O que dizer a você, presidente, depois desses dias de imensa consternação, depois de tantas palavras que já foram ditas a respeito da sua dor perante a perda de uma mulher como dona Marisa? O que nos resta falar sobre o significado desse momento para você, para sua família e também para o nosso país?
Talvez o melhor que podemos fazer nessa hora é guardar nas nossas mentes a sua imagem e a sua voz durante a comovente cerimônia de despedida de dona Marisa, no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo.
Ali, Lula, você lembrou um pouco da sua grandiosa história política, compartilhou o orgulho que sentia pelo imenso caráter e dignidade da companheira de muitas lutas e, acima de tudo, deixou claro que não se abaterá perante os que querem destruí-lo.
Como vimos em episódios recentes, é impossível não considerar a política na morte de dona Marisa, sobretudo depois das repugnantes manifestações de ódio e intolerância por parte daqueles que representam o que há de pior no ser humano.
Dona Marisa nos deixou num momento muito difícil para o Brasil. Enquanto viveu em sua companhia, Lula, ela sempre foi exemplo de força e coragem. Mesmo diante das adversidades e da covarde e implacável perseguição sofridas, se manteve firme, serena e nunca desistiu de lutar por um país mais justo e fraterno.
Ninguém melhor que você sabe o quanto foi difícil conviver diariamente com os abusos de parte de autoridades, incansáveis em sua infrutífera caçada por provas inexistentes, por algo que fosse além da simplória convicção. Viu de perto também como foi difícil e cruel para uma esposa e mãe enfrentar o medo diário de a qualquer hora, ver o companheiro e até mesmo os filhos presos.
Por isso, Lula, não podemos esquecer de suas palavras. Você disse que dona Marisa morreu triste por causa da grande canalhice de que foi vítima. Disse também que quer viver para testemunhar o pedido de desculpas dos facínoras que levantaram leviandades contra sua mulher. E o mais importante de tudo: deixou claro que vai continuar brigando muito para defender a honra daquela que foi sua companheira por mais de 40 anos. E a sua honra também.
Ah, como foi bom ouvir isso, presidente! Nós precisamos muito que você continue lutando. Precisamos de sua força para lutar ainda mais contra os que querem destruir não só o PT, mas todo o legado de conquistas sociais que seu governo e o de Dilma deixaram para o povo brasileiro.
Como você bem sabe, aqueles que foram rejeitados quatro vezes nas urnas estão se preparando para o golpe final, ou seja, se armando para implantar no país, sem qualquer legitimidade, aquilo que não conseguiram pela via democrática.
Precisamos de sua forte liderança porque não podemos aceitar o fim do direito à aposentadoria, o corte brutal nos valores dos benefícios concedidos aos extremamente pobres e a imposição de sacrifícios ainda maiores às mulheres que exercem dupla jornada de trabalho.
Da mesma forma, Lula, só com a mobilização popular seremos capazes de barrar as questionáveis mudanças nas leis trabalhistas, a entrega do nosso petróleo aos estrangeiros e, se não bastasse, a criminosa doação do patrimônio público a empresas de telecomunicações.
Como é fácil perceber, ainda precisamos muito de seu carisma, de sua história e de sua disposição para a briga. Muitas pessoas se comoveram com o seu drama. Foi uma lição de vida. Mas, querido presidente, pode ter certeza de uma coisa: o seu choro também simbolizou um profundo gesto de esperança. Precisamos de você!