O ex-presidente contesta aprovação de medidas de socorro ao sistema financeiro e restrições impostas aos trabalhadores.
Em seu primeiro discurso após o fim do tratamento do câncer, o ex-presidente Lula criticou a condução da crise financeira mundial, que atinge em especial os EUA e a comunidade europeia, por parte dos países desenvolvidos. Segundo ele, a fórmula adotada é sempre a mesma – socorro aos bancos e restrições aos trabalhadores.
“Uma lógica que pode ser resumida assim: ao sistema financeiro, todo o apoio para que não sofra com a crise; aos trabalhadores, aos aposentados, aos mais frágeis, aos países mais pobres, nenhum socorro”, destacou Lula durante o seminário “Investindo na África: Oportunidades, Desafios e Instrumentos para a Cooperação Econômica”, que faz parte das comemorações dos 60 anos do BNDES e que reuniu ministros, empresários, diplomatas e dirigentes do Banco Africano de Desenvolvimento e do Banco Mundial.
Do início da crise em 2008 até hoje, o FMI e os bancos centrais já injetaram na economia para salvar principalmente as instituições financeiras mais de U$ 8 trilhões e o resultado é justamente o que o ex-presidente Lula disse: os governos anunciam cortes de salários, de benefícios sociais para os trabalhadores e oferece crédito para os bancos. Mesmo assim, a taxa de desemprego é crescente e alarmante – 19,5 milhões de desempregados na zona do euro.
Para piorar este cenário, os países desenvolvidos, entre os cortes anunciados, também reduziram os valores de ajuda humanitária destinados às nações que sofrem com a fome e a pobreza no continente africano.
Lula contestou as chamadas – “medidas de austeridade”- aplicadas na zona do euro, que impõe severos prejuízos aos trabalhadores e, por outro lado, aprovam pacotes e injeções de recursos para o sistema financeiro, “justamente nos setores responsáveis pela ciranda especulativa que provocou a crise que estamos vivendo”. “Isso quer dizer, corte dos investimentos públicos, diminuição dos salários, demissões, corte de benefícios dos trabalhadores, aumento da idade mínima para a aposentadoria. Pedem austeridade aos povos, aos trabalhadores e aos governos dos países mais frágeis economicamente”, lamentou.
“Há algo de errado, de muito errado, nesse caminho”, disse Lula, quando lembrou que em 2009, quando o mundo ainda tentava se recuperar da crise do ano anterior, os países do G-20 fecharam um acordo sobre um conjunto de medidas para reforçar a regulação dos mercados financeiros, mas nada foi feito. “Olho para a evolução da crise e constato com tristeza que muitos governantes nos países ricos continuam movidos pela mesma lógica que produziu a crise de 2008 e ainda não foi resolvida”, completou.
Em seu discurso, Lula ressaltou a importância da parceria entre o Brasil e a África e disse que ela deve se dar não no sentido de imposição de modelos e sim no de construção conjunta que proporcione como resultado o desenvolvimento econômico e social do continente africano. “Não queremos hegemonia, queremos parceria”, disse ele.
Segundo Lula, os africanos elaboraram um programa inédito que tem como lema “Interligar, Integrar e Transformar o continente”, condições necessárias para intensificar o comércio entre os países africanos. “A União Africana mostra a seriedade daqueles que, diante da crise, não se desesperam. Ela põe medidas para incentivar investimentos, aumentar o consumo interno e criar mais empregos”, disse ele.
“A União Africana está certa: o momento é de ousadia e não de passividade. A hora é de união e não de divisão. O tempo é de solidariedade entre nações, não de opressão dos mais fortes sobre os mais fracos”, acrescentou.
Foto: Instituto Cidadania