Em entrevista à rádio CBN Vale do Ribeira, nesta quarta-feira (26), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou que o governo Bolsonaro insista em uma política econômica que não traz empregos e melhores condições de vida para a população.
“Hoje, vivemos no Brasil uma situação em que não há um gesto do governo federal de investimento. Se você analisar o Orçamento que o Bolsonaro aprovou agora, você vai perceber que é o menor investimento do governo em toda a história da República”, ressaltou Lula, mencionando os diversos cortes que Bolsonaro promoveu no Orçamento de 2022 (assista aqui na integra)
Ao agir dessa maneira, explicou o ex-presidente, o atual governo deixa de desempenhar o fundamental papel de impulsionar a economia. “Se o governo não investe, não é indutor do investimento, quem vai investir? Se você fosse empresário e percebesse que o governo não acredita nele mesmo, por que você tiraria seu dinheiro da conta do banco para fazer investimento?”, questionou.
Lula acrescentou que, caso seja candidato e vença as eleições deste ano, trabalhará para que o Estado volte a investir no país, como foi feito em seu governo. “Tenho muito orgulho de, no tempo que o PT governou o Brasil, ter gerado 22 milhões de empregos formais, com carteira de trabalho assinada. E, no período do meu governo, 87% dos acordos firmados pelo movimento sindical tiveram aumentos reais, acima da inflação”, lembrou.
Segundo o ex-presidente, esses números significam crescimento econômico. “Na hora em que você cria mercado, cria consumo, cria poder de compra, esse consumo gera emprego na fábrica, gera emprego no comércio e faz a economia funcionar corretamente, gerando muitos empregos e muitas oportunidades”, disse.
Estamos com a economia atrofiada. O Estado não tem capacidade de investimento. O Estado está permitindo a falência das universidades. O Estado diminui quase a zero o orçamento da Ciência e Tecnologia. O desafio agora é recuperar a economia.
Jair Bolsonaro, infelizmente, leva o Brasil para o caminho oposto. “Nós estamos com a economia atrofiada. O Estado não tem capacidade de investimento, está permitindo a falência das universidades, diminuiu a verba da ciência e tecnologia. (…) Menos investimento é menos emprego, menos emprego é menos salário, menos salário é menos consumo, menos consumo significa empobrecimento do país.”
É possível recuperar o Brasil
Lula sabe do tamanho do desafio que o próximo presidente terá, uma vez que o Brasil está hoje ainda mais desestruturado do que estava em 2003, quando ele chegou à Presidência. Mas ele sabe que é possível recuperar o país, começando pelo desenvolvimento econômico.
Eu digo para todo mundo que o problema não é ganhar as eleições, é ganhar e conseguir consertar o país. Porque o Brasil está muito mais desestruturado do que em 2003; a inflação está maior, o custo de vida, o desemprego e os prejuízos salariais estão muito maiores.
“As instituições estão muito prejudicadas, o Congresso Nacional hoje domina o governo, que não governa; as instituições precisam ser reconquistadas para funcionar de forma harmônica. Daí porque as alianças políticas se fazem necessárias”, analisou.
Lula avisou que, se voltar a ser presidente, é para fazer ainda mais do que fez entre 2003 e 2010. “Se eu voltar a governar este país é para fazer mais do que eu fiz, e isso significa me dedicar muito mais, trabalhar muito mais, conversar muito mais, ter muito mais aliados para que a gente possa ter tranquilidade para fazer as mudanças de que o Brasil necessita e o povo voltar a ter esperança e cidadania neste país.”
Vamos voltar a fazer o Brasil um país de todos, não um país de poucos.
Lula lembrou ainda que um país rico é um país justo. “A economia não cresce enquanto tiver milhares de pessoas dormindo na sarjeta e na rua, a economia não cresce enquanto você tiver 19 milhões de pessoas passando fome. Isso não é modelo de desenvolvimento”, ressaltou.
“Por isso eu tenho dito: a solução é a gente colocar o pobre no orçamento e o rico, no imposto de renda. O rico não paga imposto sobre dividendos. É preciso que o rico compreenda que ele tem que pagar mais imposto que o cara que ganha salário mínimo. E, na minha opinião, o cara que ganha até cinco salários mínimos não deveria pagar imposto de renda. É preciso a gente criar no país a consciência de que as pessoas paguem de forma proporcional àquilo que ganham”, defendeu, lembrando uma de suas propostas em 2018, que, por sinal, Bolsonaro copiou, prometeu fazer, mas nunca cumpriu.