“Eu queria agradecer a todos vocês por terem nascido, por serem como vocês são, e fazer com que a gente não perca nunca a fé e a esperança de que tem mais gente querendo salvar do que gente querendo matar. Sou eternamente grato a vocês”.
Assim o presidente Lula abriu seu discurso nesta quarta-feira (11/9) na cerimônia de outorga da Medalha de Mérito Oswaldo Cruz no Palácio do Planalto a 22 pessoas e 10 instituições pelo apoio à retomada da vacinação, combate ao negacionismo e aumento da cobertura em todo o país, entre elas a empresária Luíza Trajano, o presidente da Fiocruz, Mário Moreira, o diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás, o influenciador e ativista anticapacitista Ivan Baron, o biólogo Átila Iamarino, a primeira dama Janja, que abriu espaço publicamente para reforçar o Movimento Nacional pela Vacinação, entre outros.
O trabalho conjunto entre as três esferas de governo e entidades foi destacado também na fala da ministra da Saúde Nísia Trindade, que exaltou os grandes resultados do Movimento Nacional pela Vacinação, lançado pelo presidente Lula em 2023. Em menos de dois anos, o governo federal conseguiu reverter a tendência de queda de 13 das 16 principais vacinas do calendário infantil, além do reconhecimento da Unicef e da Organização Mundial de Saúde (OMS) e investimentos de R$ 6 bilhões.
O esforço liderado pelo governo federal permitiu ao Brasil sair do ranking dos 20 países com mais crianças não vacinadas. “Não podemos carregar essas estatísticas jamais e felizmente isso é só o começo de termos 95% de cobertura nas principais vacinas, para proteger nossas crianças de jovens”, destacou Nísia, ao falar da honra em homenagear parceiros tão importantes para a saúde do povo brasileiro.
“É uma honra homenageá-los porque não realizamos este trabalho sós. Só é possível recuperar as coberturas vacinais que se encontravam em queda desde 2016 com o trabalho de toda a sociedade, de cada um e cada uma. São 22 pessoas e 10 instituições reconhecidas hoje por sua contribuição no enfrentamento de um dos maiores desafios do nosso tempo: a reversão da queda das coberturas vacinais”, salientou.
Presidente denuncia negacionistas
Na solenidade que teve a presença do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, da ministra das Mulheres, Cida Gonçalves; do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macedo e do ministro da Secretaria de Comunicação, Laércio Portela, o presidente Lula exaltou o SUS, a importância de ter “uma família de Zé Gotinhas” para que nunca mais se fale contra a vacina e cobrou processos para apurar responsabilidades dos negacionistas.
“Eu não sei porque algumas pessoas que falaram (contra) ainda não foram processadas, como o genocida neste país, porque pelo menos 400 mil pessoas poderiam ter sido salvas se a gente tivesse no governo alguém com um mínimo de respeito pelo ser humano”, ressaltou, ao confessar que nunca pensou em viver num tempo em que um presidente da República, ministros da Saúde, médicos com mandato de deputado e personalidades públicas “tendo a desfaçatez de inventar tantas mentiras contra a vacinação”.
“Essa gente nunca teve a sensatez de ser um pouco humanista, de ser um pouco fraterno, ser um pouco solidário e de ser um pouco, quem sabe, mais, de verdade, humano”, salientou, ao agradecer novamente aos homenageados e ao SUS que, desde que foi criado, “abriu-se uma guerra” na tentativa de desacreditá-lo.
“A universalização tem um preço, exige mais recurso, mais trabalho e com a quantidade de gente, cai um pouco a qualidade, mas isso nunca foi motivo para aceitar o descrédito do SUS”, avaliou Lula, exaltando os profissionais que “carregam o SUS nas costas”.
SUS salva milhões de vidas
O presidente recordou de quando tiraram o imposto sobre transação financeira, que retirou do governo R$ 40 bilhões em 2007, apenas com o intuito de prejudicar o governo.
