Ao participar, na tarde desta segunda-feira (31), do Seminário Resistência, Travessia e Esperança, Lula disse só ver sentido em ser candidato à Presidência da República se for como parte de um movimento “que quer redemocratizar o país de verdade”.
“Eu tenho de ser o candidato de um movimento que ultrapasse as fronteiras do PT. De um movimento que quer redemocratizar o país de verdade, que quer restabelecer os direitos do povo trabalhador, que quer restabelecer o acesso à educação, à creche, ao ensino universitário, que quer tratar a saúde e a educação como investimento e não como gasto”, afirmou.
Para isso, acrescentou, é importante que o partido e toda sua militância mostrem para a sociedade a importância de um Congresso Nacional comprometido com a justiça social. “Precisamos convencer o povo brasileiro de que não basta eleger o presidente da República, é preciso eleger um Congresso Nacional progressista, com mais senadores e senadoras, mais deputados e deputadas comprometidos com os trabalhadores, para que a gente possa, então, realizar o nosso sonho de ver este país feliz outra vez.”
Segundo Lula, um Congresso não comprometido com os interesses da população representa uma grande ameaça à democracia real, ou seja, aos interesses da população. “Vamos ter de falar muito que, se a sociedade não eleger deputados e senadores comprometidos com os sonhos da classe trabalhadora, a gente corre o risco de eles encherem o nosso galinheiro de raposas e fazerem o Brasil, em vez de melhorar, piorar um pouco mais”, alertou.
O ex-presidente disse também acreditar que este será um ano fundamental para o Partido dos Trabalhadores e o destino do país. “Acredito que 2022 será o ano do PT. Nós fomos massacrados, mas nós conseguimos fazer a travessia. E conseguimos porque temos uma causa, uma motivação, um objetivo. E nosso objetivo não é o PT em si mesmo, mas recuperar a soberania nacional, recuperar a cidadania para que o povo brasileiro volte a ser sujeito da história e não coadjuvante”, discursou.
“Hoje, não temos governo”
Lula disse ser responsabilidade do Partido lutar para reconduzir o país de volta ao caminho de desenvolvimento que acabou interrompido pelo golpe de 2016. “Nós alertamos que, com o golpe na companheira Dilma, as coisas iriam piorar neste país. Mas eles teimaram em mentir para a sociedade brasileira, dizendo que o PT havia quebrado o Brasil. E criaram uma coisa chamada Ponte para o Futuro, que, na verdade, não era uma ponte, era um abismo, pois eles apenas cavaram o buraco e não fizeram a ponte. E nós ficamos sem futuro”, lembrou.
Segundo ele, o golpe deu início a um dos piores momentos da história para a classe trabalhadora no Brasil e a um amplo processo de destruição que atingiu a saúde, a educação, a ciência e tecnologia e muitos outros setores. “O país que nós deixamos numa situação altamente favorável, que tinha acabado com a fome, alcançado o pleno emprego, aumentado o salário mínimo todos os anos, que os trabalhadores negociavam acordos acima da inflação, esse país acabou porque nós não temos governo”, analisou.
Jair Bolsonaro, acrescentou Lula, disse que a velha política não ia mandar, mas subordinou o seu mandato ao Congresso Nacional. “Nunca vimos, desde a proclamação da República, um presidente tão subserviente, tão submisso aos partidos que lhe sustentam. Nem o Orçamento da União ele faz. Quem faz é a Comissão de Orçamento, e o relator tem um poder maior que o ministro da Economia porque decide o que vai ser gasto pelo Executivo e qual é a quantia que vai ser gasta pelo Congresso Nacional. Criaram o orçamento secreto que é tão secreto que não podemos nem saber o nome de quem recebe uma emenda. Não pode ser coisa boa porque, se fosse, não seria secreto.”
Agora, porém, a sociedade brasileira percebeu os efeitos do golpe e não se esqueceu do país que vinha sendo construído pelos governos do PT. Por isso, acredita Lula, é possível dar início ao movimento de democratização real do Brasil, que faça com que as decisões sejam tomadas pela população e atendam os interesses do povo.
“O PT tem muita responsabilidade não apenas de reeleger os deputados e senadores que já têm mandato, mas também eleger muita gente nova, muitas mulheres, muitas mulheres negras, muitos estudantes negros e brancos, eleger muitos deputados e deputadas LGBTs, muitos trabalhadores do movimento social e sindical, para apresentar ao povo a certeza de que nós estamos mudando este país”, pregou Lula.
O seminário
Realizado de forma remota nesta segunda e terça-feira (31 e 1º), o Seminário Resistência, Travessia e Esperança é promovido pelo Partido dos Trabalhadores, pelas bancadas do PT na Câmara e no Senado, pela Fundação Perseu Abramo e pelo Instituto Lula.
Em formato híbrido, ele visa discutir o legado dos governos petistas, analisar a conjuntura e debater propostas para a reconstrução nacional, além de preparar os atores internos e aliados para os embates de 2022 e seus enfrentamentos políticos e eleitorais no Congresso e na sociedade.
Além de deputados e deputadas, senadores e dirigentes nacionais do PT, participam representantes de CUT, CNTE, ANDIFES, CONTAG, MST, MAP, MAB, ABJD, Prerrogativas, Coalizão Negra, FUP, CNE, UNE, UBES, Dieese, NAPPs, Núcleos da Bancada, Assessoria Técnica e Comunicação, Unicopas.