O depoimento de Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sérgio Moro, na quarta-feira (10), foi destaque na imprensa nacional e internacional. Aliás, a ênfase dos meios de comunicação ao ex-presidente já é algo bem comum nos últimos meses. Mas, como provou Lula, essa atenção passa longe – muito longe – de ser imparcial.
A operação Lava Jato, comandada por Moro, desde o início dos trabalhos arranca delações a partir de métodos autoritários, como prisões preventivas. Os “benefícios” só são concedidos aos que se prestam a falar o que os investigadores querem ouvir – muitas vezes independente da apresentação de provas. Aí entra o papel da imprensa: utilizar vazamentos seletivos de depoimentos para condenar a partir da opinião pública.
“À medida que foi feito um acordo de que não é possível, na Lava Jato, condenar políticos importantes ou pessoas ricas sem o apoio da imprensa, se adotou a política de primeiro a imprensa criminalizar”, disse Lula nas considerações finais do depoimento a Moro.
O ex-presidente não poupou o juiz de números comprovando a perseguição. Só entre as revistas semanais, desde março de 2014, foram 25 capas na Isto É, 19 na Veja e 11 na Época. “Dentro [das revistas] é demonizando o Lula. Meus acusadores nunca tiveram 10% do respeito que eu tenho por eles”, afirmou.
Mas ‘demonizar’ o maior presidente da história do País é um papel ainda mais bem executado pelos jornais impressos, no mesmo período. O Globo é o campeão, com 530 matérias contra Lula e apenas oito favoráveis. O Estado de S. Paulo vem em seguida, com 318 reportagens negativas e duas positivas. Já a Folha de S.Paulo produziu 298 textos contrários a Lula e 40 favoráveis.
“Aliás, nesses jornais, parece que tem gente com mais informações que os advogados de defesa. Tudo passa por eles: antes, durante e depois. Eu falo dos vazamentos que saem para a imprensa. […] É como se o Lula estivesse sendo ‘procurado vivo ou morto’”, queixou-se o ex-presidente.
Outro meio de comunicação abastecido com os vazamentos é a televisão. Só o Jornal Nacional dedicou 18 horas e 15 minutos nos últimos 12 meses a Lula. Ele usou o bom humor para exemplificar o absurdo da cobertura negativa. “Sabe o que significam 18 horas falando mal de um cidadão? 12 partidas de futebol entre o Barcelona e Atlético de Madri”.
“Estou falando apenas do Jornal Nacional que é o mais importante, mas eu poderia pegar ‘Bom Dia, Café’, ‘Bom Dia, Não Sei das Quantas’, em todos canais”, complementou Lula, pouco antes de lacrar Moro com as frases mais fortes do depoimento: “o objetivo é tentar massacrar este cidadão, que tem que pagar um preço por existir. Este cidadão cometeu o crime de provar que esse país pode dar certo”.
Veja as capas das revistas semanais que acusam Lula e o PT a partir do vazamento de delações