Em uma conversa que durou mais de duas horas, Luiz Inácio Lula da Silva e o rapper Mano Brown mobilizaram a internet nesta quinta, dia 9. A participação do ex-presidente no podcast Mano a Mano foi um dos assuntos mais comentados do Twitter na madrugada, quando o programa foi ao ar. Brown e Lula conversaram sobre religião, juventude e falaram da relação dos dois.
Em tom emocionado, Lula começou a entrevista lembrando que ele e Mano Brown estiveram juntos em diversos atos e manifestações e elogiou a capacidade de mobilização do rapper. “Não é fácil se manter na liderança por tanto tempo como você, falando com a periferia”.
Brown contou que começou a se identificar com o ex-presidente ainda na infância, nos anos 80. Para o rapper, Lula e o Partido dos Trabalhadores representavam uma esperança de melhoria de vida para famílias pobres como a dele.
A lembrança motivou Lula a relembrar a história da fundação do PT e a sua transição de sindicalista a líder político. “Em 78, fizemos as grandes greves do ABC, mas eu dizia que não gostava de política e de quem gosta de política. Percebi que eu era um ignorante, porque a gente tem que gostar de política e tem que fazer política. Quando a gente não gosta de política, o ovo da serpente pare um Bolsonaro. Bolsonaro é resultado da despolitização da sociedade brasileira nas últimas duas décadas”, analisou.
Lula reforçou ainda a importância do papel de artistas e comunicadores como Mano Brown na reversão do que ele definiu como despolitização. “Eu sei o que é uma juventude rebelde, porque vi a fome de perto enquanto era jovem. Então, eu falo para o seu público jovem que, quando acharem que Lula não presta, ninguém mais presta, seja a solução do próprio problema. Preste você, seja você o cara o bom, faça você a política. Foi essa a descoberta que fiz em 78?.
Brown disse a Lula que parte da nova geração ainda não conhece as realizações do seu governo. “Minha geração vê você como o candidato que perdeu três eleições, enquanto a nova geração te vê como a situação, o presidente. Você fez quase um milagre no Brasil, mas os jovens não te conhecem ainda”, afirmou o rapper.
Depois de definir Lula como um personagem que se identifica com as massas, Brown quis saber se a cadeira da presidência é solitária. “Para quem quer, respondeu Lula. Você não precisa tomar decisões sozinho. O presidente não é Deus, é um cidadão com papel de síndico, por isso é importante conversar com todo mundo e ouvir quem discorda de você”.
Quando o tema religião foi abordado na conversa, Lula criticou o que chamou de “mercantilização da fé”. “Eu acredito na existência de uma força superior, um Deus que simboliza o que tem de bom, aquele que é solidário e estende a mão. Não acredito que o Deus que simboliza o amor, a generosidade e a fraternidade possa ser o Deus de Bolsonaro”, disse o ex-presidente.
Durante a conversa, Mano Brown e Lula também falaram sobre polarização e distorção dos conceitos de direita e esquerda nos debates atuais. O ex-presidente esclareceu. “O que está acontecendo no Brasil hoje não é uma disputa entre direita e esquerda, é uma disputa entre o fascismo e a democracia”.