Ricardo Stuckert

“Não tenho relação com Trump”, disse Lula à BBC
Em entrevista à BBC News Brasil, concedida nesta quarta-feira (17/9), o presidente Lula abordou temas centrais da agenda nacional e internacional. Falou sobre petróleo na Amazônia, reafirmou a soberania brasileira na transição energética, condenou a PEC da blindagem, rejeitou qualquer anistia aos golpistas de 8 de janeiro e rebateu Donald Trump após as tarifas impostas ao Brasil. Lula também destacou o papel do Brasil na defesa da democracia e seu esforço para recolocar o país como voz respeitada no mundo.
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Transição energética
Questionado sobre a exploração de petróleo na Margem Equatorial, Lula lançou um questionamento: “Eu quero saber qual é o país do planeta que está preparado para ter uma transição energética capaz de abdicar do combustível fóssil”. Segundo ele, nenhum Estado pode abrir mão do petróleo de forma imediata.
O presidente reforçou que o Brasil já tem quase 90% da matriz elétrica limpa e está realizando “a maior revolução na transição energética que algum país está fazendo”. Defendeu que a exploração de novas reservas pode ajudar a financiar uma transição justa, segura e sustentável. “Se nós tivermos um problema, nós seremos responsáveis para cuidar desse problema”, afirmou, lembrando a experiência e a tecnologia da Petrobras em águas profundas.
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COP30 na Amazônia
Sobre a realização da COP30, Lula lembrou que a COP será sediada em Belém porque deseja que o mundo “ao invés de falar sobre a Amazônia, conheça a Amazônia”. Ele criticou a ideia de encontros do gênero realizados em cidades distantes da floresta, como Paris ou Dubai, e reafirmou que o Brasil entregará a melhor conferência climática já realizada.
Segundo o presidente, a presença de líderes mundiais no Pará permitirá que vejam de perto tanto os desafios quanto o potencial da região. “Eu quero que as pessoas que estão preocupadas com as florestas venham conhecer a floresta”, reforçou.
PEC da blindagem e anistia
Lula também falou sobre temas da política nacional. Em relação à PEC da blindagem, que altera regras de foro privilegiado e julgamentos no Supremo, o presidente defendeu que qualquer mudança deve fortalecer a democracia e não abrir brechas para impunidade. E afirmou que, “se fosse deputado, votaria contra”.
O presidente foi ainda mais duro ao tratar da possibilidade de anistia para os condenados pelos atos de 8 de janeiro. Rejeitou com firmeza qualquer sinal de perdão e defendeu que quem atentou contra a democracia deve responder na justiça. “A nossa democracia e a nossa soberania não estão na mesa de negociação. Ela é nossa, ela é do povo brasileiro”, afirmou.
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Relação com Trump e tarifas
A entrevista também tratou da relação com os Estados Unidos após o tarifaço de 50% imposto por Donald Trump a produtos brasileiros. “Não tenho nenhuma relação com Trump […] Ele nunca quis conversar”, disse. “O povo americano pagará pelos erros que o presidente Trump está cometendo em sua relação com o Brasil”.
Apesar da crítica, Lula mostrou disposição ao diálogo. “Se eu encontrar com Trump, vou estender a mão para cumprimentá-lo, pois sou civilizado. Eu converso com todo mundo”, enfatizou. E destacou que não se trata de relações pessoais, mas de Estado. “Ele pode ter uma simpatia pelo Bolsonaro, mas eu sou o presidente, ele tem que negociar com o Brasil”.
O presidente deixou claro que não aceita pressões que coloquem em risco a soberania brasileira. “Se é do ponto de vista comercial, tem negociação, se é do ponto de vista econômico, tem negociação, tanto do ponto de vista de tributação, tem negociação. O que não tem negociação é a questão da soberania nacional”.
Por fim, lembrou que o Brasil mantém interlocução permanente com países europeus, asiáticos e latino-americanos, reforçando laços históricos e abrindo novas portas para exportações. Citou ainda o bom diálogo que mantém com a China e a Rússia, reforçando a importância de uma política externa baseada no respeito mútuo e no equilíbrio.