Algumas coisas que estão ditas têm alguma procedência. Outras, nãoAo ser entrevistado pelo site “Viomundo”, a propósito de reportagem que descreveu a reunião ocorrida na última quarta-feira (05) entre os senadores do PT e o empresário João Roberto Marinho, do Grupo Globo, o líder Humberto Costa confirmou algumas informações sobre o encontro publicadas pelo site “Diário do Centro do Mundo” e corrigiu outras.
No texto abaixo, tem-se, primeiro, a publicação idêntica trazida pelo Diário do Centro do Mundo, e, em seguida, a entrevista do líder do PT.
Dilma deve ser sucedida por quem ganhar em 2018, disse dono da Globo a senadores do PT– Diário do Centro do Mundo – 9h00 – 09/08
Por Anônimo
João Roberto Marinho pediu encontro com os senadores do PT, na última quarta-feira.
Dos 13, nove aceitaram.
Durou quase duas horas. Ele abriu, dizendo-se muito preocupado com as “maluquices” de Eduardo Cunha na Câmara, que não comprometem apenas o próximo governo, mas o futuro do País; afirmou, ainda, que o que ele defende é que Dilma seja sucedida por quem ganhar as eleições de 2018, ou seja, impeachment, não.
Durante todo o tempo, escutou as queixas dos senadores, um por um, sobre a parcialidade, os dois pesos, duas medidas, as abordagens dos repórteres querendo declarações que apenas preencham a verdade que já está pré-estabelecida, a repercussão nula do que os governos Lula e Dilma fizeram pelo Brasil.
Recados que foram dados a ele: 1) não mexam com Lula (todos estavam ainda muito mordidos com a charge do Chico do dia anterior (“agora só falta você”), pois o Brasil pode pegar fogo e eles não vão ser bombeiros; na mesma direção, não temos controle sobre nossa base social e é imprevisível a reação que se virá ante uma hipotética prisão de Lula.
Ele pediu desculpas, “ou os senhores estão enganados, ou nós estamos errando feio”, comprometendo-se a levar a avaliação geral dos senadores para os editores.
Disse ainda que, realmente, a cumplicidade entre jornalistas e procuradores de Curitiba, hoje, representa um fator de instabilidade, mas jogou a culpa no PT, “que deu início a essa parceria”. Ao final, pediu para o governo controlar sua base na Câmara.
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Humberto Costa e o alerta da bancada do PT ao dono da Globo: derrubar Dilma ou atacar Lula pode acabar muito mal – Viomundo – 20h48 – 09/08
Viomundo – Que motivo João Roberto Marinho alegou para pedir essa conversa com o senhor?
Havia uma homenagem à Rede Globo em Brasília e, pelo que eu entendi , ele aproveitou para ter algumas conversas. Não sei se chegou a ter reunião com outras bancadas, mas certamente tinha reuniões marcadas com alguns ministros. Uma delas era com o ministro Ricardo Berzoini [das Comunicações], que acabou não acontecendo, porque a nossa conversa demorou muito.
Ele foi na linha de querer ouvir o que a gente tinha a dizer sobre esse momento político.
Na verdade, não era um convite só para mim. Era um convite para quem eu achasse que valesse a pena participar dessa conversa. Como a nossa bancada é pequena, eu convidei todo mundo. Ninguém se recusou, não. Alguns não puderam participar, porque já tinham outros compromissos agendados naquele horário.
O que ele conversou com os senhores? O que saiu no Diário do Centro do Mundo procede?
Mais ou menos. Algumas coisas que estão ditas têm alguma procedência. Outras, não.
Ele falou apenas que tinha interesse em ouvir a bancada do PT sobre o momento político que nós estamos vivendo, especialmente no que diz respeito à instabilidade política.
Ele queria saber a nossa opinião. Ele não falou de “maluquices” do Eduardo Cunha, não. Ele falou da preocupação com algumas decisões que estavam sendo tomadas no Congresso, que iam na contramão do ajuste e estavam produzindo inseguranças.
Então, foi um pouco por aí. Foi uma conversa cordial.
Nós, da bancada, colocamos a nossa preocupação com a questão do impeachment da presidenta Dilma. Ele disse que a posição dele e da empresa não é de defender o impeachment da presidenta Dilma. Disse que considerava que não havia elementos que justificassem uma coisa como essa, mas que o governo precisava garantir a governabilidade. Falou ainda que ele estava muito preocupado com a governabilidade e queria saber de que maneira a gente estava imaginando que isso [a governabilidade] acontecesse.
O que os senhores disseram a ele?
Várias dessas coisas que estão ditas [no artigo do DCM] foram faladas por nós, principalmente essa questão do impeachment da presidenta Dilma.
Alguns senadores falaram que a Globo não fazia uma cobertura isenta. Ele negou.
Ele disse, de certa forma, até “ou a gente está errando” ou “vocês estão percebendo errado”.
Não foi uma coisa de ele admitir: “olha, nós estamos errados”. Ele passou a ideia de que era um problema de interpretação da nossa parte e da dele também.
Ele disse: “Olha, nós vamos inclusive conversar com o nosso conselho editorial … Se está passando isso [cobertura não isenta], não é o que nós queremos. Foi o que ele disse”.
E a questão do ex-presidente Lula como foi colocada?
Nós colocamos para ele o seguinte. Para quem está preocupado com a estabilidade política, o impeachment da presidenta Dilma não é a saída. Podem inventar uma razão qualquer que não seja historicamente defensável, que não tenha uma base que se sustente… Pode até, no primeiro momento após a saída, você ter um quadro de perplexidade na base social de esquerda do governo.
Mas não leva 30 dias para que a instabilidade seja instalada, seja quem for o presidente –Temer, Eduardo Cunha…
Quanto a uma nova eleição, além de não ter uma base constitucional para poder se realizar, também tem esse outro componente aí de instabilidade.
Nós colocamos: o pior de tudo é, além de derrubar o governo, destruir o único interlocutor político que num momento de crise aguda tem legitimidade para se sentar a uma mesa e participar de um acordo, poder falar para milhões de pessoas… Então, era um erro que alguém pretendesse, além de derrubar a presidente Dilma, destruir a liderança de Lula. Foi um pouco por aí também a nossa conversa.
Senador, a Globo faz campanha diuturna contra a presidenta Dilma, o ex-presidente Lula e o PT. Agora, o senhor João Roberto Marinho procura os senhores, aparece com o discurso de que nem ele nem a Globo defendem o impeachment da presidenta. Ele estaria preocupado com possibilidade de a Globo ficar com a imagem de golpista, como aconteceu em 1964, quando ela apoiou o golpe e apoiou a ditadura civil militar?
Eu não sei. O que eu senti foi mais uma preocupação com esse momento de instabilidade política que pode produzir prejuízos do ponto de vista da economia que sejam praticamente irreversíveis. A instabilidade política está alimentando um ambiente de muita incerteza na questão econômica. Enfim, é isso.
Senador, uma última pergunta…
Eu estou superocupado…
Só mais uma, senador. Por gentileza, que colegas seus que não participaram da conversa?
Eu não me lembro, não. Alguns entraram e saíram… Eu não me lembro, não.
Segundo o Diário do Centro do Mundo do Mundo, dos 13 senadores da bancada petista, quatro não estiveram presentes à conversa. Até a publicação desta matéria, só tínhamos conseguido confirmar um dos nomes: senadora Fátima Bezerra (PT-RN).