“Lembro que eu disse a alguns senadores que eles não estavam me prejudicando, eles estavam prejudicando os milhões e milhões e milhões de meninas, de meninos, de mulheres, de homens, de adultos e de velhos que precisavam do SUS e que a gente poderia, com aquele dinheiro, melhorar a qualidade da saúde”, recordou Lula, ao citar a importância do SUS na época da Covid.
“Quando todo mundo imaginava que o SUS era aquilo que se vendia de forma equivocada, em determinados meios de comunicação, quem apareceu para salvar milhões de vidas?”, questionou o presidente. Ele lembrou que o Brasil tem 3% da população mundial mas teve 10% das mortes por Covid no mundo e é o único no mundo com mais de 100 milhões de habitantes e um sistema universal e gratuito.
“E se não morreram mais de 700 mil pessoas a gente deve à capacidade de trabalho e a honradez de mulheres e homens que trabalham no SUS e que acreditam que a saúde pública pode ser a salvação”, concluiu.
Luta contra o negacionismo
A ministra Nísia resgatou a história do médico sanitarista Oswaldo Cruz, que enfrentou negacionistas e um cenário desalentador no Rio de Janeiro, então capital da República, com varíola, febre amarela e ameaça de epidemias no início do século 20, sem um sistema de saúde e sem previdência social.
Um século depois, disse Nísia, o país enfrentou desafios imensos, como a desinformação e o negacionismo, depois de quatro anos de um governo que trabalhou contra a ciência, contra o conhecimento e contra as vacinas.
A desinformação em plena pandemia da Covid 19 trouxe uma onda danosa, de abalo na confiança das vacinas e perda de mais de 700 mil vidas. “No país do Zé Gotinha, no país do SUS, no país da vacinação, quiseram instalar o medo mas felizmente, com o retorno do presidente Lula, conseguimos superar essa situação. Estamos num momento de superação, transformação e avanços”, ressaltou Nísia, ao relatar que o cinquentenário Programa Nacional de Imunizações foi responsável pela erradicação de várias doenças, entre elas a poliomielite, cujo programa foi destruído no governo anterior.
Ela lembrou que após a tentativa frustrada de golpe de 8 de janeiro de 2023, o presidente anunciou o Movimento Nacional pela Vacinação, que não foi um ato isolado de governo, mas uma ação nacional com o objetivo de unir o país em amplo pacto pela valorização da ciência e incentivo à vacinação. “Entendemos que não é do gabinete do Ministério da Saúde em Brasília que a política pública pode ser realizada. Contamos com todas as nossas secretarias e com as pessoas na ponta e com as agências de todo o Brasil nesse processo”, assinalou.
Volta vitoriosa do Zé Gotinha
O presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e diretor de Saúde da Confederação Nacional das Associações de Moradores (Conam); Fernando Pigatto, também homenageado, citou a importância dos conselhos estaduais e municipais de saúde e relembrou os “momentos terríveis” da história recente do país com o negacionismo que partiu do ex-presidente.
“Não foi pouca coisa o que enfrentamos, mas nós enfrentamos, resistimos, criamos campanhas, mobilizamos a sociedade, buscamos a conscientização das pessoas contra o poder instituído da República. Nós vencemos, nós mudamos a página da história, nós fizemos o Zé Gotinha voltar, o Brasil voltou, mas ainda precisamos da responsabilização de quem cometeu crimes durante a pandemia. Viva ciência, viva vacina, viva a vida, viva a democracia, viva o SUS e viva o povo brasileiro”, finalizou.
Monica Levi, presidente da Sociedade Brasileira de Imunização, uma das condecoradas com a medalha, destacou o trabalho da instituição, que “atua incansavelmente em prol das imunizações. “Fazer parte dessa história é um privilégio. Recebo a medalha com emoção, é muito gratificante receber esse reconhecimento”, disse.
