Rocha: processo midiático violenta o legado de Lula e tenta demolir imagem de DilmaNo encerramento da sessão do Senado da última quarta-feira (23), o líder do PT, Paulo Rocha, falou da tribuna sobre a crescente repercussão que a tentativa de golpe contra a presidenta Dilma Rousseff vem alcançando no exterior. O líder chamou atenção para as manifestações de apreensão diante da tentativa de quebra da ordem de direito por meio de um processo de impeachment que não o que reza a Constituição: o comprovação e a condenação de que houve crime de responsabilidade por parte da presidenta.
“Representantes de vários órgãos e instituições internacionais vêm se manifestando contra o golpe e os arbítrios cometidos contra o Estado democrático de direito e os direitos e garantias fundamentais”, registrou o senador, pontuando várias das manifestações de apreensão vinda do exterior de que a democracia seja violada no Brasil. Apontou, por exemplo, a nota oficial divulgada pelo diretor-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luís Almagro, pedindo respeito para que “o mandato de Dilma Rousseff seja assegurado” e, numa clara advertência aos juízes de primeira instância no Brasil, como é o caso de Sergio Moro, responsável pelo inquérito da operação Lava Jato, frisou que “nenhum juiz está acima da lei”.
Dando um exemplo de como a ameaça do golpe no Brasil preocupa várias correntes ideológicas, Paulo Rocha ainda lembrou a advertência feita pela chanceler argentina, Susana Maocorra, do governo conservador de Maurício Macri, de que o Mercosul pode usar da cláusula democrática do Protocolo de Ushuaia caso haja rompimento de ordem constitucional no Brasil. Por esse protocolo, que trata do compromisso democrático dos países que integram o principal bloco econômico da América do Sul, a quebra da democracia em qualquer um dos países pode resultar na suspensão do direito de continuar participando das decisões do bloco.
Outra manifestação de preocupação veio de Ernesto Samper, Secretário Geral da Unasul, a União de Nações Sul-Americanas, que apontou a participação de algumas das maiores empresas de mídia do Brasil como patrocinadoras do golpe, por meio de um noticiário que escamoteia e censura a inclusão de políticos que apoiam o golpe em listas de corrupção. Sampre fez menção direta ao ex-presidente Lula como vítima dessa ação, afirmando que “Lula goza de toda a minha confiança, mas sofre, infelizmente, uma perseguição midiática em seu próprio País.”
Não menos importante foi a reação da Cepal, também lembrada no pronunciamento de Paulo Rocha. “A própria Cepal, organização especializada da ONU, através da sua Diretora Alicia Bárcena, se pronunciou ontem, declarando que ‘Dilma sofre julgamento sem provas e ataque midiático”. Citou, lendo o trecho da carta oficial da organização em que se diz que “A soberania popular, a única fonte de legitimidade em uma democracia, elegeu Lula antes e depois a Presidente Dilma Rousseff, em mandato constitucional que resultou em governos comprometidos com justiça e igualdade. Nunca na história do Brasil, tantos e tantos de seus compatriotas tinham conseguido superar a fome, a pobreza e a desigualdade. Significativo é, para nós, o marco decisivo com o qual reforçou a nova arquitetura da integração da nossa região, da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) e da Unasul”.
A reação contra a tentativa de desmoralização do ex-presidente Lula por meio da mídia dominante, registrou ainda o líder do PT, alcançou também ex-presidentes e primeiros-ministros de vários países latino-americanos e europeus. “Ex-chefes de Estado e de governo de diversos países da Europa e da América Latina também publicaram uma declaração de apoio ao ex-presidente. Entre os 14 primeiros signatários estão José Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai; Cristina Kírchner, ex-presidenta da Argentina e Felipe González, ex-presidente de governo da Espanha. Firmaram também a declaração, entre vários outros ex-mandatários, Massímo d’Alema, da Itália, José Miguel Insulza, da OEA e Ricardo Lagos, do Chile.
Assim como organizações multilaterias e ex-chefes de estado, vários dos maiores veículos de imprensa do mundo, como a revista alemã Der Spiegel e o jornal norte-americano The New York Times também já se manifestaram contra o golpe.
“Disse o conservador jornal dos EUA, em editorial recente”, sublinhou Paulo Rocha, “que não há motivo para a deposição de Dilma Rousseff” e que, “mesmo que não houvesse confirmação formal ou possível golpe, o mal-estar diplomático seria duradouro”.
“O mais importante é ter convicção de que se trata, de que se está do lado certo”, enfatizou o senador. “O decisivo não é o julgamento conjuntural da mídia venal e dos cultores do ódio; é o julgamento da história, que, no longo prazo, condenará implacavelmente os que se colocaram contra a democracia”.
A oposição firme do PT à armação de golpe contra a democracia, frisou Rocha, não significa que o partido seja contra as investigações sobre crimes de corrupção. Pelo contrário. “Sabemos dos esforços dos tribunais para perseguir e punir a cultura de práticas de corrupção que têm sido historicamente a parte mais opaca da ligação entre os interesses privados e instituições do Estado”, registrou o senador. “Vimos apoiando permanentemente esta tarefa com coragem e honestidade, apoiando a criação de nova legislação e exigindo mais fortes instituições de controle”.
“É por isso que nos violenta hoje”, disse ainda, “que sem julgamento ou evidência, usando vazamentos e uma ofensiva de mídia que já emitiu convicção, se tente demolir sua imagem e legado, enquanto os esforços são multiplicados por minar a autoridade presidencial e encerrar o mandato conferido aos cidadãos nas urnas”.