Lula tem o papel de restabelecer o diálogo na política, acredita Viana

Jorge Viana destaca a experiência do ex-presidente para restabelecer as pontes entre o PT, o governo e a base aliadaO senador Jorge Viana (PT-AC) acredita que é positivo para a política a agenda de encontros que líderes políticos terão com o ex-presidente Lula nesta ou na próxima semana, como forma de retomar o diálogo entre o PT, o governo e os partidos da base aliada e com a oposição. Viana foi categórico ao afirmar que é necessário acabar com o clima da eleição de 2014 porque o País vive um momento em que empresas citadas na Operação Lava Jato sinalizam com demissões. Para ele, é preciso não misturar as coisas. É preciso combater a corrupção, sim, e disso ninguém tem dúvida, mas sem abusos que sejam prejudiciais aos trabalhadores sob esse argumento, de combate à corrupção. E nesta terça-feira (24), quando o Senado retoma os debates sobre a reforma política, Viana faz um alerta: “nós não vamos fazer a reforma se o clima for de enfrentamento e, se não fizermos a reforma política, toda a eleição ficará sob suspeição”, diz ele. Viana concedeu ontem entrevista para a repórter Christina Lemos, da TV Record, por mais de seis minutos, embora no jornal apenas dez segundos tenham sido veiculados. Confira a íntegra da entrevista:

 

Christina Lemos – TV Record  – O ex-presidente Lula tem um papel importante como homem público e ,neste momento, ele chega para exercer e reorganizar a base?

Jorge Viana – Eu acho que até mesmo pessoas importantes da oposição, reconhecem a importância do presidente Lula. Não podemos desprezar a contribuição de uma figura experiente como ele; que tem uma história de vida como ele tem; que fez um governo como ele fez; que mudou o Brasil. O Brasil é muito melhor hoje graças ao presidente Lula. Agora, nós estamos enfrentando uma crise que tem vínculo um pouco com a crise econômica que o mundo enfrenta e também problemas estruturais nossos que vão da corrupção, ou abuso de conquistas sociais, mas isso não pode ser trabalhado como se fosse uma nova eleição. E acho que o presidente Lula tem o papel de nos ajudar, de nos aconselhar; de estabelecer um diálogo que não pode faltar na política. Quando há uma crise muito grande no meio da rua às vezes é preciso fazer um túnel, um viaduto, para poder enfrentar aquilo. O presidente Lula é essa possibilidade; ele é um homem experiente, já enfrentou muitas batalhas, perdeu muitas e ganhou muitas. Mais do que nunca acho que tanto nosso governo, nosso partido, a política está precisando do presidente Lula. Acho que esse sim é um papel que cabe a um ex-presidente. Ex-presidente não só para ficar cobrando, botando defeito, é para ajudar na hora que o País precisa. Acho que o Brasil precisa de todos nós.

Christina Lemos – O presidente Lula vem com um discurso de conciliação, de reconstrução de pontes, de aliados, de reorganização, de busca da governabilidade. Como o senhor imagina que virá o discurso do ex-presidente Lula?

Jorge Viana – Dialogar mais e conversar mais, seja movimento social com o governo, seja movimento social com o Parlamento. Nós precisamos ter mais conversas entre os aliados da base do governo. Óbvio que todos nós cobramos do governo que estenda um pouco mais a possibilidade desse diálogo, mas a chegada do presidente Lula vem no sentido de fazer acontecer esse diálogo tão importante, do PT com o PMDB, do PMDB com outros partidos da base, para que a gente possa realmente começar esse ano que parece que teima em não começar, e a gente deixar para trás o ano da eleição, de 2014, que teima em não terminar. Eu, sinceramente, acho que tem que ter muita lucidez tanto da oposição e de quem está no governo para que a gente não tente estender o clima da eleição do ano passado para este ano. Isso é muito ruim para o País. Nós estamos vivendo ameaça de demissão; nós estamos vendo risco de empresas. Não vamos misturar as coisas. Combater a corrupção, sim, sem abusos, mas com muita força. Isso é o que todos nós esperamos. Não é de hoje que o Brasil enfrenta esse problema, mas a gente não pode danificar o País principalmente os trabalhadores e usando o argumento do combate à corrupção. Espero que a oposição não tente fazer mau uso de uma situação como essa. A política, quando colocada sob suspeição, também atinge a oposição. Então, não tem ninguém que não tenha de prestar contas. É bom para que o País possa enfrentar essa situação e ter uma fase melhor e de prosperidade, sem que ninguém tente tirar proveito, sacrificando os trabalhadores brasileiros.

Christina Lemos – Está na hora do camisa 10 entrar em campo?

Jorge Viana – Acho que está mais do que na hora de todas as pessoas experientes – pode ser o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ou o presidente Lula – nos ajudarem a fazer com que o Brasil faça o que tem que ser feito, promova as modificações. Nós não vamos fazer a reforma política se o clima for de enfrentamento. Se nós não fizermos a reforma política toda a eleição ficará sob suspeição. O abuso do poder econômico vai estar presente nas eleições e aí o mandato de senador, de vereador, deputado ou de governador passa a ser um problema. Todo mundo que ocupa essas funções tão nobres na democracia têm que se explicar porque vive sob suspeição. Eu penso que para fazer a reforma política é necessário ter um diálogo com todos, inclusive  com aqueles que já deram suas contribuições, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o presidente Lula, que é a maior liderança política de nosso País.

Christina Lemos – Nós poderemos esperar a presença do presidente Lula em Brasília. Ele vem para o campo mesmo?

Jorge Viana – Ele está procurando conciliar sua agenda para que ao longo dessa semana ou da outra possa conversar com as lideranças da base aliada, lideranças do PMDB e também com a nossa bancada do PT. É uma questão de acertar as datas, pode ser ainda antes do final de semana ou início da outra.

Christima Lemos – É possível que o presidente Lula acene para partidos que deixaram a base, como o PSB. O senhor acha que o presidente pode tentar ampliar o apoio?

Jorge Viana – O presidente Lula sempre entendeu que não há como governar o País – e isso ele fez o PT enxergar – sem ter uma ampla política de aliança. Você pode até ganhar a eleição, mas não governa. O fundamental é a gente recompor essa base de alianças em cima de propostas e programas e o PSB é um partido que nos ajudou a fazer mudanças no País. Caso esse diálogo se restabeleça, pensando no País, eu acho que é muito bom independentemente do projeto do PSB se oferecer ao povo brasileiro como alternativa de governo. Acho que é possível conciliar os interesses até de disputar o País em 2018 ou outro período, com a necessidade de termos um entendimento agora para garantir aquilo que foi conquistado pelo povo se mantenha e a gente crie condições para ter novas propostas.

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