Em entrevista à rádio Metrópole, de Salvador, nesta quinta-feira (26), o ex-presidente Lula disse ter consciência de que parte da imprensa não quer que ele seja candidato em 2022 e insiste em utilizar o tema da corrupção para atacar sua imagem e a do PT. No entanto, ele disse não temer o debate sobre o tema e acrescentou que se sente leve por ter provado na Justiça sua inocência.
“Eu me sinto leve. Estou com a alma limpa porque consegui provar a falcatrua montada contra mim pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, pelos procuradores da Suíça e por Dallagnol, Moro mais a Polícia Federal”, disse, no mesmo dia em que jornais tentam reviver o tribunal da mídia contra ele, agora que os tribunais de Justiça já o inocentaram.
“Aliás, esse debate (do combate à corrupção feito pela Lava Jato) eu quero fazer na televisão”, acrescentou Lula. “Porque a gente vem denunciando e ninguém publica: o Dieese fez um estudo mostrando que a Lava Jato jogou no desemprego 4,4 milhões de pessoas, fez deixar de serem investidos no país R$ 272 bilhões, quebrou as empresas de construção deste país a serviço de outros países, quebrou e está quebrando a Petrobras, a indústria de óleo e gás, a indústria naval. Em nome do quê? Se você sabe que o presidente de uma empresa é ladrão, você prenda ele, mas deixe o emprego, deixe o trabalhador.”
O ex-presidente alertou que o discurso anticorrupção costuma moldar as disputas eleitorais no Brasil geralmente para eleger candidatos que, mais à frente, se revelam corruptos, como ocorreu com Fernando Collor e Jair Bolsonaro. “Hoje, você tem um presidente que fala em combater a corrupção e não investiga o (Fabrício) Queiroz, não investiga a rachadinha que envolveu os seus filhos, não investiga o seu próprio patrimônio… Então, estou muito à vontade com este debate, desde que a gente utilize isso para politizar a sociedade, para melhorar a capacidade de interpretação do nosso querido povo”, assegurou.
Lula lembrou que foram os governos dele e de Dilma Rousseff que criaram os mecanismos de corrupção com os quais o país conta hoje e que fortaleceram instituições como o Ministério Público, cuja imagem os procuradores da Lava Jato prejudicaram ao agir de maneira comprovadamente política. “Esses procuradores prejudicaram o Brasil, as empresas brasileiras, a imagem do país e a imagem da instituição.”
Democratização da mídia
Na avaliação de Lula, a parte da mídia que volta a atacá-lo agora não quer sua volta porque ele defende a regulamentação do setor. “Tem setores da imprensa que não querem que eu volte a ser candidato porque, se eu voltar, eu vou regular os meios de comunicação. A gente não pode ficar com a regulamentação de 1962, do tempo em que mandávamos carta. Você acha que a internet não precisa de uma regulamentação? Uma regulamentação que não seja censura, mas que permita que a gente conduza a internet mais para o bem do que para o mal?”, indagou.
Outros pontos importantes a serem alcançados são a regionalização e a democratização. “É importante também que você tenha mais programas regionais. Eu fico nervoso porque o povo do Nordeste, da Bahia, do Amapá, de Roraima, do Amazonas é obrigado a ver o que nós, de São Paulo e do Rio, queremos que ele veja. Então é importante termos mais regionalização para termos mais notícia do estado, mais cultura do estado. Temos que ter uma comunicação mais plural. Não pode nove famílias terem todos os meios de comunicação. É preciso democratizar um pouco, repartir”, explicou.
Assista a integra da entrevista aqui.