Ao se despedir do Rio Grande do Norte, antes de partir para a Bahia, nesta quarta-feira (25), Lula fez uma análise da destruição causada por Jair Bolsonaro e avaliou que, embora difícil, a reconstrução do Brasil é possível, sendo um trabalho de todos. “Todos nós precisamos de um pouco de respeito e carinho. Todos nós precisamos ter um governo civilizado, humanista, democrático e que pense com o coração, que não governe pensando apenas no capital, mas também no povo trabalhador. Esse país nós já construímos uma vez”, afirmou, em entrevista coletiva à imprensa (assista à íntegra aqui).
Lula apontou o que considera os principais aspectos da grave crise gerada pelo atual governo, começando pela gestão criminosa da pandemia e indo até o desmonte do Estado, o que retira as chances de o país reagir ao cenário atual. “Ao contrário do que fizeram os governadores, o governo federal continua fazendo bravata com a pandemia. O presidente continua não usando máscara, incentivando aglomeração, desacreditando a ciência e tripudiando das pessoas”, disse.
Além da pandemia, Lula apontou como graves o desemprego, que atinge 15 milhões de pessoas – sem contar os informais e desalentados –, e a fome, que afeta 19 milhões de brasileiras e brasileiros. “Nós tínhamos acabado com a fome, o que foi reconhecido pela ONU em 2012. A fome voltou e ela está aí mais grave do que nunca em todos os estados da Federação. Não é possível admitir que o terceiro produtor de alimentos do planeta, o maior exportador de proteína animal do mundo, presencie uma mulher indo a um açougue pegar um osso para tentar fazer uma mistura para sua família comer”, indignou-se Lula.
Para o ex-presidente, a situação é agravada ainda mais por um crise política, com Jair Bolsonaro refém justamente da velha política que ele jurou combater. “O presidente dizia que ele era o novo e que ia acabar com a velha política. Pois ele caiu na ratoeira da velha política e está mais dependente do que qualquer presidente jamais esteve, com a criação, inclusive, de mecanismo de compra de voto de deputado que nunca teve neste país. Ele aprovou um orçamento secreto para poder conquistar o voto dos deputados, nós sabemos que o presidente da Câmara tem um orçamento pessoal de R$ 3 bilhões, que tem um orçamento do relator de R$ 20 bilhões. Ele está mais enroscado na velha política do que no tempo em que as pessoas diziam que o Brasil era o país do ‘é dando que se recebe’. E ele está dando e o povo continua não recebendo”, avaliou Lula.
Somando-se a tudo isso há uma crise na educação, na ciência e tecnologia e na cultura sem precedentes, piorada por um governo que se recusa a conversar com todos os setores da sociedade e só desmonta o Estado brasileiro, que, em momentos de crise é fundamental para induzir, por meio de investimentos, a retomada do crescimento. Por isso, Lula considera criminosos o desmonte e a venda da Petrobras, empresa que investiu no desenvolvimento do Nordeste e de todo o país.
“É por isso que tenho viajado e pretendo até o fim do ano visitar todos os estados brasileiros, conversar com todos os partidos que for possível. Não tem viés ideológico nas minhas conversas porque não estou conversando sobre eleições, mas sobre o país, sobre como a gente vai recuperar este país. Porque vamos ter que reconstruir o Brasil. A tarefa de ganhar as eleições é de um partido, até dois ou três partidos, mas a tarefa de reconstruir o país é de todos nós”, concluiu Lula.
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