A fome não é fruto da falta de alimentos, mas da falta de políticas que priorizem a distribuição de renda e o apoio aos pequenos e médios agricultores, afirmou Lula nesta quarta-feira (18), durante a entrevista coletiva (assista aqui a íntegra) que encerrou a passagem dele e de lideranças do Partido dos Trabalhadores pelo Piauí.
“A fome é resultado da falta de dinheiro no bolso das pessoas. E sabemos que a agricultura familiar e a média agricultura são responsáveis por quase 80% dos produtos que vão à mesa de cada um de nós. O que precisamos é olhar a produção de alimentos e melhorar a distribuição de renda. Assim, com dinheiro, as pessoas vão ao supermercado comprar comida. E, se faltar, plantamos mais”, explicou o ex-presidente.
A fórmula foi a base das políticas de inclusão social implementadas por Lula, com a integração de programas como o Bolsa Família, o Programa de Aquisição de Alimentos e a política de elevação do salário mínimo, todos desmontados por Jair Bolsonaro.
O ex-presidente, porém, disse que o país não deve apenas retomar essas iniciativas, mas fortalecer a distribuição de renda com uma reforma tributária justa. “No Brasil, o imposto é cobrado mais sobre o consumo do que sobre o lucro e o patrimônio. E quando você cobra mais sobre o consumo, você dá um privilégio aos mais ricos. Porque, quando vão ao supermercado comprar comida, um cidadão que ganha um salário mínimo e o presidente do Itaú pagam o mesmo imposto. Isso não é justo.”
A importância dos deputados e senadores
Lula alertou que um Congresso conservador acaba impedindo as transformações necessárias e lembrou da importância de, na hora de votar, o eleitor escolher deputados e senadores comprometidos com a aprovação de uma reforma tributária que favoreça o trabalhador e não os mais ricos.
“Do jeito que está o imposto de renda hoje no país, uma pessoa que ganha R$ 7 mil por mês paga mais imposto proporcionalmente do que quem ganha R$ 70 mil. O que nós defendemos? Que as pessoas paguem imposto sobre dividendos, sobre lucros, sobre herança. E é difícil (aprovar essa medida) porque as pessoas que se beneficiam com o sistema atual estão ocupando o Congresso Nacional. Um cara que não paga imposto sobre seu dividendo, sobre seu lucro, não vai votar para pagar. O que precisamos é construir uma maioria para que a gente construa uma reforma tributária progressiva, que seja justa”, defendeu.
Outro alerta do ex-presidente foi o de que o discurso de que é preciso “reduzir a máquina do Estado” é outra fórmula usada pelos mais ricos para manter a injustiça social no país. Com a desculpa de diminuir o custo do Estado, sabotam a educação, a saúde, a Previdência e retiram os direitos dos trabalhadores.
“Os conservadores estão sempre querendo tirar direitos dos trabalhadores. Eles transformam as conquistas dos trabalhadores em ‘custo Brasil’, e aceitamos isso porque virou praxe xingar o governo. (…) Mas você não consegue melhorar a educação se não contratar mais professores e não fizer mais sala de aula. Você não consegue melhorar a saúde se não contratar mais médicos e não fizer mais hospital”, afirmou Lula, que defendeu: “O Estado brasileiro não deve ser nem maior nem menor que o necessário. Ele tem que ser um Estado justo para fazer as coisas acontecerem. E ser justo não só do ponto de vista da arrecadação, mas também da distribuição”.
Lula garantiu que, embora não seja fácil, é possível construir esse país mais justo. “Vai precisar brigar? Vai. Vai ser fácil? Não. Vai precisar política de muito convencimento? Vai. Por isso, nós vamos precisar eleger mais deputados e senadores. Simples assim.”