O senador Jorge Viana (PT-AC) diz que a violência no Brasil virou uma epidemia e que o país apresenta números de uma guerra em pleno século 21 que não tem precedentes. Citando os números alarmantes do Atlas da Violência, divulgado nesta terça-feira, 5 de junho, pelo Ipea e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Viana cobrou do Congresso a coragem para enfrentar o tema da violência. “Nossa sociedade está doente, está se matando. Não é a pobreza que mata, é a intolerância, é o ilegal, é todo mundo querer ganhar vantagem, ser maior que o outro”, disse.
De acordo com os dados Ministério da Saúde, entre janeiro de 2001 e dezembro de 2015, foram assassinadas no Brasil 786.870 pessoas. E, em 2016, outras 62.517 pessoas foram mortas. Desde o início do século 21, foram 849,3 mil homicídios no país. “Lamentavelmente, apesar das tentativas de todos, igrejas, governos, Congresso, tudo o que foi tentado deu errado”, comentou o parlamentar. “O crime aumentou, a violência aumentou”.
“Os números que o Brasil agora conhece expressam apenas o sofrimento, a dor, o medo, o pavor que a população brasileira vive”, disse Jorge Viana, que chama de tragédia o que revelam as estatísticas. “Esses números de homicídios equivalem a 30 vezes o que ocorre nos 28 países da Europa”, ressaltou. Ele disse que apresentou ao menos 10 projetos que tratam do combate à violência e de mudanças no Código Penal. “Faço um apelo: vamos acender a luz vermelha, vamos parar o país, para discutir e socorrer a população, que está morrendo e pedindo socorro”, disse.
[blockquote align=”none” author=””]Viana advertiu que a epidemia do homicídio está disseminada em todos os estados brasileiros, mas os estados do Norte e Nordeste apresentam taxas ainda maiores. Pela primeira vez, o Brasil superou a taxa de 30 assassinatos para cada grupo de 100 mil habitantes. “A população está com medo e está morrendo, as famílias estão se desintegrando”, alertou. “Um homicídio acontece no país a cada dez minutos”.[/blockquote]
Ex-governador do Acre, ele lembrou que, ao assumir o cargo, a violência no estado era alarmante, estampada nas páginas policiais diariamente. “Era uma história de cadáver encontrado nas ruas, nas estradas, que chamavam – e aí é um termo pejorativo – de presunto”, recordou. Ele disse que as taxas de homicídio só caíram no estado na sequência porque houve empenho de todas as autoridades do estado e também do governo federal para enfrentar o problema.
“Tivemos a ajuda de todos, do Ministério Público Federal até o presidente Fernando Henrique Cardoso e o Supremo Tribunal Federal”, disse. “O que estamos vendo hoje é, talvez, a necessidade de fazermos aquilo que conseguimos fazer, graças a Deus, quando estávamos no governo do Acre”. Viana diz que a situação hoje está fora do controle. “Estamos vivendo uma guerra e ela tem de ser declarada”, advertiu.
O senador lembrou que, em outubro, o governador Tião Viana discutiu o problema do crime organizado e da violência urbana num encontro com governadores. “Deveríamos parar este país, como os caminhoneiros pararam, mas não é para discutir o preço do diesel, é para discutir se a gente vai aceitar essa guerra, seguir em frente. Quanto custa uma vida?”, questionou.
Viana apontou que nem mesmo as guerras no Iraque, na Síria e o terrorismo mataram mais do que a violência urbana no Brasil desde o início do século. “E tem gente que acha que a solução é distribuir armas para o povo”, exclamou. Ele diz que passou da hora das autoridades do país discutirem o assunto. “Vamos parar o Congresso, parar o Supremo, parar o Executivo, fazer um encontro e dizer: Quanto custa combater o crime organizado, os bandidos? Quanto custa a gente começar a trabalhar, todo mundo junto, para trazer a paz de volta para o nosso povo?”, questionou.