Lindbergh destaca que embora protestos fossem majoritariamente voltados contra o PT, não pouparam nem mesmo os oposicionistas que ajudaram a convocá-losO senador Lindbergh Farias (PT-RJ) conclamou as diversas correntes políticas a uma reflexão sobre o atual momento político e sobre o que está expresso nas manifestações do último domingo. Embora os protestos, que reuniram grandes contingentes em várias cidades, tenham sido dirigidos principalmente contra o PT e a presidenta Dilma, “o que está em colapso”, alerta o senador, “é o sistema político como um todo”.
Ele lembra que desde o ano passado as pesquisas apontam forte rejeição a todas as figuras mais conhecidas e que despontam como possíveis presidenciáveis. No último domingo, por exemplo, duas das maiores lideranças da oposição – o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o senador Aécio Neves, ambos do PSDB – foram duramente hostilizados na Avenida Paulista.
“Os protestos foram majoritariamente dirigidos contra nós [do PT], mas o sistema político está em crise como um todo. Nós estamos indo para algo parecido à Argentina, na década de 90. Lá, o povo argentino disse: ‘Que se vão todos”, comparou Lindbergh, para quem é um equívoco repetir o discurso dos grandes veículos de comunicação que chamaram os protestos de “festa da democracia”.
“Que festa de democracia, quando alguns pedem intervenção militar? Se há um político que saiu fortalecido dessas manifestações de domingo, infelizmente, foi Jair Bolsonaro, porque grupos fascistas cresceram nesse período”, alertou o senador.
Ele criticou os setores que tentam se aproveitar de uma mobilização legítima do povo contra a corrupção, contra o sistema político e contra o governo, para tentar construir um acordão de cúpula que pretende rasgar a Constituição, como ocorre com o pretendido processo de impeachment, que Eduardo Cunha garante que vai instalar ainda esta semana. “Para o impeachment é preciso ter fundamentos políticos, mas tem que ter fundamento jurídico”, destacou.
Lindbergh lembra que não é possível afastar presidentes legitimamente eleitos alegando “pedaladas fiscais” ou créditos suplementares. “Não se sustenta! A Constituição não dá força para isso”. O senador vê uma grande contradição entre o “acordão de cúpula” e até mesmo as passeatas do último fim de semana, já que essa articulação de cúpula visa justamente abafar investigações de corrupção.
Além de tecer o enredo para um impeachment que assegure a imunidade de alguns setores, o “acordão” também tem uma pauta econômica e social altamente lesiva aos interesses do País. O documento intitulado “A Ponte para o Futuro”, da cúpula do PMDB, é a base para a retirada de direitos de trabalhadores e retrocessos em inúmeras conquistas. “Querem o fim de todas as indexações a salários e benefícios previdenciários—que significa o fim da política de valorização do salário mínimo. Acabar com o piso do salário mínimo para os benefícios previdenciários. Querem Colocar o negociado na frente do legislado, fazendo da CLT letra morta”.
Outras propostas da cúpula do PMDB falam em Orçamento base zero, que desvincula todas as receitas na União, Estados e Municípios—o que extingue os percentuais mínimos previstos em lei para os gastos com saúde e educação. Defendem, também, o aumento da idade mínima para aposentadoria, um Banco Central independente, um ajuste fiscal rigorosíssimo.
“É isso que está em curso, é importante que o povo brasileiro saiba que, com esse acordão de cúpula, eles estão querendo tirar a presidenta Dilma para retirar seu direito, os direitos dos trabalhadores. Nós estamos em uma guerra política. Vamos fazer um debate com a sociedade brasileira e mostrar o que está por trás do golpe do impeachment”, assegurou Lindbergh