Lindbergh: há coisas que não podemos admitir, como ver homens como Patrus Ananias e Eduardo Suplicy sofrerem esse tipo de agressãoO fascismo disseminado por setores da mídia precisa ser enfrentado não apenas por seus alvos preferenciais — os petistas — mas por todos as correntes de pensamento verdadeiramente comprometidas com a democracia, com o pluralismo das ideias e com as causas progressistas. O alerta é do senado Lindbergh Farias, que na última segunda-feira (9) manifestou, em plenário, a solidariedade de toda a Bancada do PT ao ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, alvo de novo ataque de intolerância política, durante o final de semana, em um bar de Belo Horizonte (MG).
“Venho aqui trazer minha solidariedade ao grande brasileiro Patrus Ananias, que foi vítima de um constrangimento ontem, vítima de um gesto fascista”, declarou o senador. No domingo, Patrus e o secretário-adjunto de Educação de Minas Gerais, Carlão Pereira, acompanhado das esposas, Vera e Jussara, foram hostilizados por um homem com um cartaz “Fora PT”, proferindo xingamentos contra o partido e seus integrantes. A manifestação estava sendo devidamente filmada por acompanhantes do agressor. Patrus respondeu ao homem: “Põe no papel as denúncias [que dissessem respeito exclusivamente a ele] que eu vou processar você”. O agressor desconversou.
“Grande Patrus Ananias, saiba da nossa solidariedade! Eu, que comecei muito jovem na política, sempre acompanhei sua história, sua trajetória. Você é um desses homens públicos de rara dignidade neste País, um dos homens públicos comprometidos com as causas das transformações sociais, da mudança da vida desse povo mais pobre. Saiba do nosso apreço”, declarou o senador.
Para Lindbergh, essa nova manifestação contra petistas com exposição pública é fruto “do fascismo disseminado por uma campanha de setores da mídia, de criminalização do PT, da esquerda brasileira”. Além de Patrus, os ex-ministros Guido Mantega e Alexandre Padilha e o ex-senador e secretário de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo, Eduardo Suplicy já foram hostilizados em locais públicos por manifestantes anti-petistas.
O episódio mais grotesco dessa onda de intolerância foi registrado também em Belo Horizonte, no velório do ex-senador e ex-presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, onde fascistas atiraram panfletos afirmando que “petista bom é petista morto” e quatro manifestantes se postaram na entrada com cartazes de protesto.
“São coisas que não podemos admitir”, alertou Lindbergh, para quem as manifestações de ódio atingem não apenas petistas, mas todos os militantes da causa política brasileira, da democracia brasileira. “Ver homens como Patrus Ananias, como Eduardo Suplicy, sofrerem esse tipo de agressão!”, indignou-se o senador.
Para ele, muito desse ódio vem sendo estimulado pelo tratamento seletivo dispensado pela grande imprensa ao PT, ao ex-presidente Lula e à presidenta Dilma. Ele mostrou em plenário uma página do jornal O Estado de S.Paulo que é um emblema dessa campanha de difamação. No topo da página está o título “Lula recebeu quase 4 milhões da Odebrecht, diz Polícia Federal“. Logo abaixo, outra matéria: “Empreiteira doou 975 mil a Instituto Fernando Henrique Cardoso, aponta laudo“.
A notícia sobre Lula recebe destaque, está no alto, embora as doações já fossem conhecidas. O título sugere que foi Lula, pessoa física, quem recebeu o dinheiro, e não o Instituto Lula, “o que faz muita diferença”, lembrou Lindbergh. A empresa é nomeada, é a Odebrecht. E quem faz a afirmação tem nome também: “afirma Polícia Federal”. “É uma estratégia discursiva que pretende garantir legitimidade à afirmação”, apontou o senador.
No caso de Fernando Henrique Cardoso, a matéria vem embaixo, embora trate de fato novo. E não diz que FHC recebeu da Odebrecht, o nome da empreiteira não é citado. É o Instituto Fernando Henrique Cardoso que recebe. “Aponta laudo”, a fonte é desconhecida. “Impressionantes são as fotos: a de Lula é um Lula agressivo; a foto do Fernando Henrique Cardoso é um Fernando Henrique calmo, sereno”, destacou o senador.
“Esse é o tratamento que está havendo por parte da imprensa brasileira”, protestou ele, lembrando que o jornal O Globo, há duas semanas, havia dado em sua manchete que: “Baiano diz que pagou contas de Lula”. No último domingo, o jornal reconheceu que errou, mas deu o desmentido em apenas uma coluna na primeira página.
A seletividade, porém, não parece ser exclusividade da imprensa. Lindbergh lembrou a situação do mensalão mineiro, que envolve integrantes do alto escalão do PSDB. “Já vai fazer dez anos do início da investigação, e o processo continua parado”. O mensalão mineiro começou em 1998. “É preciso que se diga também do tratamento diferenciado por perto do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação a esse caso”, apontou o senador.
No caso do mensalão do PT, o STF decidiu não desmembrar o processo, o que permitiria aos réus que não dispunham de foro privilegiado serem julgados em instâncias inferiores. No caso dos tucanos, o mesmo STF assegurou a 13 dos 15 réus—que não tinham foro privilegiado—o direito de serem julgados na primeira instância, podendo, depois, recorrer às instâncias superiores, situação que não é possível a quem é julgado diretamente pelo STF.
Para Lindbergh, a onda de intolerância não vai prevalecer. Repetindo as palavras de Patrus Ananias após a agressão de domingo, o senador garantiu: “Este não vai ser o país do ódio”.
Cyntia Campos