Meio Ambiente

Líderes do PT defendem resgate do crescimento sustentável

Gleisi Hoffmann, Fernando Haddad e Jaques Wagner participaram de debate sobre transição ecológica e a agenda para enfrentar a crise sócio-ambiental promovido pela secretaria nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento do PT
Líderes do PT defendem resgate do crescimento sustentável

Em debate sobre meio ambiente, lideranças do PT defenderam o resgate de compromissos históricos para que o Brasil consiga superar a atual degradação ambiental e retomar o caminho de crescimento sustentável. O encontro reuniu, no Dia da Terra (22 de abril), a presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), o ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e o presidente da Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado, senador Jaques Wagner (BA). Coordenou o debate o deputado Nilto Tatto (SP), secretário nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento do PT.

“A saída do país da crise começa pela saída de Bolsonaro da cadeira presidencial. Ele é a encarnação da crise”, disparou Gleisi. Ela classificou de “vergonhoso e mentiroso” o discurso do presidente na Cúpula de Líderes sobre o Clima.

“Usou feitos dos governos Lula e Dilma para dizer que o Brasil tem compromisso com o meio ambiente, mas se esqueceu do que tem feito desde quando tomou posse, se esqueceu que em 2020 lideramos o ranking de desmatamento ilegal, que só em março agora desmatamos o equivalente ao estado de Goiás”, afirmou.

Além disso, ela lembrou que foi Dilma quem assinou em 2015, no Acordo de Paris, o compromisso de reduzir em 43% a emissão de gases de efeito estufa até 2030. No entanto, segundo ela, Bolsonaro a todo momento ameaça deixar o acordo.

“É um presidente que não tem compromisso com o meio ambiente, com a soberania nacional e, acima de tudo, não tem compromisso com a vida das pessoas”, afirmou, ao se solidarizar com as famílias das vítimas da pandemia de covid-19.

Para Jaques Wagner, a questão ambiental “é a pauta do terceiro milênio e desta década”. Segundo ele, os principais países do mundo estão entendendo que não há alternativa à sustentabilidade. “Como disse o papa Francisco, ou tratamos da forma correta a nossa casa, ou vamos ceifar a existência das próximas gerações”, afirmou.

Para ele, já há movimentos na China e nos Estados Unidos, por exemplo, com a discussão de um green new deal, “ou um grande novo acordo, já que esta é a pauta do mundo hoje”. O senador defende o conceito de “sustentabilidade tripartite: econômica, social e ambiental. “Se as três não vierem juntas, não tem desenvolvimento”.

No entanto, ele lamenta a mudança radical de prestígio do Brasil na comunidade internacional em tão pouco tempo. “Ajudamos a construir o Acordo de Paris, éramos um dos dez mais do planeta pela biodiversidade gigantesca e pela postura do nosso governo, éramos presença obrigatória. Hoje, cinco anos após o golpe, a imagem do Brasil foi jogada na lata do lixo e somos exemplo de coisa ruim do que não deve ser feito”.

Para ele, a fala de Bolsonaro mostrou isso. “Inconsistente, decepcionante e mentirosa. Foi lá pedir dinheiro e omitiu que temos perto de 3 bilhões de dólares paralisados no Fundo da Amazônia, contribuição de governos europeus”, ressaltou, ao mencionar que divergências políticas mantêm o recurso bloqueado.

Segundo Jaques, se o presidente pudesse cumprir uma das promessas, a de dobrar o orçamento do Ministério do Meio Ambiente, “o valor chegaria a 3,4 bilhões de reais, que seria 60% do orçamento do último ano do governo Lula, que foi de 5,9 bilhões. É o menor orçamento dos últimos 21 anos”, denuncia.

GERAÇÃO ECOLÓGICA

Jaques Wagner considera emergencial a criação de uma agenda para minimizar os danos gerados pelo atual governo e, ao lado dela, uma agenda para a construção da geração ecológica do Brasil.

“Vamos montar na CMA um grupo de mais de 40 especialistas para fermentar o arcabouço legislativo de uma transição verde para o Brasil”, anunciou. “Até porque 2022 está aí e a coisa ruim não vai ficar indefinidamente”.

Para Fernando Haddad, os efeitos da pandemia no Brasil poderiam ter sido muito menores se não fosse a operação de guerra antidemocrática que fraudou a eleição de 2018. “Perto de três quartos das mortes por covid seriam evitáveis se nós tivéssemos simplesmente seguido a média mundial. Mas o Brasil tem quatro vezes mais óbitos do que a média mundial em relação à sua população”, afirmou.

DESEQUILÍBRIO AMBIENTAL

Na sua concepção, “saúde pública é meio ambiente, vírus é meio ambiente, não é outra coisa”. Haddad lembra que todas as epidemias são resultado da ação do homem no ambiente. “Temos que celebrar a ciência, que tem socorrido a humanidade em tempos de crise, mas por que não evitar desequilíbrios? Por que não tratar preventivamente daquilo que está nos causando mal?”, indaga.

O ex-prefeito considera que a pauta ambiental precisa ser tratada como pauta urbana, uma pauta do mundo, e não apenas do campo. “A cidade é um organismo na terra, incrustado, e dependendo de como esteja organizada, vai concorrer para o equilíbrio ou para o desequilíbrio ecológico do planeta”.

Para ele, resíduos sólidos é uma pauta ambiental, e é também urbana, assim como saneamento básico, iluminação pública com led (“consome metade da energia e ilumina o dobro”), uso e ocupação do solo, plantio de árvores, mobilidade urbana (“a distância entre o trabalhadores e seu trabalho é pauta ambiental”).

Haddad vê um futuro sombrio caso o mundo não reduza a queima de combustível fóssil e a produção pecuária. “O drive-thru de sanduíche é para mim o símbolo da destruição do planeta, que é o carro comprando hambúrguer”, brincou.

Há várias soluções alternativas para garantir alimentação saudável e para todos. “Não precisamos derrubar nenhuma árvore. É só colocar a terra improdutiva para produzir, criar imposto no campo progressivo ao longo do tempo para obrigar o proprietário fundiário a produzir”, disse.

“A gente deveria alterar a merenda escolar, e a gente fez [na Prefeitura], obrigando a comprar da agricultura familiar, depois comprando alimento orgânico. Chegou a hora de pensar em proteínas alternativas, não como imposição, mas calibrando a direta de maneira sustentável”, defendeu.

ESPERANÇA

Os três debatedores celebraram a decisão do STF, que confirmou a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro, anulou todas as condenações políticas impostas a Lula, que voltou a ser elegível.

“Estamos vivendo um período triste, mas não podemos deixar de ter esperança. Vamos ‘esperançar’, como dizia Paulo Freire”, resumiu Gleisi Hoffmann.

“Assim como vamos vencer a pandemia de covid, vamos vencer a pandemia governamental com o voto em 2022”, concluiu Jaques Wagner.

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