Está no ar mais um capítulo da série Vaza Jato. A Operação Lava Jato recusou uma proposta de delação premiada que poderia ter comprometido a substituição de Dilma Rousseff por Michel Temer na presidência da República em 12 de maio de 2016. O vice Temer assumiu o comando do País depois que a Câmara dos Deputados aprovou a admissibilidade do processo de impeachment. Dilma foi afastada até a consolidação do processo, em 31 de agosto daquele ano, quando Temer foi empossado presidente em definitivo. A delação do empresário José Antunes Sobrinho, sócio da construtora Engevix, em que relatava pagamento de propina a Temer a título de “comissão” por contrato fechados entre a empresa e a Eletronuclear.
Era abril de 2016. A acusação engavetada no dia 4 daquele mês – a Câmara votou o impeachment no dia 17 – pela força-tarefa da Lava Jato, com aval do procurador-geral Rodrigo Janot, seria usada depois, no processo que levou Temer à cadeia em março deste ano.
As informações foram extraídas de conversas pelo aplicativo Telegram entre procuradores de Curitiba, Rio e Brasília obtidas pelo site The Intercept Brasil e revelados nesta sexta-feira (18) pelo El País. O chat tinha o título de “Acordos Engevix”, que mais tarde seria batizada pelos procuradores de “anexo-bomba”.
A Lava Jato justificou a recusa ao “anexo-bomba”, em nota ao El País, afirmando que essa delação “não atendia o interesse público” e que “relatos de colaboradores avaliados como inconsistentes, incompletos ou desprovidos de provas podem ser recusados”.
Como tem ficado evidenciado pelas revelações do The Intercept Brasil e mídias parceiras, o “interesse público” era a deposição de uma presidenta da República sem crime de responsabilidade, a prisão do ex-presidente Lula – mesmo baseada em relatos “inconsistentes, incompletos ou desprovidos de provas” –, tirá-lo da eleição em que venceria no primeiro turno e levar ao poder Jair Bolsonaro e o juiz-chefe da Lava Jato a sua equipe ministerial.
Nesse ínterim, Temer rasgou o programa que o elegeu vice, encaminhou projetos ligados ao programa derrotado nas urnas desde 2002 – terceirização, teto de gastos, reforma trabalhista –, deu posse a Bolsonaro e aquele projeto segue em franca aplicação, com o agravamento no corte de direitos trabalhistas, a quase concretização da reforma da Previdência, a aceleração do desmonte da Petrobras, entrega do pré-sal e demais empresas públicas e estratégicas ao controle estrangeiro, a perseguição aos movimento sindical e sociais visando a minar resistências a “essa p… toda”, a subordinação cega e gratuita aos interesses do Estados Unidos e a destruição da soberania nacional.