Não há saída para a crise atual sem que o Estado assuma seu papel e aumente os investimentos públicos. É o que diz o ex-presidente Lula, que na quarta-feira (10) falou aos brasileiros pela primeira vez após todas as condenações contra ele serem anuladas. “Se o Estado não confia na sua política e não investe, porque o empresário haveria de investir? Porque não há possibilidade de investimento se não houver demanda. E para ter demanda, tem que ter emprego”, disse.
Por isso, neste momento, explicou, o PT defende um auxílio emergencial de R$ 600 para a população. “Por que vocês acham que o PT está brigando por um salário emergencial de R$ 600? Não é porque a gente acha que o Estado tem que pagar R$ 600 a vida inteira. É porque o Estado só pode deixar de pagar quando estiver gerando emprego, e as pessoas estiverem obtendo renda às custas do seu trabalho e, aí, não precisarem do salário emergencial. Mas enquanto o governo não cuida de emprego, não cuida de salário, não cuida de renda, você tem que ter um salário emergencial para que as pessoas não morram de fome.”
A lógica, acrescentou, é fazer a economia se mover. “Se a mulher tiver dinheiro, ela vai no supermercado, ela vai na feira, ela vai comprar um caderno novo, ela vai comprar um sapato, ela vai comprar uma camisa, e tudo começa a funcionar. Se ela não tem, ela fica em casa prostrada, na frente de um fogão, esperando.”
País sem governo
O Brasil, porém, enfrenta a gravíssima crise da Covid-19 sem um governo que cumpra seu papel. “Este país está totalmente desordenado e desagregado porque não tem governo. Eu vou repetir: este país não tem governo. Este país não cuida da economia, do emprego, do salário, da saúde, do meio ambiente, da educação, do jovem, da meninada da periferia.”
Enquanto o ministro Paulo Guedes só fala em vender o patrimônio público, Jair Bolsonaro se recusa a conversar com trabalhadores e empresários. “Para ser presidente, é preciso ouvir as forças sindicais, os empresários. O Bolsonaro não junta ninguém. Ele junta os milicianos e mostra a cara na saída do Palácio da Alvorada para dizer ‘vai ter mais arma’. O povo não está precisando de arma. O povo está precisando de emprego, de carteira profissional, de salário. O Estado precisa estar presente na periferia deste país, com educação, com cultura, com saúde, com políticas de assistência social. É esse o papel de um presidente da República”, argumentou.
A atual política econômica, ressaltou, é a principal culpada da difícil situação em que a população se encontra. “Como pode o gás de cozinha estar R$ 105? Como pode a cebola aumentar 60%? Como pode a luz elétrica aumentar tanto? Como é que pode a gasolina? Não é possível permitir que o preço do combustível brasileiro tenha que seguir o preço internacional se nós não somos importadores de petróleo. O Brasil é exportador. Se nós produzimos a matéria-prima aqui… Não tem lógica”, mostrou.
“Este país não tem governo”, voltou a dizer. “Este país não tem ministro da Saúde. Este país não tem ministro da Economia. Este país tem um fanfarrão como presidente, que, por não saber de nada, diz ‘é tudo por conta do Guedes’… Enquanto isso, vocês sabem, o país está empobrecendo. O PIB caiu, a massa salarial caiu, o comércio varejista caiu, a produção de comida das pessoas está ficando insustentável e o presidente não se preocupa com isso”, alertou.