Ligação de Demóstenes com a rede criminosa ganha reportagem na Economist

Corrupção no Brasil

Depois da queda – The Economist

“Ele tem princípios e convicções”, diz a citação a Demóstenes Torres na lista dos 100 brasileiros mais influentes de 2009 da {modal url=https://ptnosenado.org.br/popup/121-popup/20407-apresentacao}revista Época{/modal}. O senador do estado de Goiás, afirmava a revista, “não é apenas mais um traficante de influência política”.

Mais ou menos no mesmo período em que a Época homenageava Demóstenes Torres, policiais que investigam o jogo ilegal no Brasil flagraram telefonemas entre Carlos Augusto Ramos (conhecido como Carlinhos Cachoeira ou “Charlie Waterfall”), um empresário com notórios laços com o jogo do bicho.

Entre os interlocutores mais frequentes de Cachoeira estava o Sr. [Demóstenes] Torres, que conversou com o bicheiro sobre leis e projetos, e lhe pediu dinheiro. O Sr. Torres insiste que Cachoeira seria apenas um amigo íntimo. Então, ele provavelmente irá visita o senhor Cachoeira na cadeia, onde está sendo mantido sob suspeita de lavagem de dinheiro, corrupção e de chefiar uma rede de jogo ilegal.

Escândalos fazem parte do cotidiano de Brasília, mas este promete pulverizar quantidades incomuns de lama. Em 25 de abril passado, o Congresso abriu inquérito sobre a influência política de Cachoeira, convocando uma comissão de inquérito que pode investigar ou convocar para depor quem quer que seja, além de ter acesso a registros confidenciais fiscais, bancários e telefônicos. Até o momento, três deputados federais e dois governadores (assim como o Sr. Torres) entraram na mira dos parlamentares, que também pretendem investigar a Delta, uma grande empresa brasileira de construção. Um dos ex-administradores da empresa está agora na prisão depois de flagrado nas escutas telefônicas.

Os advogados dos políticos que apareceram nas fitas estão tentando obter a inadmissibilidade da prova, precisamente por causa da proximidade de seus clientes com o Sr. Cachoeira. Eles argumentam que, uma vez que os titulares de altos cargos no Brasil só podem ser investigados por seus pares, a polícia deveria ter recuado assim que viu que a lista de chamadas regulares do Sr. Cachoeira poderia ser lida como um “Quem é Quem” na política. A polícia responde que as chamadas para os políticos eram periféricas à sua investigação principal, e que as investigações vinham sendo acompanhadas há três anos pelo procurador-geral, Roberto Gurgel, a quem caberia dar a conotação política. A comissão planeja convidar o Sr. Gurgel para que ele explique por que nada fez, até que as escutas fossem vazadas para a imprensa.

Quaisquer que sejam os argumentos jurídicos, a anulação das investigações causaria muita ira pública. Por agora, os custos políticos da investigação têm a probabilidade de cair sobre a oposição ao governo de centro-esquerda de Dilma Rousseff. O Sr. Torres foi filiado ao Democratas, um partido conservador que já se encontrava debilitado por deserções. Sua denúncia pública pode dificultar o seu comentado plano de fusão com o maior partido da oposição.

Mas as revelações não são, necessariamente, um presente político para Dilma Rousseff. Apesar da linha dura que ela assumiu contra a corrupção desde que se tornou presidente — o que lhe dá uma reserva de credibilidade junto ao público —, os inquéritos parlamentares são altamente imprevisíveis. Seus assessores estão particularmente preocupados com Luiz Antônio Pagot, um alto funcionário do Ministério dos Transportes que renunciou no ano passado após ser acusado de corrupção. Ele agora diz que foi forçado a sair para atender o Sr. Cachoeira e a Delta. Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro e aliado próximo de Dilma Rousseff, também pode enfrentar perguntas difíceis: ele é um bom amigo de Fernando Cavendish, um ex-chefe da Delta, obrigado a renunciar assim que o escândalo estourou.

Mesmo que Dilma saia politicamente incólume, a investigação, provavelmente, irá dificultar alguns de seus planos. Há pouca esperança dela conseguir a urgente aprovação do Legislativo para um acordo que vem sendo negociado há muito tempo sobre a partilha de receitas provenientes de águas profundas de perfuração de petróleo entre os estados, ao mesmo tempo em que se desenvolve a disputa entre os políticos.

E há projetos muito necessários na área de infraestrutura, particularmente na preparação para a Copa do Mundo de futebol 2014 e das Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro, cuja necessidade pode ser ignorada se o contratos federais da Delta, sob suspeita de superfaturamento, forem passar por avaliação. Muitas obras já estão acima do orçamento e atrasadas. Seus parceiros no consórcio a reconstrução do estádio do Maracanã, o palco para a Copa do Mundo, já expulsaram a Delta e dizem que vão continuar por conta própria. A promessa de terminar a tempo parece otimista.

Pedro Taques, um ex-promotor público que agora está na comissão de inquérito, diz que a saída do Sr. Torres não prova que o mal feito é crescente, mas sim que os esforços anticorrupção estão cada vez melhores. Mesmo assim, quanto mais podridão da política brasileira for exposta, haverá ainda menos políticos em quem os cidadãos poderão confiar. Sylvio Costa do Congresso em Foco, uma premiada revista investigativa, teme que os eleitores simplesmente desistam de todos eles. “Para as pessoas, Demóstenes é um veneno para o engajamento político.”

Veja a matéria original da Economist


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