Lindbergh:Não podem existir dois pesos e duas medidas no combate à corrupção. Por isso é preciso que o Ministério Público Federal mostre agilidade nas investigaçõesO senador Lindbergh Farias (PT-RJ), líder do Bloco da Minoria no Senado, pediu na tarde desta segunda-feira (8) a suspensão da tramitação do processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff até que sejam concluídas as investigações sobre o mais recente escândalo que balança e enfraquece a república golpista: a denúncia de que o presidente interino Michel Temerrecebeu R$ 10 milhões em dinheiro vivo no Palácio do Jaburu para usar na campanha eleitoral do homem do pato, Paulo Skaf, presidente da Fiesp. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, ficou com R$ 4 milhões e o ministro de Relações Exteriores, senador José Serra (PSDB-SP), pegou um valor bem maior, R$ 23 milhões, dinheiro que também seria usado em campanha eleitoral. “É muito cinismo. Estão querendo afastar a presidenta por três decretos e nós já sabemos que uma decisão do Ministério Público arquivou a denúncia”, afirmou.
Os fatos noticiados a partir de delação de executivos da empreiteira Odebrecht caíram como uma bomba no Quartel General golpista por atingir em cheio o presidente interino Michel Temer e seus dois fiéis escudeiros: os ministros Eliseu Padilha e José Serra, até então paladinos da moralidade. Há menos de dois meses, o então ministro do Planejamento, Romero Jucá, senador pelo PMDB-RR, foi defenestrado do cargo após ter seu nome citado numa gravação do ex-presidente da Transpetro, Sergio Machado. Nessa conversa nada republicana, Jucá dizia com todas as letras que para acabar com a Operação Lava Jato, com “essa sangria”, era preciso tirar Dilma da presidência.
Por quê?
Por que Dilma, honesta que é, nunca compactuou com a corrupção, com negociatas, e sempre defendeu a autonomia da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. Se quisesse parar com as investigações, como querem os golpistas, era só Dilma mandar o procurador-geral da República jogar as denúncias para baixo do tapete, como acontecia com frequência com o engavetador-geral da República, Geraldo Brindeiro, durante o governo de Fernando Henrique Cardozo. As denúncias contra o governo, nos escândalos do Sivam, Ratheon e outros, nunca foram investigados.
“Nós estamos exigindo neste momento é que a procuradoria seja ágil, abra imediatamente um processo de investigação, porque não pode haver investigação só seletiva contra gente do PT. Nós queremos investigação, nós não estamos fazendo aqui prejulgamento. Sinceramente, se Romero Jucá, que apareceu em delações, teve que pedir afastamento do cargo, qual é a diferença para os ministros Serra e Eliseu Padilha? Eles têm que ser afastados”, cobrou Lindbergh.
O líder da minoria considera que o Senado tem o papel de zelar pelo Estado Democrático de Direito e pedir investigação. Caso contrário, será sócio daqueles senadores quem estão blindando o presidente interino Michel Temer. Isto, porque o interino não poderia ser investigado por dispor de imunidade constitucional. O artigo 86 da Constituição, inciso quarto, diz que ele só poderia ser julgado e investigado pelos fatos de seu mandato e a acusação é de 2014.
No caso de Dilma, a acusação é surreal. Ela não recebeu dinheiro de propina, não cometeu crimes na edição de decretos de suplementação orçamentária e no caso das operações do Plano Safra foi o próprio Ministério Público Federal quem mandou arquivar a denúncia. Tem outro detalhe na trama do golpe: as contas de Dilma sequer foram apreciadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
Para a senadora Fátima Bezerra (PT-RN), que pediu um aparte a Lindbergh quando ele fazia seu discurso, a pressa dos apoiadores do golpe para antecipar o julgamento de Dilma mostra que eles estão inseguros, divididos e apreensivos para o surgimento de novos nomes que receberam propina e caixa 2. “Está escancarado que a pressa de abreviar o processo de impeachment não tem nada a ver com a viagem à China que o interino quer fazer. A pressa se deve à operação Lava Jato e o medo de novas delações”, disse ela.
Censura
Lindbergh disse que ficou estarrecido com a ordem de censura de Temer contra pessoas presentes aos jogos olímpicos que se manifestam contra o governo golpista e pedem, sem pudor, Fora Temer. “Levar uma placa ou cartaz dizendo fora quem quer que seja, pacificamente, é uma legítima manifestação de liberdade de expressão. Logo, não cabe esse tipo de cerceamento”, afirmou – essa manifestação foi feita pelo ex-ministro do STF, Carlos Ayres Britto.
O líder da Minoria alerta que está em gestação um processo não apenas de cerceamento. Primeiro vem o golpe, depois a repressão contra os manifestantes, movimentos sociais e outros. “O que nos chama atenção e quero registrar meu mais veemente repúdio é a posição do ministro Gilmar Mendes (do STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral) sobre a cassação do registro do PT. Isso não é um ataque ao PT, mas um ataque à democracia”, disse Lindbergh, chamando os verdadeiros democratas do País a se levantarem contra isso. “Nós estamos a caminho do endurecimento autoritário. No dia em que sai a acusação contra Serra, contra o Temer, a mídia vem com essa história de cancelar o registro do PT, como se fosse levantar uma cortina de fumaça para esconder a realidade do golpe”.