Em discurso, Lindbergh lembrou dos 1,5 milhão de armênios mortos pelo Império Otomano entre 1915 e 1917O massacre de até 1,5 milhão de pessoas de origem armênia entre os anos de 1915 e 1917, durante a Primeira Guerra Mundial, é ainda um tema polêmico no âmbito internacional. Isso porque, apesar dos armênios insistirem no reconhecimento das mortes como um genocídio, apenas 20 países se manifestaram neste sentido, incluindo Argentina, Uruguai e França. Para o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), o governo brasileiro também precisa se posicionar. “Acho que o governo brasileiro tem de se pronunciar, assumir uma postura e reconhecer esse genocídio”, opinou o parlamentar.
Segundo uma reportagem da emissora britânica BBC, o governo brasileiro diz ser solidário às vítimas do que classifica como tragédia, mas não menciona a palavra genocídio.
De acordo com relatos de testemunhas, o Império Otomano determinou o assassinato de todos os homens com mais de 12 anos de idade de origem armênia em seus territórios para exterminar sua presença cultural e econômica na região. Além dos massacres, foram determinadas deportações em massa, em marchas forçadas que geralmente levava a morte a muitos dos deportados. Os atos teriam dizimado pelo menos 1,5 milhão de armênios.
Cem anos depois dessas mortes, o tema permanece candente, já que os sucessivos governos da Turquia se recusam a reconhecer a prática de genocídio. “De acordo com líderes turcos, tais mortes foram consequência de uma guerra civil e não resultado de um plano institucionalmente sistematizado. Porém, a pergunta quase eterna ainda permanece: se não houve genocídio, onde estão os outros três quartos, ou cerca de 1,5 milhão de armênios, que viviam na região?”, questionou Lindbergh, durante discurso ao plenário nesta sexta-feira (24).
O petista lembrou que, na Turquia, há quem seja contrário à versão do governo do país. É o caso do escritor Orhan Pamuk – primeiro turco na história a receber um prêmio Nobel, que reconheceu em público o genocídio armênio, em 2005. Um processo chegou a ser aberto contra Pamuk e, mesmo após as acusações terem sido retiradas, diversas manifestações de ódio contra ele foram organizadas – onde livros do autor foram queimados –, o que o obrigou a se retirar do país.
O tema é tão sensível que até informações internas dos países podem se tornar motivo de constrangimento. Foi o que aconteceu com o Reino Unido. Em 1999, vazaram documentos do Ministério das Relações Exteriores daquele país que declaravam que a Turquia continuava defensiva e, portanto, a única opção viável seria a de continuar a recusar-se reconhecer as mortes como genocídio, diante da importância das relações políticas, estratégicas e comerciais com os turcos.
Na última quinta-feira (23), a Alemanha reconheceu o genocídio pela primeira vez. O presidente Joachim Gauck usou o termo durante cerimônia em homenagem às vítimas realizada em Berlim e ainda destacou a “corresponsabilidade” alemã no crime, já que foram aliados do Império Otomano durante a Primeira Guerra Mundial.
“Outra liderança, que embora tenha reconhecido o genocídio no passado, tem evitado utilizar o termo, após se tornar presidente, é Barack Obama, contrariando até mesmo certa pressão do seu Congresso Nacional”, lembrou o senador petista.
No último dia 12, o Papa Francisco também utilizou a palavra “genocídio” para descrever os massacres de armênios iniciado há um século. Esta foi a primeira vez quem um líder da igreja católica declarou publicamente o termo. A manifestação provocou a reação imediata da Turquia, que afirmou que a opinião do pontífice é “infundada”.
Para Lindbergh, apesar do reconhecimento de eventos passados não ser capaz de mudar a história, “contribui para a construção de um futuro mais fraterno, solidário e promissor”.
Carlos Mota