiste em influenciar o julgamento que acontece no Supremo Tribunal Federal. “Eles querem agora conduzir o julgamento da corte. Isso é um desserviço ao País”, protestou.

Outro desserviço, segundo ele, é a reportagem da revista, mais presa ao calendário eleitoral do que a intenção de trazer a verdade. Para ele, a publicação de supostas declarações de Marcos Valério, atribuídas a pessoas não identificadas, é sabotagem disfarçada. “A escora de uma boa democracia, a escora da verdadeira democracia, é a imprensa livre. Lamentavelmente, aqui no Brasil, uma parcela da imprensa, me parece, está comprometida em assumir um papel que a oposição fracassou em tentar assumir”, reclamou. E fez questão de deixar claro que assumir um lado numa disputa eleitoral é legítimo, mesmo para um órgão de imprensa. O problema, segundo ele, é tentar destruir deliberadamente a imagem de uma pessoa.

Jorge ainda afirmou que o PT não vai se prestar a esse jogo de tentar manipular a opinião pública. “A elite brasileira tem todo o direito de criticar, e setores da mídia podem não gostar do modelo petista de governar. Não tem problema. Só não vale golpe. Só não vale fazer matérias, só não vale montar esquemas para tentar destruir a história de um partido que tem muitos erros e falhas. Esses erros e falhas têm que ser assumidos por todos nós, corrigidos por todos nós, mas não podem ser traduzidos numa referência, como alguns estão querendo fazer, do que há de pior na história do Brasil”, afirmou.

O senador disse que gostaria muito de ouvir as declarações do próprio Marcos Valério sobre “a história que começou em 98 com o PSDB e o PFL. Passou por outros partidos que estão firmes na República e alcançou o PT”. “Se o Sr. Marcos Valério falar, gravar, contar a história, eu não tenho dúvida que vai ficar mais fácil para os Ministros do Supremo julgar sem cometer injustiça, mas eu não tenho nenhuma dúvida de que o nosso País ficará melhor porque a hipocrisia, o faz-de-conta vai ficar para trás e aqueles que tentam dar lição de moral, que moral nenhuma tem para nos dar lição de moral, vão ter que fazer explicações ao País porque criaram uma organização criminosa e agora tentam jogar a culpa no Partido dos Trabalhadores e tentam trazer o Presidente Lula para um debate do qual ele está muito distante pela vida, pelo que construiu nesse País”.

E terminou com um apelo: “Não confundam! É véspera de eleição, duas semanas para o dia da eleição, e essa ação de última hora, desesperada, por conta de disputa de São Paulo e de alguns outros espaços importantes para os nossos opositores, não pode ser usada como instrumento para danificar um dos maiores patrimônios da história desse País e maior patrimônio da história do meu Partido, que é o Presidente Lula”.

Giselle Chassot

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