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Foto: Banco Central
O governo e a mídia mais uma vez distorcem dados econômicos, com a intenção de projetar um cenário róseo sobre a suposta recuperação econômica que não veio.
Agora, alardeiam que a taxa de juros Selic atingiu seu mais baixo patamar da história, pois, em termos nominais, tal taxa está em 7%, com a última decisão do Copom.
Ora, esse “recorde” refere-se à taxa de juros nominal, que não tem influência concreta maior sobre a economia e sobre decisão de realizar ou não investimentos. Pode-se ter uma taxa nominal de juros de 20%, mas se a inflação anualizada for de 22 %, isso significa que a taxa real de juros está negativa. Não há remuneração real para os investidores.
Assim, a taxa que tem efeitos concretos e decisivos sobre a economia é a taxa real de juros, isto é, a taxa nominal de juros descontada a inflação.
Neste caso, a taxa real de juros de juros do Brasil de hoje, mesmo com seu nível nominal baixo, ainda está muito alta. Com efeito, como a inflação dos últimos doze meses (dados de outubro) está em 2,7%, isso significa que a taxa real de juros é 4,3%, um patamar ainda muito elevado. Muito mais elevada que a taxa de juros real obtida ao final de 2012, no governo de Dilma Rousseff.
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Na realidade, os dados da evolução recente das taxas de juros reais revelam que elas sofreram um aumento substancial em 2016 e início de 2017, tendo atingido um pico de 7,68%, em fevereiro de 2017.
Elas só começam a cair de novo, de modo expressivo, neste segundo semestre. Mesmo assim, tais taxas continuam acima do que estavam no início de 2016, como se demonstra no gráfico a continuação, e muito além dos níveis mais baixos atingidos em 2012 e 2013.
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Saliente-se que os juros pagos pelo cidadão comum continuam em patamares estratosféricos, totalmente absurdos. Assim, os juros do cartão de crédito estão em 337,94% ao ano, os do cheque especial em 323,73% ao ano e os do crédito pessoal não consignado em 131,94% ao ano. Mesmo o crédito pessoal consignado para o setor privado está em escorchantes 40% ao ano. Um cenário surreal, que não existe em nenhum país civilizado do mundo. São juros que não são cobrados nem pela Máfia.
Ademais, na comparação internacional, o Brasil continua a ter uma das maiores taxas de juros reais do mundo.
Na projeção recente (dezembro), feita pela consultoria Infinity Asset Management, que leva em consideração a inflação projetada para o próximo ano (ex-ante), não a inflação passada (ex-post), o Brasil aparece no 4 º lugar no mundo, em termos de taxas de juros reais, praticamente empatado com a Argentina, que está em terceiro lugar.
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Portanto, assim como não se deve comemorar o ridículo PIB de 0,1% do terceiro trimestre, não se deve também comemorar uma taxa de juros real que nos coloca entre os países que têm o dinheiro mais caro do mundo. Juros que esterilizam investimentos produtivos e impedem nosso desenvolvimento.
E o governo e a mídia têm de parar de distorcer a realidade. Pega mal, mesmo para um governo sem nenhuma legitimidade.