A estudante Isadora Montenegro, aluna do Centro de Ensino Fundamental de Brasília, foi convidada a falar na solenidade e leu a redação que fez na escola. “As vacinas são uma ferramenta fundamental para a promoção da saúde pública contribuindo assim para uma vida mais saudável e longa. Vacinar é um sinal de amor a vida, amor ao próximo e à humanidade”, escreveu.
História da medalha
Criada em 1970, a medalha de mérito Oswaldo Cruz é destinada a reconhecer pessoas ou instituições que, no campo das atividades científicas, educacionais, culturais e administrativas relacionadas com a medicina, a higiene e a saúde pública em geral, tenham se distinguido de forma notável ou tenham contribuído para o bem-estar físico e mental da coletividade brasileira.
A medalha é batizada com o nome de Oswaldo Cruz, personagem fundamental na história da saúde pública brasileira, nascido em 5 de agosto de 1872. O trabalho do sanitarista serviu como base para a implementação do Plano Nacional de Imunização (PNI), além da luta na erradicação da febre amarela, peste bubônica e varíola. Em 1907, Cruz ganhou reconhecimento internacional quando recebeu a medalha de ouro no 14º Congresso Internacional de Higiene e Demografia de Berlim, na Alemanha, pelo seu trabalho de saneamento no Rio de Janeiro.
Todos os homenageados receberam a categoria ouro da honraria. São eles:
Aparecida dos Santos Bezerra, enfermeira com atuação na saúde indígena e vacinadora no Polo Base Baía da Traição, Paraíba; Atila Iamarino, biólogo, doutor em microbiologia e pesquisador brasileiro; Cristiana Maria Toscano Soares, médica, vice-chefe do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Goiás (UFG) e membro do Comitê Crise Covid-19 da UFG; Daiane Garcia dos Santos, ginasta e embaixadora do Movimento Nacional pela Vacinação do Ministério da Saúde; Dorinaldo Barbosa Malafaia, deputado federal e coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Vacina da Câmara dos Deputados; Esper Georges Kallás, diretor do Instituto Butantan; Fabio Baccheretti Vitor, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde – Conass e Secretário Estadual de Saúde de Minas Gerais; Fernando Zasso Pigatto, presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e diretor de Saúde da Confederação Nacional das Associações de Moradores (Conam); Francisco de Assis De Oliveira Costa, deputado federal e presidente da Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados; Hisham Mohamad Hamida, presidente do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) e secretário Municipal de Saúde de Pirenópolis (GO); Humberto Sérgio Costa Lima, senador da República e presidente da Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal; Ivan Baron, pedagogo, influenciador e ativista anticapacitista potiguar; Jayme Martins de Oliveira Neto, juiz titular do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) e membro da Comissão de Saúde do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP); José Cassio de Moraes, médico e professor titular da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; Luiza Helena Trajano Inácio Rodrigues, empresária; Margareth Maria Pretti Dalcolmo, pesquisadora e membro da Academia Nacional de Medicina (ANM); Maria da Graça Xuxa Meneghel, atriz, apresentadora, cantora, empresária e embaixadora do Movimento Nacional pela Vacinação do Ministério da Saúde; Mario Santos Moreira, presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); Meiruze Sousa Freitas, farmacêutica e diretora da Segunda Diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa); Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) Rosângela Lula da Silva, primeira-dama do Brasil; Rosileia Maria de Souza, presidente da Associação do Quilombo Lagoinha, no município de Gentio do Ouro, Bahia; e Sirlene de Fátima Pereira, enfermeira em atuação no Programa Nacional de Imunizações da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde.
Agência de Notícias Das Favelas (ANF);
Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco);
Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn);
Confederação Nacional dos Agentes Comunitários de Saúde (Conacs);
Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef);
Instituto Todos pela Saúde (ITpS);
Organização Pan-Americana da Saúde (Opas);
Rotary Clubs;
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP);
Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)