O caos político, social e sanitário que o Brasil vive na atualidade teve participação direta da Operação Lava Jato, que foi vendida como a maior operação anticorrupção do mundo mas que se tornou o maior escândalo judicial da história do Brasil. Essa é a tônica do artigo publicado nesta terça-feira (9) no jornal The New York Times. Assinado por Gaspard Estrada, diretor-executivo do Observatório Político da América Latina e do Caribe (Opalc) da Universidade Sciences Po (Instituto de Estudos Políticos), de Paris, o texto, publicado em espanhol, escancara o submundo da famosa operação e seus protagonistas revelado parcialmente pelo The Intercept Brasil em parceria com outros veículos de imprensa, a “Vaza Jato”.
“Até agora, apenas 10 por cento dos 7 terabytes foram analisados, com o que se espera que continuem a aparecer falhas e ilegalidades na operação. Mas mesmo com esse pequeno percentual revisado, os diálogos confirmam que essa operação perverteu a justiça, violou o estado de direito no Brasil e foi fator fundamental na construção da distopia que o país vive, com uma crise política exacerbada e com o segundo lugar mundial de mais mortes pela pandemia”, diz trecho do artigo.
Violação de princípio
E o pouco que se sabe conversas, segundo o autor, é suficiente para confirmar que o ex-juiz federal e ex-ministro da Justiça Sergio Moro havia condenado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a ‘atos indeterminados’ em acusações duvidosas. E que o próprio Moro dirigiu a construção da acusação contra o ex-presidente, violando o princípio jurídico de não ser juiz e parte ao mesmo tempo”, afirma, em outro trecho.
Estrada conta ao leitor também aspectos que revelam mais sobre o caráter de Moro, que se vangloriava, em palestras, de valores financeiros recuperados no âmbito da operação, que eram devolvidos aos cofres públicos. Mas que escondia o fato de que metade do dinheiro das multas impostas pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos à Petrobras e à Odebrecht era desviado para uma fundação de direito privado, dirigida por eles próprios, que acabou suspensa em 2019 pelo Supremo Tribunal Federal.